A Lagoa Azul (The Blue Lagoon)

Bogart é TANGA! sexta-feira, 31 de agosto de 2012

 Essa é pra vocês que acham que pra escrever no Bacon é só chegar e já era. Não se enganem jovens, antes da fama, dos milhões e das mulheres, há um rigoroso processo de seleção. Que é doloroso demais pra descrever aqui, mas pra vocês terem uma ideia, é bastante próximo do treinamento do BOPE, como visto no filme Tropa de Elite. Tirando a parte dos exercícios, lições de estratégia e comer comida do chão em 10 segundos. E adicionando a escrita de alguns textos com tema pré-determinado e prazos absurdos. Então, como eu vinha dizendo, nada a ver com o Tropa de Elite. Mas o fato é durante o processo da minha incursão nesse site, uma das coisas que a Uiara (Editora de cinema na época) me fez fazer foi uma resenha do Lagoa Azul. E essa pérola teria se perdido na imensidão da internet pra sempre, não fosse a minha mania de não apagar emails e revê-los casualmente anos depois.

Certo, a Lagoa Azul acompanha a história de duas crianças, Richard (Christopher Atkins) e Emmeline (Brooke Shields), que ao escaparem de um navio prestes a afundar, vão parar em uma ilha deserta. Com o passar dos anos vivendo lá, amadurecem, descobrem o amor e blá, blá, blá, todo mundo que teve infância e acesso a uma televisão já sabe disso. Mas para você teve sua memória deteriorada por anos de drogas e não se lembra mais de porra nenhuma que nem eu, continuarei com a sinopse.

A história se passa no final do século XIX, com William Daniels (Arthur Lestrange) levando seu filho e sua sobrinha para São Francisco de navio, depois da morte de sua esposa. Mas acontece que o navio está carregado de pólvora, sabe-se lá por que. E essa pólvora acaba pegando fogo e consequentemente explodindo o navio. Momentos antes da explosão, as crianças e o pirata cozinheiro Paddy Button (Leo McKern) escapam em um bote salva-vidas, mas acabam se separando de William e dos outros sobreviventes no meio da confusão.

Depois de dias a deriva no oceano, chegam a uma ilha onde encontram água, comida e roupa lavada e um barril de rum. Paddy proíbe as crianças de irem para o outro lado da ilha, habitado por um bicho-papão indígenas que realizam rituais envolvendo sacrifícios humanos, e de comerem uma fruta venenosa que os fará nunca mais acordar. A partir daí, o filme intercala cenas de Paddy ensinando técnicas de sobrevivência a Richard e Emmeline, com imagens da fauna e flora da ilha e arredores.

Essa rotina se mantém por dois anos, até que Paddy, cansado dessa vida de babá, decide beber até morrer. Com sua morte, a ligação das crianças com a sociedade se perde, salvo por algumas fotos que se salvaram do navio. Mas a vida continua, com certa tranqüilidade, e ainda intercalada com imagens da fauna e flora da ilha e arredores.

Eis que depois de alguns anos, pam, pam, pam: Chega a puberdade. A partir daí, a vida de Richard e Em sofre uma reviravolta de 360 graus. A dinâmica entre os dois se torna mais interessante, devido às sensações e mudanças trazidas pelos hormônios em ebulição (Olha só, pareço uma professora de ciências da quinta série falando), em contraste com suas mentalidades ainda infantis. Mas também é nessa hora que o filme resolve dizer repetidamente hey, os anos 80 chegaram!: Da cena de Emmeline nadando em meio a ondas azul-marinho brilhantes com efeitos especiais totalmente excelentes, até a descoberta do sexo pelos dois, cada segundo do filme exala o pior da década perdida.

 Que lindo. Pena que horas depois ela estava morta pelo contato com a radiação.

Apesar de tudo isso, o filme consegue nos levar a reflexões bastante pertinentes. Durante sua estadia na ilha, Richard e Emmeline passam grande parte do tempo em conflito entre ações e pensamentos absorvidos da sociedade enquanto crianças e o que sentem e experienciam na nova vida sem nenhuma influência externa. Essa questão da “civilidade” do ser humano é sintetizada quando Richard, após presenciar um ritual sacrificial indígena, os compara com os homens desesperados que viu tentando escapar do navio quando criança.

E ainda podemos ir além, os realizadores inserem diversos elementos que nos permitem questionar inúmeros aspectos da sociedade. Ou não. Tá, provavelmente não. Mas o “inimigo invisível” do outro lado da ilha poderia facilmente representar uma critica velada à Guerra Fria. E as frutas venenosas obviamente representam o “fruto proibido” de Adão e Eva. Aliás, a ilha em si poderia ser uma ilustração do Jardim do Éden. Olha só, perto do final, quando Richard e Emmeline voltam para visitar o local onde Paddy morreu, o filho deles (Sim, eles têm um filho na ilha) pega algumas frutas sem nenhum dos dois perceber. Logo depois, Emmeline volta com a criança para o barco, mas os remos caem na água. Richard tenta recuperá-los, mas tubarões o impedem. Sem remos, os três ficam à deriva novamente e são levados para alto-mar pelas correntes marítimas: Estão expulsos do paraíso. Mas dias depois, o pai/tio/avô William (Agora com um visual a lá Albert Einstein) aparece com um navio pra salvar todo mundo. Essa semelhança de William com Einstein não é mero acaso, claro. Ele está representando a ciência, que veio resgatá-los da tirania da religião.

 Vai dizer que não foi proposital.

Enfim, se você não for diabético, o filme vale ser visto para provar que eu não estou louco relembrar os bons e velhos tempos de Sessão da Tarde, quando as maiores preocupações da vida consistiam na bola que caía no pátio do vizinho e em ter que recomeçar um jogo de vídeo game do início por não ter tido tempo de anotar a senha daquela fase. Ah, teriam os peitinhos da Brooke Shields também, mas eu acabei de ser informado que ela usou uma dublê de corpo. A humanidade chora.

A Lagoa Azul

The Blue Lagoon (104 minutos – Romance)
Lançamento: Estados Unidos, 1980
Direção: Randal Kleiser
Roteiro: Douglas Day Stewart, baseado no livro de Henry De Vere Stacpoole
Elenco: Brooke Shields, Christopher Atkins, Leo McKern, William Daniels

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