Abril Pro Rock 2012: A crítica
Esperei a poeira baixar um pouco (Na verdade eu procrastinei e atrasei o texto umas duas semanas mesmo, confesso) mas logo de cara vou dizendo que foi o melhor Abril Pro Rock em 10 anos (Considerando que o festival teve 20 edições, isso não quer dizer nada na verdade, ok?).
Primeiro Dia
O APR20 tinha tudo pra começar mal: Sexta feira, primeiro dia da nova turnê de uma das bandas com mais fãs do Brasil. O dia de maior lotação dos 3 de festival. E pra completar, a organização nem pra seguir um horário honesto. Começar um show as 20h de uma sexta-feira é cruel, imagine pra mim que trabalhei naquele dia maravilhoso e ainda tive que pegar um trânsito monstruoso, apenas pra enfrentar uma horda de 15 mil adolescentes em fúria. Depois de quase uma hora na fila, consegui entrar, apenas pra ver que tinha subido ao palco a Banda Mais Bonita da Cidade. Perfeito? Claro, não poderia ser pior. Apesar de tudo, consegui circular pelo Chevrolet Hall e perguntei ao público o que eu tinha perdido. Nada de mais, perdi apenas a banda ganhadora do Bis Pro Rock, Somato. A banda parece que tem um EP bem legal, meus amigos que não ouviram gostaram muito e tals. Perdi também o show do Tibério Azul, mas como sou daqui de Recife, conhecia a banda, sempre muito boa ao vivo, tiveram o azar de terem sido colocados pra tocar num dia tão pop e de atenções tão perdidas quanto aquela sexta tinha. Quanto a Banda Mais Bonita da Cidade, posso dizer que quando eles tocaram Oração eu não consegui mais ignorar a banda. Que música chata, quase fui embora do lugar.
E então, o frenesi: O início da nova tour da banda carioca Los Hermanos. 15 mil pessoas estavam ali só por causa disso (Será porque ali do lado, na mesma noite, subia ao palco do Centro de Convenções Chico Buarque, também com ingressos esgotados?). O maior público da história do evento, superando o grande heroi local Chico Science. Histeria coletiva, problemas no som e a certeza de que desta vez a maior parte do público estava vendo o grupo pelo menos pela segunda vez (Ano passado tinha rolado um outro show inédito dos barbudos). Os arranjos de algumas músicas estavam diferentes, não sei bem se por problema no som embolado ou por conta do grupo realmente. Pelo menos deu pra perceber que a convivência com a Hurtmold está fazendo o Camelo improvisar bem mais no meio das apresentações. Um mega telão mostrava a todos os presentes o distanciamento entre os integrantes da banda e os contínuos erros nas letras e nas entradas de instrumentos e dos vocais, perceptíveis até mesmo aos que não eram fãs. Os problemas no som eram tão evidentes que, após reclamação de algum fã do grupo que estava na grade sobre não ouvir nada, Amarante disse que estava fazendo o que podia e que o mesmo usasse a imaginação e curtisse o momento. Nas duas horas de show tiveram músicas de todos os discos dos caras, inclusive dos discos solos de Amarante e Camelo. Esperei pelo pior (Um cover de Mallu Magalhães) que felizmente não aconteceu.
Segundo Dia
Neste dia, muita gente se fudeu deu mal. Acontece que, paralelo ao APR, estava rolando na proximidades de São Luiz no Sarney do Sul Maranhão o Metal Open Air, ou simplesmente MOA. E a turma da organização do MOA simplesmente não estava pra brincadeira (Ou pelo menos parecia não estar). Tocariam no MOA cerca de 47 bandas, muitas estavam também na lista do APR. Felizmente, quem resolveu ficar em Recife (Ou confiou na organização do APR), não teve do que reclamar. Afinal o APR pelo menos aconteceu. E foi muito melhor que qualquer um poderia esperar. Tenho pena de quem acabou trocando uma noite de festa dos 20 anos do Abril Pro Rock pra se arriscar no MOA.
