Cinema Mudo – Parte 1

Cinema quarta-feira, 25 de abril de 2012

Depois ver O Artista, resolvi rever os maiores clássicos do cinema mudo, feitos nas décadas de 1910, 1920, 1930. Nos primeiros tempos do cinema mudo, quando surgiram preciosidades que nunca mais se repetiriam na tela grande novamente, artistas que nunca mais terão iguais, grandes mestres da sétima arte, surgidos numa época onde recursos técnicos não existiam. Georges Méliès, Serguei Eisenstein, Erich von Stroheim, Cecil B. DeMille, Harold Lloyd, Buster Keaton, Charlie Chaplin, F. W. Murnau, Fritz Lang e Luís Buñuel fizeram o cinema ser considerado o que é hoje: Uma forma de arte. Nessa primeira parte, vou falar um pouco dos grandes comediantes do cinema mudo.

Harold Lloyd

Para muitos, uma cópia de Charlie Chaplin. Para poucos, um dos três grandes pilares da comédia no cinema mudo. Para mim, uma mistura de Chaplin e Keaton. Seu grande personagem, o jovem franzino, de óculos, chapéu de palha e terno, não necessariamente tímido, mas sempre desastrado, combinava uma grande densidade psicológica, assim como Chaplin, com uma inacreditável destreza física, como Keaton. Na verdade, ele fazia os dois estilos, só que muito mal, como os patos, que voam, nadam e correm. E como eu, que escrevo aqui no Bacon sobre cinema, música e literatura (E muito mal). Nunca vi tanta graça assim em seus filmes, vejo-o mais como um pioneiro no cinema de ação, pois seus filmes sempre eram recheados de adrenalina. Dos 58 minutos de For Heaven’s Sake, 30 são um corre-corre desenfreado, com Harold atraindo para si todos os bandidos e policiais da cidade. Ficou bastante famosa sua maior cena, no filme Safety Last, veja abaixo:

Buster Keaton

Buster Keaton era mais conhecido como o palhaço que não ri. Ele achava que ator que ria não tinha graça nenhuma para o público (Entendeu agora, Jim Carrey?). Reza a lenda que Houdini batizou Joseph Frank Keaton de “Buster” (Espoleta), quando o viu cair rolando propositalmente por um lance de escadas, aos 2 anos. Houdini exclamou: “Mas isso é um espoleta!“. A agilidade nasceu quando apresentava-se como os “The three Keatons” (O pequeno Buster, seu pai e sua mãe). Depois de estrear em teatros, Buster iniciou sua carreira no cinema. Após realizar a primeira cena de sua vida, Buster pediu ao estúdio que o deixassem levar uma câmera para casa. Lá desmontou todo o equipamento, remontou e aprendeu todo o processo sozinho. Ele coreografava suas magníficas cenas milimetricamente, escrevia-as, dirigia e criava até mesmo os cenários. Seu maior clássico, The General (Sobre uma locomotiva do século 19) é considerado um dos maiores filmes de todos os tempos. Por causa disso, muitos o consideram melhor que Chaplin. Aliás, Chaplin x Keaton sempre me lembra Beatles x Beach Boys. A mim, resta apenas dizer que Chaplin sobreviveu ao cinema mudo, Keaton não. Morreu na decadência, em 1966, sem nunca mais ter feito nenhum outro filme de alguma expressão. Uma pena. Aqui vai um video com os melhores momentos de vários filmes deste mestre:

Charlie Chaplin

O rei do cinema mudo, o primeiro superstar do cinema, dirigia, escrevia, fazia a trilha sonora, editava e atuava. Se pudesse, Chaplin estaria em todos os lugares nos créditos de seus filmes. Na verdade, ele não conseguia facilmente confiar em ninguém. Era realmente polivalente, pois seus filmes superam em muito os de seus rivais em qualidade técnica e estética, sendo esse seu grande diferencial. Na verdade, apenas Buster Keaton conseguiu ser tão bom, as vezes sendo até melhor. Mas veio o cinema falado e Chaplin mostrou que podia contar suas histórias mesmo sem falas, competindo e vencendo os filmes falados por um bom tempo. E diferentemente de Keaton, Chaplin se saiu realmente muito bem quando resolveu falar em seus filmes. O Grande Ditador é um dos melhores filmes já feitos. E Monsieur Verdun, que chocou os fãs do velho Carlitos, que não esperavam ver Chaplin num papel denso e sério. Um conselho: Se você é fã de Chaplin e nunca viu esse filme, não tem moral pra se considerar fã do cara. E claro, sem falar do Luzes da Ribalta, único filme com uma cena com os dois gênios juntos:

Chaplin ganhou dois Oscars durante toda a carreira. Um em 1929, na 1ª entrega de prêmios da Academia. Originalmente ele foi indicado ao Oscar de Melhor Ator e de Melhor Diretor de um Filme de Comédia pelo seu filme O Circo, mas seu nome foi retirado quando a Academia decidiu dar-lhe um prêmio especial “pela versatilidade e genialidade em atuar, escrever, dirigir e produzir O Circo“. Essa estatueta virou peso para a porta não bater na casa de Chaplin, tamanho desêm ele nutria pela Academia. O 2º Oscar honorário, Chaplin recebeu em 1972, pelo “efeito incalculável que ele teve em tornar os filmes a forma de arte deste século“. Ele saiu de seu exílio para receber esse prêmio, e recebeu a mais longa ovação em pé da história do Oscar, com uma duração total de dez minutos. Ainda recebeu um outro Oscar pela trilha sonora de Monsieur Verdun, com vinte anos de atraso, pela excelente trilha sonora.

E aqui chego ao final. Semana que vem, o Yuri vai meter bronca na segunda parte, contando tudo sobre o cinema mudo que realmente importa. Não percam!

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