49 anos, 32 temporadas e 11 doutores. De quem eu estou falando?
Eu comecei no Bacon escrevendo sobre séries inglesas e hoje, quase um ano após, me assusto, me xingo e me amaldiçoo por nunca ter escrito sobre Doctor Who, a melhor série sci-fi dos últimos 49 anos.
Em 1963, para tapar um buraco em sua programação, a BBC exigiu que criassem uma série educacional e para toda a família. E foi assim que Sidney Newman, recém chegado a emissora, pariu a ideia de Doctor Who. Claro que não a ideia que conhecemos, pois devido ao baixo orçamento e pelo fato de que a BBC acreditava que o programa duraria no máximo 1 ano, grandes mudanças ocorreram desde a ideia original até a que conhecemos hoje em dia. A Tardis, espaçonave/máquina do tempo do Doutor, que é maior por dentro do que por fora, foi criada intencionalmente para que não precisassem montar uma enorme espaço nave em todos os episódios; porém, Newman queria que a Tardis tomasse formas diferentes em cada episódio, dependendo do local onde estivessem. Por exemplo, se estivessem em Roma, ela teria a forma de uma coluna, no Egito, seria um sarcófago, etc, etc… Mas é claro que mais uma vez, o baixo orçamento impediu que essa ideia fosse colocada em prática. Entretanto, para explicar o motivo da Tardis ter o formato de uma cabine policial inglesa, eles fizeram o Doutor dizer que o Chamaleon Circuit ou Circuito Camaleão da Tardis entrou em pane e travou naquele formato. Eu achei genial e muito melhor a Tardis ser sempre a cabine policial que todos conhecemos e amamos. Ah, e os Daleks, saleiros alienígenas do mal, também são frutos desse baixo orçamento. Mas qual é, cês vão dizer que não amam os Daleks?
O Doutor é um Senhor do Tempo, e viaja pelo tempo e espaço, conhecendo, aprendendo, ensinando e consertando coisas. Mas o Doutor não faz isso sozinho, nunca fez e nunca o fará. O Doutor conta com os Companions, que são seus Robins, digamos assim. E sim, eles foram criados originalmente apenas para fazerem perguntas para o Doutor, para que ele não precisasse falar sozinho ou com a câmera. Mas com o passar dos anos, os Companions, em sua maioria mulheres, ganharam cada vez mais destaque, tendo 2 deles ganho suas próprias séries.
Pois bem, vamos agora falar sobre como os roteiristas de Doctor Who precisam dominar a arte do improviso. O 1° Doutor foi William Hartnell. Era resmungão e mal humorado, mas ainda assim, um bom Doutor. Todos amavam esse Doutor, tanto que a série, que deveria durar apenas 1 ano, durou 4 temporadas. Contudo, em 1966 as coisas complicaram de vez e os produtores se viram sem saída. Hartnell começa a ter cada vez mais dificuldades para memorizar suas falas e descobre-se então que este problema era sintoma de uma doença mental que culminaria em sua morte em 1997. Era óbvio que Hartnell precisava ser substituído, mas como substituir o ator principal de uma série aclamada pelo público? Sejamos sinceros, tirar um personagem para que outro entre em seu lugar é aceitável, vide Misfits, que é um bom exemplo disso, mas continuar com o personagem e colocar outro ator para interpretá-lo sem um bom motivo para as mudanças físicas é de torcer o nariz, vide Spartacus, que custou para que os fãs se acostumassem com o Spartacus cara de cachorro da 2° temporada. Mas enfim, os envolvidos com a série estavam sem saída, em um mato sem cachorro, quase sendo pegos com as calças arriadas, quando 2 roteiristas levantam as mãos e perguntam se podem falar. Tendo permissão, eles mostram genialidade suprema de última hora e assim surge a Regeneração na mitologia de Doctor Who. O que é Regeneração? Porra, muito simples. Sempre que o Doutor morre, ele volta a vida em um novo corpo. Ele continua com as lembranças de seu outro corpo, mas há algumas mudanças psicológicas, o que é muito legal. Todavia, mais uma vez os escritores cometem um erro. Não acreditando que a série fosse durar tanto tempo e que eles não teriam mais problemas com o novo intérprete do Doutor, eles inventaram que cada Senhor do Tempo possui 13 regenerações, encontrando a verdadeira morte após a 13°. Na época não parecia um problema, mas hoje em dia, em que já estamos na 11° Regeneração do Doutor, os escritores encontram-se mais uma vez com um baita de um abacaxi nas mãos.
Doctor Who é com certeza a maior (Literalmente) série sci-fi do mundo, tendo ainda 3 spin-offs, HQ’s, especiais de natal, uma revista própria, um asteroide (SIM), 4 recordes no Guinness, e um gênero musical próprio, chamado Trock e que realmente é bom! Além disso tudo, ainda existem mais uma caralhada de coisas que expandem o universo da série, que deixa o de Star Wars no chinelo. Douglas Adams já escreveu alguma coisa pra Star Wars? Pois é, não. Ele já escreveu 3 episódios para Doctor Who. Chupem essa manga, jedizetes.
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