Jane Austen – Parte 1
Olá, povo lindo que acessa o Bacon! Estava eu fazendo meu arroz doce, de pijamas, quebrando a cabeça tentando escolher um tema pra escrever, quando me dei conta que nada melhor que escrever sobre algo que se ama. E uma dessas coisas são os livros da Jane Austen. Visto que eu tenho (E adoro) os 6 livros publicados dela, pensei que seria uma boa ideia apresentá-los a vocês. Pensei em dividir o post em 2 partes pra daí render mais, sacumé, né? Fazer uma média com o editor daqui (Torçamos pra que dê certo) [Nota do editor: A última vez que fizeram isso, a segunda parte nunca veio]. Comecemos então, primeiro falando da autora, pra situar vocês no contexto em que as histórias foram escritas.
Jane Austen nasceu na Inglaterra do século XVIII, mais especificamente em 1775, numa família de 8 irmãos, filha de um reverendo. Cresceu em uma zona rural entre a classe abastada e religiosa e suas obras retratam a sociedade rural, da qual a própria Jane fazia parte. A educação de Jane foi muito boa, e considerando a época, foi moderna. A situação e o ambiente em que viveu serviram de base para suas histórias. É considerada a primeira romancista moderna da literatura inglesa e está entre os escritores mais importantes, ao lado de Shakespeare. Mesmo depois de 200 anos de sua morte, suas obras são adoradas em todo o mundo. Aliás, todas as suas obras já foram adaptadas, seja em filmes, em minisséries, ou no caso de quatro delas, em ambas (Tá aí, mais uma ideia pra um post, hein?) [Nota do editor: Estou aguardando].
Particularmente, o que mais gosto em suas obras é a ironia e o humor que Austen usa ao descrever a sociedade provinciana do século XVIII. Quase não existem descrições de lugares, campos, casas, roupas, o que me faz amar mais ainda suas obras (Peguei trauma de descrições muito detalhadas sobre lugares e paisagens desde que li Os Sertões no longínquo ano de 2005 ou 2006.). Ela preza muito mais as interações entre os personagens e as suas ações perante os eventos ocorridos com eles. Austen também usa descrições psicológicas de seus personagens, nada muito longo que canse a narrativa, mas o suficiente pra entendermos que estamos em frente a uma velha dominadora, um irmão frio, ou uma jovem tola. Basicamente esse é o estilo de escrita dela. Seus três primeiros romances publicados foram: Razão e Sensibilidade, Orgulho e Preconceito e Mansfield Park. Vamos à análise do primeiro deles, então.
Razão e Sensibilidade (ou Razão e Sentimento) foi publicado em 1811, e primeiramente se chamava Elinor and Marianne, que são os nomes das protagonistas. A história narra os amores e as desilusões das duas, onde uma é o oposto da outra. Elinor é a razão, muito discreta e prudente, nunca se deixa levar pelo que sente e disfarça bem suas emoções, supera com argumentos seu amor fracassado pelo mocinho, enquanto Marianne é apenas sensibilidade, ou sentimentos, romântica ao extremo, sem quase nenhuma razão. Obviamente a última sofre muito mais, porque se deixa levar muito facilmente pelos sentimentos. São filhas de um segundo casamento, e depois que o pai morre, as propriedades vão direto para o filho homem, como era o costume da época. O meio-irmão e sua esposa pouco ligam para o que a madrasta e as irmãs precisam, obrigando-as assim a se mudar para um pequeno chalé. Daí em diante a busca das duas por um futuro melhor por meio de um bom casamento toma mais forma e é o que importa na obra. Enquanto Elinor ama em silêncio alguém que não pode ter, e se conforma bem até demais com isso, Marianne se apaixona perdidamente por um homem sedutor e que revela ter um caráter pra lá de duvidoso. Gosto bastante desse livro porque desconstrói aquela história de amor perfeito. O amor não é perfeito, o mundo não é perfeito, as pessoas se mostram traiçoeiras, indecisas em seus sentimentos e muitas vezes covardes. Mas apesar de tudo, o amor é possível se for sincero e as pessoas souberem separar o que é real do que elas idealizaram e se souberem equilibrar, tanto na vida como no amor, a razão e os sentimentos.
O segundo romance publicado é de longe meu favorito. Orgulho e Preconceito (Que originalmente se chamava First Impressions) foi terminado em 1797, antes de Jane completar 21 anos, mas apenas em 1813 é que foi publicado. Logo de cara somos apresentados a uma constante na vida das jovens do século 18: Fazer um bom casamento com um homem de boa fortuna. Acompanhamos a família Bennet, com 5 filhas e nenhuma discrição por parte da mãe em arrumar maridos para todas elas. Visto terem apenas filhas mulheres, o futuro delas dependia de se casarem muito bem, já que como dito antes, em caso de morte do pai, a propriedade ia para o parente vivo homem mais próximo, que no caso, era um ridículo primo muito do pedante. Quando dois jovens bonitos e muito ricos chegam à cidade, as mulheres se alvoroçam em torno deles, e é claro que a Sra. Bennet fará de tudo para que suas filhas se casem com eles. O Sr. Bingley, que arrenda a casa no campo, é um personagem bom, leal e doce, mas que se deixa levar demais pela opinião de outros. E logo que conhece a mais velha das jovens Bennet, Jane, Bingley de cara se apaixona por ela, o que felizmente é correspondido. O outro jovem, Sr. Darcy, porém, logo ganha a antipatia dos moradores da cidade por se mostrar extremamente reservado, beirando a rudeza quando não se sente à vontade, o que acontece com frequência quando ele está entre pessoas que não conhece.
