Jack Reacher: O Último Tiro (Jack Reacher)
Um crime brutal foi cometido contra cinco pessoas ao mesmo tempo e um atirador de elite, veterano de guerra, foi acusado pelos assassinatos sem muita chance de defesa. Durante o interrogatório, ele cita apenas o nome de Jack Reacher (Tom Cruise), um ex-combatente com inúmeras condecorações, dado como desaparecido para o governo e autoridades. Só que ele aparece do nada e resolve investigar por conta própria o tal mistério. Sua teoria é que existe uma ligação entre as mortes e o verdadeiro responsável tem outros interesses, procurando desviar a atenção. Só que Jack não desiste da verdade e tem um jeito especial de fazer a sua justiça, doa a quem doer.
O filme começa misterioso, com um homem que chega a um estacionamento e saí atirando aleatoriamente em cinco pessoas. Rapidamente, vemos ele sendo preso e levado a um interrogatório, onde ele apenas diz “Jack Reacher“. Confuso? Eu também fiquei. Esse filme foi vendido como mais um filme de ação comum com o Tom Cruise no papel principal. Mas o clima de mistério é um grande diferencial aqui. Mesmo com o caso praticamente encerrado, vemos o tal Jack Reacher dando uma de fodão, sem convencer a ninguém, iniciando uma confusa investigação, a pedido da advogada do atirador, que pretendia livrá-lo da pena de morte. Uma missão impossível? Claro que não para Jack Reacher. Se você curte um bom filme de ação, não pode perder este filme!
Reacher é um personagem criado para uma série de livros, escrita por Lee Child. Nos livros, ele é descrito como um soldado de elite, que misteriosamente abandona as forças armadas e se torna recluso, praticamente uma sombra, sendo assim indisponível a quem quisesse encontrá-lo. Um raro expert que sabe atirar como ninguém, lutar com rapidez e brutalidade, estrategista meticuloso, detalhista, perito, decora fatos e números facilmente e quase nunca está errado ou é pego de surpresa. O arquétipo do fodão, de fazer inveja a qualquer Jason Bourne da vida, só que sem amnésia alguma. Tudo isso somado ao fato do personagem ter sido interpretado por ninguém menos que Tom Cruise colocaria o personagem no hall dos chatos e pedantes do cinema facilmente. Mas não com Jack Reacher.
Todos aqueles clichês que colaram em Chuck Norris colariam facilmente em Tom Cruise depois desse filme. Jack Reacher é muito foda. Muito foda mesmo. Tão foda que enche o saco em alguns momentos, mas não em todos. Ao contrário da maioria dos filmes, Jack fica sem munição. O carro falha no meio de uma perseguição (Que ao mesmo tempo, Jack persegue os vilões e é perseguido pela polícia). Quando resolve usar o carro como escudo e se mandar que nem um louco pra cima dos inimigos fortemente armados, o carro em que Jack está fica com as rodas emperradas. E o “atirador de elite” que aparece na última hora pra ajudar Jack (Interpretado por Robert Duvall) não sabe atirar, atirando a esmo. Ele até mesmo é pego de surpresa, algo incomum nos filmes de ação, ainda mais que os agressores que o encurralaram são mais atrapalhados do que Joe, Moe e Larry juntos. Essa coleção de fatos inusitados aos filmes de ação de um modo geral fazem deste filme um filme melhor do que se esperaria. Fazer um filme de ação é se render aos clichês e melhorá-los. Jack Reacher consegue fazer isso, mesmo tendo clichês por todos os lados.
Em comparação à Jason Bourne, o ex-agente da CIA até que tinha algum carisma debaixo daquela carranca, enquanto Reacher é a antipatia em pessoa. Saí o sorriso Colgate de Tom Cruise e entra em cena o sujeito mais focado e cara fechada que Cruise já interpretou. O único paralelo em toda a carreira pode ser visto no filme Colateral (Ele devia tentar fazer mais vilões, sério). É como se aquele Vincent estivesse dessa vez do lado dos bonzinhos.
O ator também acerta nas cenas de luta e na carranca. Poucos atores sabem fazer uma cara de mau convincente como ele fez neste filme. Aliás, apesar dos 50 anos recém completados, Cruise parece com esse filme que tem muita lenha pra queimar em matéria de filmes de ação. De longe, esta foi uma das melhores interpretações de sua longa carreira. Há muito tempo (Na verdade, creio que nunca o vi conseguir isso) que ele não conseguia dar tamanha credibilidade a um personagem. Mas todo filme tem suas falhas.
O grande problema de Jack Reacher são os seus antagonistas. Talvez fosse por ele ser tão foda ou por Cruise ter dado veracidade demais ao personagem, mas os vilões são muito ruins. Fracos demais. Pelo menos o diretor teve muita competência nesse filme, pois antes do embate final, eu realmente fiquei tenso com toda a situação que o personagem principal teria que enfrentar e quase acreditei que ele não ia conseguir sair vivo daquela. Tudo bem que o roteiro também é dele, mas o Christopher McQuarrie poderia ter dado realmente alguma dificuldade pro seu personagem. Até o filho do John McLane no novo filme Um Bom Dia para Morrer (Jai Courtney) leva um coça muito bem dada. Nem o cineasta Werner Herzog me convence com o sua versão de Jigsaw que conseguiu devorar os próprios dedos (Nessa parte eu gargalhei alto, muito alto). Talvez essa falha seja na verdade uma crítica aos filmes de ação de uma forma geral? Sim, com certeza. Mas o pior erro, indesculpável, foi estragar o suspense sobre o real mote do filme, os reais motivos sobre o que aconteceu no início do filme. Mas tudo bem, sobrou tempo pra mais ação. McQuarrie queria fazer um filme oitentista com a tecnologia de hoje em dia. Deu certo. O principal concorrente, Os Mercenários de Stallone e companhia, só quer divertir. Mas o Jack Reacher de Tom Cruise nos diverte muito mais por se levar a serio. Tomara que vire um franquia.
Jack Reacher – O Último Tiro
Jack Reacher (130 minutos – Ação)
Lançamento: EUA, 2012
Direção: Christopher McQuarrie
Roteiro: Christopher McQuarrie
Elenco: Tom Cruise, Rosamund Pike, Richard Jenkins, Werner Herzog, David Oyelowo, Robert Duvall e Jai Courtney
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