Sobre a volta de Community
Vocês tão sabendo que Community parou na metade da terceira temporada, correu o risco de ser cancelada e voltou mês passado, certo? Não, o tempo me ensinou a parar de superestimar leitores. Então, Community é uma série de humor bem bacana que se passa numa faculdade comunitária e etc. Para saber mais, já tem um texto sobre a primeira temporada aqui no bacon (Só desconsiderem a parte que fala sobre o Jack Black). Mas enfim, pouco antes da interrupção, a qualidade dos episódios tinha caído um pouco, apesar de eu ter gostado do clima sombrio que pairava sobre o seriado. Mas depois do retorno, ele voltou a apostar nas suas maiores qualidades. E a ensinar uma lição a todos os programas do mesmo gênero na TV.
Pra começar, a série é legal mesmo tendo um formato meio sitcom, o que já é uma grande coisa (E não, não tem risadas gravadas). Mas isso só acontece porque ela utiliza esse esquema pra subvertê-lo totalmente. Por exemplo, eu comecei a assistir com um pé atrás, por causa da aparente pobreza dos personagens. Só que no decorrer dos episódios, eles seguem um rumo totalmente inesperado. Tipo Jeff, o protagonista galã sem sentimentos que normalmente deveria começar a pensar nos outros e tudo o mais com o desenvolvimento da série. Mas continua basicamente o mesmo do primeiro episódio. Ou Britta, a garota engajada/ativista, que acaba se revelando uma das personagens mais superficiais. Mas isso ainda parece convencional demais. O velho racista Pierce se transforma numa especie de supervilão e o professor de espanhol, o asiático Señor Chang, vira o segurança mentalmente desequilibrado do campus. Agora sim dá pra ter uma ideia do clima da série.
Mas toda essa vibe meio nonsense só funciona porque nada nunca é levado a sério. Ou melhor, os personagens resignam aos seus papeis, mas sempre estão conscientes do absurdo da situação. Mais ou menos que nem acontece no South Park. Esse equilíbrio permite que um episódio sobre uma batalha entre um forte de cobertores e de almofadas, moldado no formato dos documentários de guerra, funcione perfeitamente. Assim como uma versão de Law & Order envolvendo o caso de um inhame do trabalho de biologia assassinado. E essas paródias quase sempre conseguem ser melhores do que o que as inspirou.
Nesses momentos, dá pra perceber o quão a frente das outras comédias da televisão Community se encontra. Ela consegue usar as fórmulas mais batidas de uma forma diferente, transformando-as em algo original. Tá, as vezes nem tanto. Mas o mais importante, em algo realmente engraçado. E sempre buscando ir além, como quando os próprios clichês da série são explorados propositalmente. É quase como se a série reutilizasse todos esses elementos pra destruir as coisas ruins da TV por dentro (Menos Glee, que é xingado abertamente)… É perfeito.
E o mais legal são as escolhas tomadas pelos roteiristas. A série não tem medo de arriscar. Não que isso faça o espectador rolar de rir o tempo todo. Mas não dá pra deixar de escapar alguns murmúrios envolvendo a palavra “genial” durante um episódio de Halloween com uma epidemia zumbi de verdade, que funciona perfeitamente. Ou um episódio de Natal todo em stopmotion.
Toda essa aleatoriedade parece tirar a identidade da série, mas o que acontece é justamente o contrário (Tipo os doodles do Google, na falta de um comparativo mais próximo). O que me faz continuar vendo a série é justamente não ter ideia do que vai acontecer no próximo episódio. E se importar com os personagens, cujas relações também vão evoluindo. Como num dos últimos episódios, passado totalmente na mente de Abed, o nerd anti-social viciado em cultura pop. Que é o personagem mais fraco, por sinal. Mas se torna justificável, já que a falta de humanidade dele serve pra começar muitas situações impossíveis de outra forma. E ele compensa pelas referências, que, felizmente, nunca ficam em primeiro plano na série.
Então caros leitores, pensem nesse quase cancelamento de Community como uma segunda chance pra começar a assistir o seriado. Mostrem que aprenderam com o erro de Arrested Development. E logo estarão agradecendo por poderem acompanhar uma coisa tão revigorante no computador na televisão. Ou assistam só pela atuação do Chevy Chase mesmo, que eu garanto, é uma das coisas mais legais do nosso tempo.
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