O primeiro show da noite foi o do Pandemmy. Mas eu entrei durante o show e mal o vi, pois percebi uma movimentação estranha, incomum no festival. Um tablado de bateria cercado por 4 caixas de voz, um amp de guitarra e um pequeno caos, isso tudo no meio da galera. Pois é, ia ter um show no chão, fora do palco principal. Em 2001, teve um show assim, a apresentação dos The Playboys, banda niilista hipster punk clássica de Recife. E o melhor daquele show foi que o show foi as escondidas. Mas dessa vez, foi tudo organizado. O Test tocou o terror! Foi muito bom, mas se tivesse sido em algum dos dois palcos não teria sido tão legal. Após isso, tivemos os conterraneos do Firetomb, seguidos pelo Hellbenders de Goias, o Leptospirose e finalmente, os italianos do Crippled Bastards e o seu grindcore. Uma grande oportunidade de ver de perto uma referencia mundial do grindcore. Naquela noite, a roda que se formou era a perfeita encarnação da expressão “violência em forma de música”.
A melhor coisa nas noites de rock pesado do APR é que não rola quase nenhuma pausa. É acabando um show e começando outro logo em seguida. Sem parar, depois de um massacre num dos palcos, começou o show do Ratos de Porão em outro. Os caras estão comemorando 30 anos de palcos e a organização do Abril acertou em cheio ao chamar os caras pra tocar nos 20 anos do festival. Show do Ratos em Recife é covardia, até o Gordo teve que admitir que a roda punk daqui é a mais violenta do país. Beber até morrer, Agressão/Repressão, Testemunhas do Apocalipse, teve músicas de todas as várias fases do Ratos de Porão. E ainda faltavam duas bandas.
Após uma interminável espera de 10 minutos, começou o show do Brujeria. Durante a pausa, antes do show, fico sabendo que o MOA tinha sido cancelado. Triste. Mas eu estava ali as custas do Bacon e queria mesmo era bater cabeça ao som dos mexicanos. Foi exatamente 1h de brutalidade. Eu sou fã da banda, então pra mim aquele foi o grande momento da noite, talvez de todo o APR. O idioma ajudou e foi um dos show mais comunicativos de todo o APR, com muita interação com o público (Que apesar do idioma ter ajudado, não entendeu porra nenhuma).
Depois do Brujeria, viria ao palco uma lenda do thrash, o Exodus (Ex-banda do eterno guitarrista do Metallica Kirk Hammeth). Apesar de ser um sábado e do o show ter começado num bom horário (Por volta dumas 18h) e talvez principalmente por causa disso, muita gente não se aguentou até a hora da banda principal. Corpos espalhados por todo lado. Vômito. Fim de festa. Parecia uma quarta-feira de cinzas. Os sobreviventes do show tentavam corresponder a instiga dos integrantes do Exodus, mas a roda era pífia. Faltou gás ao público. Confesso que não conhecia direito o Exodus e me impressionei. Se soubesse do que eles eram capazes, teria guardado forças pra assistir o show dos caras. Detonaram o já detonado público. Saindo do show pra beber mais, uma surpresa: Os malucos do Test estavam no estacionamento fazendo um repeteco. Montaram o equipamento com alguma gambiarra e mandaram ver denovo. A polícia tentou melar tudo, alguém teve que correr e buscar uma autorização do festival mas tudo correu bem e o mini-show aconteceu. Eu a essas horas nem vi nada direito, já estava sentado bebendo…
Terceiro Dia
O terceiro e último dia foi o de menor público. Talvez por causa da concorrência (Tinha clássico de futebol, Chico Buarque e Paul MacCartney no mesmo dia). É nisso que dá querer misturar MPB, pop e ritmos africanos. Ainda mais kuduro. Mas por ironia, foi o dia com o som melhor equalizado. As primeiras duas bandas, Bande Dessinee e o duo Strobo, iniciaram muito bem a noite. Shows bem animadinhos e enérgicos, pena que não conhecia direito o trabalho da galera. E nem a maior parte do público conhecia. Já a pernambucana Ska Maria Pastora detonou, misturando ska-jazz com frevo, me fez lembrar dos Skatalites que mandaram muito bem por essas bandas no ano passado, também no domingo. Logo depois, foi a vez do paulista Leo Cavalcanti, que não perdeu aquela oportunidade de fazer um migué e afirmar que adora a música pernambucana. O show pelo menos foi muito bom, me surpreendeu.
