Sobre os Eagles

Música segunda-feira, 20 de maio de 2013

Este texto é para fazer justiça. E pior, contra mim mesmo. Semanas atrás escrevi um texto, chamado O fenômeno Hotel California, e acho que, na minha ânsia de falar sobre o tópico em pauta naquele dia, acabei exagerando e sendo injusto com uma banda que gosto muito. Mais tarde, revendo o que eu disse, fui acometido de uma leve crise de paranóia, uma coisa meio Fox Mulder: E se o leitor tivesse me entendido errado? E se os membros dos Eagles freqüentarem o Bacon e resolverem me processar? Ainda que o leitor deste site seja esperto (!) e os integrantes da banda estejam muito ocupados processando uns aos outros, ainda assim senti que precisava dizer o que vou dizer. Então… Vem comigo.

No texto supracitado, eu usei a música Hotel California, da banda americana Eagles, pra nomear um fenômeno que volta e meia ocorre na indústria musical: Uma banda ser conhecida apenas por uma música. É difícil dizer por que isso acontece, mas parece algumas vezes ser por conta da burrice musical das pessoas, da incompetência ou até da genialidade da banda (Por incrível que pareça) e às vezes é tudo isso junto. Mas enfim. O negócio é que, enquanto eu falava isso tudo, peguei pesado com os Eagles. Assim:

(…) os Eagles nunca conseguiram e nunca conseguirão superar [a música]. Tudo que eles fizeram foi, é e continuará sendo comparado com Hotel California. E vai perder feio, por que os Eagles criaram um monstro. Sim, já deu muito dinheiro pra eles, mas mesmo assim um monstro.

Uma das coisas na minha cabeça ao escrever esse trecho foram as palavras de um amigo que disse ter visto em uma loja um dvd da banda que não tinha essa música e, segundo ele, em tom de brincadeira “nunca ia vender”. A piada faz sentido por que desde que foi gravada em 1976, Hotel California se transformou na signature song dos Eagles, aquela que não pode faltar, que eles são obrigados a tocar em todo show enquanto a banda existir. E pelo que eu já li sobre artistas que passaram pela mesma coisa, isso pode ser MUITO chato. A banda simplesmente se cansa daquilo, por melhor que seja o material. Isso aconteceu com Mark Knopfler por exemplo, do Dire Straits, que já declarou em certa época ter cansado de tocar Sultans of Swing. Com os Eagles, as comparações depois de 76 foram inevitáveis. É o que eu disse: Músicas de sucesso dão uma grana violenta sim, elevam o nome de uma banda, mas têm o lado ruim, que é a necessidade de serem superadas, do próximo disco ser ainda melhor e quando não é, a crítica não perdoa, os fãs não perdoam.

No outro texto, eu continuei dizendo, sarcasticamente, que algo como “outra música dos Eagles” é um bicho não catalogado, largamente desconhecido. E é. Tirando pessoas que viveram na época dos grandes lançamentos da banda e fãs, pouca gente sabe mais deles hoje em dia. Pra provar minha teoria, me baseei somente no disco que contém a música mais famosa deles, olhem só:

Há muito mais músicas deles. O álbum Hotel California mesmo tem mais oito delas. O problema é que quase NINGUÉM as conhece e pior ainda, quem conhece não se importa, por que sinceramente, elas são inexpressivas. Talvez a menos desinteressante, pra mim, seja a segunda faixa – e mesmo assim eu estou forçando a barra um tanto.

De fato, a primeira e a segunda faixa do disco, respectivamente Hotel California e New Kid In Town, representam a parte boa dele. O resto me soa inexpressivo (Não sei se por conta da sombra de Hotel ou por que ela são ruinzinhas mesmo). E nessa parte eu fui violento na crítica por que me senti desapontado, com a sensação de que se a porra da música é tão boa, o disco tinha que ser também. Ledo engano. E mais uma coisa, Hotel California é um álbum conceitual. Ou seja, não é só um disco, é um disco que queria dizer alguma coisa, era uma crítica intelectual e elevada sobre a sociedade consumista, rasa e materialista de Los Angeles (Hollywood especificamente). E não foi nenhum imbecil que tirou esse papo do traseiro, como aqueles religiosos fundamentalistas que diziam que a música era sobre o capeta. É a explicação oficial da banda, que vocês podem ver aqui em um link em inglês, já que não achei nada em português. Do começo ao fim o disco versa sobre o que a banda achava da sociedade hollywoodiana. Mesmo eu achando eu o achando fraco, vale a pena por isso.

Agora, apesar de ter coisas dos Eagles que eu não gosto, é importante dizer uma coisa: Eles nunca fizeram nada realmente ruim. No máximo inexpressivo, o que pode acontecer com qualquer banda. Eles têm sim muitas músicas boas, como One Of These Nights (Vejam abaixo), e também Take It Easy, Sad Café, Take The Devil, James Dean, Lyin’ Eyes (Uma das minhas preferidas) e outras que não me lembro agora. Tiveram muitos hits, e cada disco tem suas vendas contadas em milhões, não é à toa que eles provavelmente são a banda de mais sucesso na história do rock americano. O melhor disco deles provavelmente é o primeiro, homônimo, de 1972. Depois vem o de 74, On The Border, que tem umas ótimas faixas. Tem também Desperado, um disco temático sobre o velho-oeste. Outro bastante interessante é o One Of These Nights, de 75, que começa com a já citada faixa de mesmo nome, e surpreendentemente é uma música… Disco. Tá, não é Bee Gees, mas é claramente uma música compatível com o que rolava nas discotecas da época. Julguem vocês mesmos:

http://www.youtube.com/watch?v=T9ozGsAtY28

Bom pessoal, acho que a minha missão está cumprida. Eagles é uma banda muito boa, vale à pena ouvir os álbuns deles, nem que seja só pra conhecer. Eles são vítimas do fenômeno “banda de uma música só”? Sim, hoje em dia, pelo menos aqui no Brasil, são fatalmente lembrados por uma coisa só. Mas eles têm muito a ser conhecido, muita coisa boa. E teoricamente, a banda tá junta, apesar de não lançarem nada novo há mais de uma década. Então, quem acabar gostando ainda pode vê-los ao vivo um dia. É isso.

Vida longa e próspera.

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