Semana do Evanescence: Os primeiros EPs e demos
Se você tem menos de trinta anos, com certeza já precisou da ajuda da Amy Lee pra sair de alguma fossa. [Nota do editor: Nop. Na verdade ela me deprime mais.] Quem teve sua infância/adolescência no meio da década passada sabe como, de repente, sobretudos e maquiagens carregadas ao sair na rua dez da manhã entraram em cena com o surgimento do Evanescence lá pra 2003. [Nota do editor: Nop. Já tinha muito mais banda que fazia isso antes deles.] Portanto, nada de vergonha. Vamos todos aproveitar que a banda fará uma porrilhada de shows no Brasil em outubro e falar sobre a trajetória desse grupo que surgiu, moldou estilos que nos deixariam morrendo de vergonha cinco anos depois, morreu na mídia e ressurgiu das cinzas.
Nossa história começa na pacata cidadezinha de Little Rock, num acampamento cristão. Tentando escapar das sessões matutinas de penitência e sermões sobre como o sexo é algo amaldiçoado e impuro, nossa jovem de pele alva e cabelos dourados se trancou na saleta do piano. Suas mãos tremiam por conta das chibatas que a freira Maria lhe desferira após pegá-la revelando um pedaço da pele do tornozelo para um garoto, mas isso não a impedira de executar magnificamente I’d Do Anything For love no instrumento.
Do outro lado do campo, havia um jovem que tentava se esgueirar pra fora das aulas de educação física, pois as crianças jogavam queimada gospel (Pedras ao invés de bola) e o pobre coitado que havia sido o escolhido pra ser a mulher adúltera da partida. Por coincidência divina – Afinal, olhem onde estamos – nosso herói ouviu a música. Caminhou até a sala de piano e os dois começaram a conversar.
Como assim, quem eram os dois? Ora, seus energúmenos, Amy Lee e Ben Moody, os dois fundadores do Evanescence. Nunca acompanharam uma revista de fofoca na adolescência? Cruzes.
Enfim, papo vai, papo vem, os dois resolveram tocar juntos. Ambos viviam naquele estereótipo de artista excluído da sociedade e se completaram musicalmente justamente por isso. Só que havia problemas. De início, tudo parecia brincadeira de criança; afinal, como fazer sucesso num lugar onde existiam apenas o folk e o death metal sem fazer parte de nenhum desses extremos?
Apesar da aparente falta de perspectiva, Understanding, o primeiro trabalho dos dois a ser tocado numa rádio, fez um baita sucesso. Depois de uma graninha esperta juntada, a dupla conseguiu fazer apresentações e gravar mini-CDs. Surgiram então os EPs. A primeira vez que o nome “Evanescence” apareceu oficialmente. Eram gravações completamente amadoras, mas ainda sim charmosíssimas. São o santo graal dos fãs, e muitos dariam o corpo só pra ter a chance de tocar num exemplar dos três demos gravados entre 1997 e 1999.
O trabalho dessa época é tido por muitos fãs como a melhor coisa da banda. Sinceramente? Acredito que as músicas tenham sim certo valor, mas Amy e o Ben eram adolescentes dramáticos. Metade era sobre morrer e a outra metade sobre morrer sangrando. Pra cês terem noção, Solitude foi o hino da minha pré-adolescência.
Do ponto de vista técnico, são todas uma merda. Letras cheias de melodramas, a forçação de barra pra parecer pesado, enfim, tudo muito exagerado. Sorte que fizeram sucesso, por algum motivo. As pessoas deviam ser muito estranhas naquela época.
Lá pra 2000, finalmente, veio a primeira grande oportunidade: Um contrato com a Big Wig Enterprises e a gravação de mais um santo graal do grupo, o CD Origin. Apesar da Amy ter dito várias vezes que não, o CD é só uma gama de demos melhor trabalhados, o Origin é um álbum sim. Tem encarte, saiu em revista e teve show: É álbum.
Existem apenas 2500 cópias originais e muita coisa mudou na sonoridade nessa época, especialmente por causa da adição do David Hodges à banda. Mesmo com um membro menos darkness no grupo, a atmosfera adolescente continuou a mesma.
Lembra da forçação de barra que comentei lá em cima? Tá aqui o maior exemplo: O Origin tem um photoshoot feito num cemitério.
Contudo, todavia, entretanto, apesar de tudo, já estão presentes aqui várias das músicas que, mais tarde, viraram hinos do Evanescence. Imaginary, que já vinha sendo gravada desde o primeiro demo, e My Immortal, o principal hit da banda, são dois exemplos.
Percebendo o potencial do grupo, uma certa Wind-Up Records aparece no jogo. Mas isso é assunto pro próximo capítulo: A era Fallen e os perrengues causados pela fama repentina.
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