Aí veio a atração gringa, os americanos do Nada Surf. Nesse momento eu percebi que domingo é dia de indie aparecer no Abril Pro Rock. O disco The Stars Are Indifferent To Astronomy foi tocado quase que na integra, pra delírio dos “dedicados” fãs da banda, que cantaram errado todas as músicas e erraram também os nomes das mesmas. Não sei no resto do país, mas por aqui não pode aparecer artista internacional (Seja ele indie ou um ex-beatle) que todo mundo baixa a discografia e se esforça pra decorar os nomes dos hits pra ficar na primeira fila fingindo ser fã de primeira hora. Esse povo nunca se enxerga, é simplesmente incrível. Depois do momento indie da noite, tivemos o Mundo Livre S/A, banda que toca no Abril Pro Rock desde a primeira edição. Fizeram o mesmo de sempre (Tem quem goste).
Veio então o melhor momento da noite e que pra mim já poderia ser o grand finale. A orquestra de afrobeat nova iorquina Antibalas deu uma aula de música africana. O (Pouco) público presente se animou e quem apostou seu domingo no APR não se arrependeu. Big Band pra mim é assim, vem e faz um big show, mesmo não tendo um big público. E então mais uma atração “local”, o cantor Otto (Ex Mundo Livre S/A e que também toca desde a primeira edição do APR). Já era meia noite. Pelo menos o cara veio bem animado, usando uma camisa do movimento #OcupeEstelita (MIMIMI local contra a especulação imobiliária), e terminou fazendo o melhor show “nacional” da noite. E talvez boa parte dessa instigação seja responsabilidade do “cidadão instigado” Fernando Catatau, que comandava a banda do Otto. No final do show, o cantor caruaruense Ortinho fez uma incrível participação especial, estragando tudo como sempre.
Fechando o festival, finalmente subiu ao palco o grupo angolano de música eletrônica Buraka Som Sistema. Se tinha pouco público naquela noite, então, aquela altura do campeonato, parecia uma platéia de filme pós-apocalíptico. Quem ficou pôde dançar kuduro conferir o instrumental do grupo. Duas baterias colocadas frente a frente, que tocam da mesma maneira, mas são montadas de forma diferente, foi o que mais me chamou atenção. Muito interessante. Uma das baterias é meio que misturada com partes de uma bateria tradicional e outras de bateria eletrônica. Já a outra é bem tradicional, mas recheada de instrumentos percussivos. No meio, um DJ tocando o terror com uma parafernalha eletrônica dos infernos. Os vocais cagavam tudo. Parece axé. Deviam pensar melhor nisso. As músicas eram muito boas, conseguiram fazer o público se mexer de verdade, mesmo todos estando cansados (Eram quase 3 horas da manhã de segunda feira quando o show acabou, pensem), até eu dancei um pouquinho. Mas quando o vocal começava cortava a onda. E mesmo assim muito melhor que Black Eyed Peas. Se a cerva fosse mais barata, tenho certeza que muitos iriam ficar até amanhecer.
Somados os 3 dias, o APR teve um recorde de público. Bem, não é qualquer festival que completa assim 20 anos e demonstra toda a sua força. Já não é mais o mesmo de antigamente, quando era conhecido por revelar novas bandas. Em tempos como esse, é realmente uma vergonha que a organização do festival peque tanto nesse sentido. Tem muita banda por aí precisando apenas de um empurrãozinho. No mais, #chupaabrafin, #chupaforadoeixo e principalmente #chupacapile. O APR cresceu ainda mais, sendo mais relevante do que a última edição. É torcer pra que tudo dê certo e que vejamos o APR fazendo 21 anos, 22, 23, 30…
Ps: Um agradecimento especial a Astronave produções e ao Rafael Passos, que tirou todas as melhores fotos do APR20.
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