Sobre a televisão

Televisão quinta-feira, 20 de junho de 2013

Ah! A televisão, essa invenção fantástica e mágica, que enfeitiçou gerações com seus shows fenomenais e sua utilidade inegável. A caixa das maravilhas, obra prima dos meios de comunicação de massa e uma ferramenta poderosa de informação ou desinformação, depende de quem usa. Sim, este texto é influenciado pelos recentes acontecimentos Brasil afora.

Segundo nos ensina a tradição sociológica, a cultura de massa é um fenômeno que se iniciou no fim do século XIX e foi se consolidar no século XX, principalmente com a invenção do rádio e posteriormente da televisão. Naquele primeiro momento, os intelectuais – principalmente os vinculados à famosa Escola de Frankfurt, notoriamente Theodor Adorno e Max Horkheimer – que cunharam o termo e são referências nesses estudos até hoje – atribuíam características negativas à massificação da cultura, pois a queda da qualidade da arte e das formas culturais em geral e a passagem da “fruição” para o consumo produziria um padrão de homogeneização alienante das massas, o que facilitaria a dominação pela classe burguesa. Esses estudos, apesar da importância e relevância, são hoje considerados ultrapassados, principalmente por conta da sua posição elitista do conceito de cultura que foi drasticamente ampliado pelos estudos antropológicos. Não irei entrar em uma discussão da cultura de massa como um todo, quero apenas seccionar a discussão à uma parte específica do fenômeno, o telejornalismo, apesar de tudo que eu disser ser extensivo também ao jornal comum e às revistas, só que em menor escala.

Um dos principais veículos de informação para a população nacional são os jornais das redes de televisão. Todo canal aberto tem seus telejornais, normalmente nos horários da manhã, começo da tarde, final da tarde, noite e começo da madrugada e que, por chegarem à 96% dos lares brasileiros, são a maior fonte de informação da população de modo geral. Porém, por mais que a mídia, os jornalistas e o coitado do senso comum possam querer fazer acreditar, não existe mídia neutra, ou a palavra que eles gostam muito de usar: Imparcial. Todos os jornais, sejam eles impressos, televisivos, da grande mídia ou da mídia alternativa têm suas linhas editoriais. Começa por ai. O jornal da TV Cultura vai ser diferente do jornal da Globo por conta da natureza das emissoras. Esta natureza possui diversas influências, a maior de toda advém do nosso velho amigo, o mercado. Os grupos de mídia nada mais são do que empresas, que estão à mercê das leis que regem o mercado como um todo, precisam que entre grana, são mantidos pela publicidade. Ninguém vai pagar para ter seu nome jogado na lama. Ou seja, a influencia financeira exercida por diversas empresas impede as emissoras de tratar de assuntos variados, que vão desde o malefícios que certo remédio de ampla comercialização tem, até a destruição da natureza causada pelas mineradoras. Deste modo, qualquer pretensão de neutralidade já foi perdida.

Outro fator, que também tem a ver com o mercado, diz respeito à própria formatação dos grupos donos das redes de televisão, ou de jornais. Exemplos mais conhecidos: A Record é uma rede de propriedade de uma igreja evangélica, o conglomerado erguido pelos Marinho possuem empresas que atuam no agronegócio, o maior grupo de comunicação de Minas Gerais, que compreende jornais como Estado de Minas e Super Notícias (Esse de caráter “popular”, que tem a maior tiragem do Brasil), é de propriedade da família Neves. Seguindo esse raciocínio, vamos fazer um exercício: a) Quem nunca irá falar positivamente sobre pesquisas com células tronco? b) Quem irá chamar os movimentos pela reforma agrária de terroristas? c) Quem irá apoiar irrestritamente a campanha a presidência do senador Aécio Neves? Por ai dá para ter uma dimensão da situação. Um terceiro fator, e esse já não tem tanto a ver com questões financeiras – apesar de não ser totalmente descolado – é a formatação dos telejornais e das notícias. Para poder atingir o maior número de pessoas possíveis, a qualidade da produção necessariamente tem de cair, para que o telespectador tenha o mínimo de indisposição com os temas. Ou seja, os jornais não lançam questões que exijam profunda reflexão, para que todos possam deglutir o programa sem mais problemas. Desta maneira, os telejornais veiculam muitas notícias de variedades, envolvendo pandas, celebridades semi-nuas, esportes. Este tipo de notícias, as prediletas das grandes redes de informação, são vazias em conteúdo político ou educador e muito menos podem ser consideras reflexivas. Sem estímulo, o senso crítico se esvai e por estes programas atingirem uma parcela enorme da população facilitam a homogeneização de um tipo de pensamento, ou de conduta e de um tipo de consumo de informação. Ou seja, tudo se torna cíclico, as pessoas se desestimulam e aprendem a absorver o modelo proposto, perpetuando a desestimulação e a recriação do modelo.

Outro tipo de notícia que os grandes jornais amam irrestritamente são as tragédias, sejam naturais ou causadas pelos humanos. Este tipo de acontecimento gera muita comoção, seja pela morte de criancinhas arrastadas em automóveis, ou por um tsunami gigante lambendo a costa de um pais insular. A primeira gera revolta, a segunda evidencia a impotência humana. Porém, ambas, da maneira como são tratadas, não estimulam o debate de maneira consciente, muito pelo contrário. Toda vez que algum menor de idade comete um crime bárbaro surgem ecos pela diminuição da maioridade penal. Porém, de maneira irresponsável, consciente ou não, os jornais acabam por incitar um debate infrutífero na sociedade civil, que prega apenas o ódio e não pensa nas consequências que uma decisão dessa pode trazer. Ou seja, despolitiza o debate.

Pensando em tudo que escrevi aqui, pode-se ter a ideia de que, sim, a grande mídia tem efeitos negativos na população (Agravada por vários fatores, como o insipiente investimento em educação). Ela deseduca, despolitiza e interfere na capacidade reflexiva. Além disso, influencia a criação da cultura da especulação e do imediatismo. Agora, pode se considerar tudo que eu falei como manipulação? Não sei. Provavelmente se fosse um artigo científico, nem entraria neste mérito, na verdade não usaria categorias valorativas, como bom, mau, positivo, negativo, descreveria o porque da televisão fazer o que faz e pronto, mas como isso é o Bacon e eu tenho direito a minha opinião, eu falo que sim, as redes sabem do seu poder, sabem quem têm de agradar e sabem que não contam toda a verdade, distorcem os fatos e que isso influencia uma maneira de pensar e que faz isso deliberadamente, pois de certa modo, deseja a manutenção do status quo vigente, pois afinal, isso dá dinheiro e possibilita que eles continuem mantendo o sistema.

Precisa falar porque é interessante às redes de tv colocarem os manifestantes como vândalos? Não, né?

Mais sobre esse tema, leia o livro de Pierre Bourdieu, Sobre a televisão; Influência do Jornalismo e os Jogos Olímpicos.

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