O Filho de Rosemary (Ira Levin)
O Filho de Rosemary é a continuação do livro O Bebê de Rosemary. E se você não sabia que o magnífico, incrível e perfeito filme de Roman Polanski é adaptação da obra de Ira Levin, parabéns: Você é tão desprezível e ignorante como eu. Quase tive um treco ao descobrir, porque nunca tinha ouvido falar do autor e, quando ouvi, ainda achei que, pela forma de escrever, se tratava de uma mulher. No mais, me contentei em ler apenas a sequência, porque meu medo de que o livro de alguma forma estraguasse minha ótica sobre o filme foi maior do que a curiosidade.
Depois do choque de ignorância aos 24 anos de idade, procurei o nome do autor na Wikipedia. E só de ler um breve resumo, me apaixonei perdidamente por Ira. Principalmente ao descobrir que é dele Stepford Wives, obra que originou o filme foda de 1975 e que se encontra no meu top 20. Para quem não lembra, é aquele em que todas as mulheres de uma cidade começam a ser donas de casa tão dóceis quanto um Bichon Frisé. Só pelo fato, e por ter criado a trama de O Bebê de Rosemary, está perdoado de qualquer pecado nessa e em outra encarnação, caso isso exista.
Apesar de nunca ter lido O Bebê de Rosemary, li duas vezes a sequência. A segunda foi hoje, a primeira só deus sabe. Só me lembrei de que já havia lido no final, o que já adianta que não é a mais memorável das leituras. No entanto, é um desses livros que prende sua atenção e te deixa ávido por mais, já que em 12 horas só larguei para almoçar e tirar um cochilo. Não, não sou vagabunda. Só não ando muito bem de saúde.
O Filho de Rosemary se passa em 1999, mas no início é como se fosse uma sequência direta dos eventos porque Rosemary se dá conta que esteve em coma desde 1973, provavelmente pelo susto com a aparência do filho, como pudemos acompanhar no clássico de Polanski. Ela descobre, ao acordar, que os membros da seita já estão mortos, incluindo o casal Castevet, que acabou criando a criança por causa do coma da mãe. Apesar de se ver congelada no tempo, tudo a sua volta mudou. Andy Woodhouse já não é mais um bebê. É um homem de 33 anos muito influente e, ao contrário da feiura infantil, se tornou um dos homens mais lindos dos Estados Unidos. O cara é uma verdadeira sensação. Fundador de uma insitituição de caridade, despertou a admiração do mundo inteiro. As pessoas usavam broches e camisetas com os dizeres I <3 Andy, pediam autógrafos, queriam tocá-lo e, depois que sua mãe acordou, também passaram a amar Rosemary e fizeram dela uma celebridade mundialmente famosa. Só por ser mãe do cara, para vocês se darem conta do tamanho da sensação que o sujeito era.
Ela se sente aliviada ao ver que seu filho se tornou uma pessoa decente e não foi destruído pelo caráter de Minnie e Roman Castevet (Meus personagens favoritos do filme) ou influenciado por seu verdadeiro pai, carinhosamente chamado de Tinhoso. Mas será? Tanta comoção do público e carisma por parte dele começam a fazê-la pensar que não é exatamente normal que as coisas sejam dessa forma. Ele também começa a mostrar, na intimidade, outra faceta, principalmente quando ela se sente seduzida por ele e eles se beijam. Ew. Nojinho. A morte suspeita da namorada do queridinho dos Estados Unidos também a faz enxergar todos os sinais que ela se recusava a aceitar. Querendo saber quem é, na realidade, seu filho, ela começa a investigá-lo por suspeitar de suas boas intenções e acredita que a intenção de Andy é dizimar a população mundial por meio da inserção de um vírus letal nas velas que a instituição de caridade distribuiu para serem acendidas na véspera do Ano Novo. Estaria ela certa ou com sequelas de um coma prolongado?
O livro é bom, tem uma leitura fluida. Eu me diverti muito lendo. Andy é um personagem forte e carismático, você torce pela sua bondade mas não deixaria de gostar dele se fosse, de fato, o anticristo. Rosemary segue sendo a mesma paspalha de sempre, se deixa levar pelas situações e insiste em se colocar mal quando resolve ter atitude. No entanto, Ira Levin utiliza nessa obra um artifício que abomino em sequels: Anular fatos do livro original. Pode dar uma virada na história, acelerar o coração do leitor, mas é uma forma fraca de conduzir o plot. Chega um ponto que parece que a trama, para o autor, já não fluia mais e ele ficou de saco cheio e arranjou uma explicação só para parar de escrever aquilo. Se fosse qualquer outra história, o desfecho não teria me incomodado tanto. Mas anular qualquer coisa que seja de O Bebê de Rosemary é uma grande heresia. E como a história original é do próprio autor, você não consegue deixar de enxergar as coisas como ele enxerga. Uma lástima. Agora já posso ler o original sem medo de arruinar o que já foi arruinado.
O Filho de Rosemary
Son Of Rosemary
Ano de Edição: 1999
Autor: Ira Levin
Número de Páginas: 320
Editora: Record
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