A heroína da história é a segunda filha mais velha, Elizabeth, bonita, muito perspicaz, alegre e sem medo de expor suas opiniões. Não é do tipo de mulher que se deixa intimidar por pessoa alguma e se recusa terminantemente a se casar sem amor. Quando se conhecem, a antipatia é mútua, mas aos poucos Darcy se interessa por Elizabeth, sem ela ter a mínima ideia disso. Devido a acontecimentos posteriores que eu não vou contar aqui pra tentar fazer vocês lerem, ela o odeia cada vez mais. Porém, suas opiniões sobre ele mudam devido a outros eventos que eu também não vou contar. O relacionamento e as interações de Elizabeth com o Sr. Darcy são muito bem desenvolvidos. Os diálogos afiados e a ironia, que são marcas de Austen estão muito evidentes aqui, o que pra mim é delicioso de se ler. É sensacional o modo como Austen descreve a sociedade, o desespero das mulheres em casar, em parte justificado pela injustiça como eram tratadas, os efeitos de uma educação deficiente e do descaso dos pais em educar e repreender seus filhos e o que dá nome ao livro, os efeitos que um orgulho exagerado e um preconceito inicial podem acarretar.
O terceiro livro de hoje é Mansfield Park, publicado em 1814, e o romance mais lucrativo da autora. Austen colocou muito de si mesma e de onde vivia nesse romance, talvez mais do que em qualquer das outras obras. Descreve os pretendentes religiosos, as mulheres que tentavam dar o golpe em homens ricos, e menciona também a situação que se encontrava a Inglaterra no que diz respeito à abolição da escravidão. Essa é sem dúvida a obra mais controversa de Austen. Muitos fãs adoram, outros odeiam. Não existe tanta ironia e humor quanto às outras obras, é a mais séria sem dúvida. Vamos à sinopse: Fanny Price, ainda criança, deixa a casa dos pais pobres em Portsmouth para ser criada pela família rica de seus tios, Lady Bertram e Sir Thomas Bertram, em Mansfield Park. A família inteira a trata como inferior, devido às condições de sua família, e por achar que estão fazendo uma caridade enorme ao trazê-la para morar com eles. O único que dá à garota verdadeira amizade e afeto é seu primo Edmund, por quem ela, obviamente, mais tarde se apaixona. A chegada dos irmãos Crawford à vizinhança encanta todos os habitantes de Mansfield Park – exceto Fanny, que é a única que percebe desvios de caráter dos dois. Apesar de Fanny ser a protagonista que eu menos gosto, pela sua natureza conformista, submissa, por vezes covarde e passiva ao extremo em vista dos maus tratos que sofre, ela é por outro lado, dotada de uma moralidade e integridade ímpar. É ela inclusive quem traz à atenção da família para o fim da escravidão na Inglaterra. É ela quem vê as falhas morais dos dois irmãos, percebendo a frivolidade, malícia e dissimulação nas atitudes e falas dos dois. Fanny se mantém fiel ao seu amor pelo primo, apesar de saber que nunca poderá tê-lo, e prefere voltar para a pobreza da família do que aceitar Crawford por marido. O mocinho do livro, Edmund, também me irrita por ser limitado nas opiniões, se deixa levar muito fácil pela Srta. Crawford. Dá desculpas a ele mesmo pra fazer o que sabe que não devia. É por vezes tolo demais e não tem a força moral que os outros mocinhos de Austen têm. Apesar de tudo, gosto desse romance também, pois a vida não é feita apenas de mulheres (Ou homens mesmo) fortes e decididas, há aquelas mais frágeis, mas com igual direito de amarem e serem felizes.
Bem, acaba aqui minha Parte 1 sobre as obras de Jane Austen. Não, pera, eu não dei nota, né? Levei bronca da última vez que fiz isso, então vamos lá:
Razão e Sensibilidade – 9
Orgulho e Preconceito – 10
Mansfield Park – 8,5
Nota do editor: Só pra deixar claro, aqui no Bacon a gente só precisa de ficha técnica [E não só a nota], tipo a que tem no fim desse texto, quando são textos dedicados à uma obra. Quando é ao autor, não há necessidade. Agora todos vocês sabem, olha que lindo.
Eu espero que vocês se animem a ler, independente de gostarem ou não das minhas opiniões, para ter uma ideia por si mesmos. Nos vemos na Parte 2!
Aline Freitas ainda não sabe quando dar nota e quando não dar, mas ela se esforça. Não o suficiente, mas se esforça. Quer ser ridicularizada por fazer algo também? Venha para o lado negro.
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