Por que o Sheldon é o personagem perfeito?

Televisão quinta-feira, 18 de julho de 2013

Confesso logo de cara duas coisas: 1. Sou fã de The Big Bang Theory; 2. Eu não sou nerd e não manjo nada das piadas geek que aparecem no programa. Já começa aí o sucesso. A série é, na minha humilde opinião, genial por uma série de motivos. O roteiro é extremamente amarrado, bem estruturado, e o humor consegue atingir tanto aqueles que estão familiarizados com o que os personagens dizem, quanto os que não fazem a mínima ideia do que a nerdice queria dizer. Por quê? Porque o texto consegue se direcionar para todos os lados, de modo que a piada seja engraçada, mesmo sem que faça completo sentido. Teve um episódio, por exemplo, que eu rachei o bico com um personagem cantando uma música, e sequer me liguei que ele estava fazendo referência a uma fonte completamente nerd. Já quem via comigo, rachou o bico por eles levarem à cena o conteúdo geek. Ambos rimos, por motivos diferentes, mas o texto foi genial o suficiente para levar tanto leigos como entendidos do assunto à diversão.

Se tratando dos personagens, as escolhas também são incrivelmente vencedoras. Gosto de todos, rio com todos, tenho apreço por todos. Mas, nesse caso agora, destaco um deles: Sheldon. Sheldon Cooper, pra mim, é um dos personagens mais geniais que já vi. Ele consegue ser chato e encantador ao mesmo tempo, inteligente e burro (Sim, burro) na mesma dosagem, e ser irreal/exagerado e parecido com nosso vizinho. As manias que o personagem tem, e que se tornam mais evidentes com o decorrer da série, causam um certo incômodo, o que nos faz considerar a criatura chata, mas acaba sendo cômico, de tão absurdo que pode ser. Mas, de repente, você se identifica com ele, e começa a ver que não só as pessoas a sua volta, mas você mesmo, também tem suas manias. E o que era tão absurdo feito pelo personagem acaba sendo algo que você se identifica e percebe que acontece em sua vida.

A ingenuidade do personagem em diversos aspectos encanta, e faz com o que o telespectador crie laços de afeto com ele. Quem não se comove (E não dá risada) quando ele fica doente e extremamente dependente de seus amigos, e ainda pede para que Penny cante Soft Kitty? Quem não racha o bico quando sua namorada pede um beijo ou se joga pra cima dele, e ele tem reação ZERO a isso? O fato de Sheldon ser praticamente assexuado nos leva a um outro nível, em que ele foge completamente do padrão do ser humano normal, mas faz com que a gente volte segundos depois já que, apesar disso, ele tem uma namorada e manifesta carinho por ela (Mesmo que por sua inteligência). E talvez seja esse o ponto que o traz de volta ao planeta Terra, já que ele tem comportamentos bizarros, diferente dos outros, mas tem uma namorada, como um ser humano qualquer.

Outro ponto: Sheldon é um gênio, todos sabemos. Mas, outro aspecto genial é que, mesmo quando está errado e mostra suas falhas, ele contorna tudo, não assume o erro e ainda continua passando por gênio. Sua arrogância praticamente ilimitada coloca Sheldon no lugar de gênio, mas a prática não precisa, necessariamente, corresponder a isso. O papel de líder do grupo que é imposto a ele combina com sua personalidade arrogante e egoísta, mas é quebrada quando ele mostra sua fragilidade e ingenuidade. Tal ingenuidade, por vezes, acaba fazendo com que ele cometa gafes, e não entenda situações que para pessoas “normais”, ou as que não são consideradas gênios, seriam extremamente simples. Como dar um presente de aniversário: Isso é tarefa complicadíssima para o Sheldon. Ou guardar um segredo, dar alguma desculpinha furada em algum acontecimento cotidiano: Ele simplesmente não consegue se encaixar totalmente na sociedade e cria seu próprio mundinho, onde tudo faz sentido, mesmo que absurdo.

Sheldon cativa a todos com seu humor ingênuo, com sua arrogância desenfreada, com suas manifestações de carinho um pouco tortas, porém sinceras, com seu jeito desajeitado, com suas manias, toques e transtornos, com seus traumas e atitudes que, por tantas vezes, se assemelham às de uma criança. Sheldon é gênio e ingênuo. É líder, mas dependente. É homem, porém menino que corre pra barra da saia da mãe se algum problema acontecer. Ele é um personagem perfeito, por apresentar tantas falhas, tantas situações absurdas, mas que, de repente, se tornam reais e geram identificação por parte do público. Quantos de nós nunca nos sentimos um pouco parecidos com ele, ou apontamos algum amigo/conhecido/parente e comparamos com ele? Sheldon está no nosso dia a dia, porque se ele é um gênio em física, muitos de nós somos naquilo que fazemos. Ele não é o melhor, mas vende a imagem de ser o melhor. O que está ao alcance de todos nós. Ele não é o chefe, mas se porta como tal e adquire o respeito de todos. Mesmo quando está errado. A personalidade forte e marcante que ele deixa aparecer mais a cada episódio fica cada vez mais real, e engraçada.

Sheldon Cooper me cativa e me faz gostar dele a cada nova cena, e me faz dar risada das piadas mais sem graça que ele possa inventar, e sejam seguidas por seu bordão mais sem nexo e com nexo ao mesmo tempo, BAZINGA. Ele vai do extremo mau humor e antipatia ao cômico hilário, num humor tão caricato que me lembra o estilo Mr. Bean (Que eu a.d.o.r.o.). Com tantos recursos cênicos e de interpretação, seria difícil ele não cativar, mesmo que momentaneamente, o telespectador. Sheldon e suas bizarrices, suas manias e sua ingenuidade se tornam engraçadinhas, e seu mau humor e incapacidade de compreender ironias e situações do cotidiano fazem com que o riso saia fácil.

O personagem viaja entre um egocentrismo sem limites, passa pelo humor ingênuo, pelo besteirol, e acaba refletindo o que muitos somos: Estranhamente normais. O que há de estranho é, por vezes, a realidade que ele joga na cara (Como quando não gosta de algo e não se interessa pelos problemas dos outros e não se esforça em ouvir), sua genialidade ser derrubada pela simplicidade do dia a dia, que não cabe no seu entendimento de mundo, e sua dificuldade de se encaixar no mundo – o que, vamos combinar, acontece com boa parte das pessoas.

Pra mim, Sheldon é gênio, e não somente de laboratório: De vida. Acho cômico, fofo, trouxa, ridículo, burro, e genial. Tudo num mesmo episódio. Sheldon, pra mim, é uma mistura de transtornos e realizações, porque, apesar de tantas manias e comportamentos controversos, ele se considera vencedor, e ai de quem tentar sugerir o contrário. A aposta no humor simples, ridículo e por tantas vezes exagerado torna ele irresistível, e imprevisível. É claro que ele vai ter alguma reclamação, é claro que ele vai apontar o defeito de todos, é claro que ele vai colocar todos em alguma situação constrangedora. Mas até onde chega essa bizarrice? Até onde chegam os transtornos de uma pessoa que, mesmo que reconhecidamente seja taxada de maluca, tem o carinho de todos e não é deixada de lado? Sheldon é genial, e mesmo sua obviedade compulsiva se torna surpresa a cada nova mania que ele inventa. E, pode apostar: Ele sempre inventa. Ainda bem, minhas risadas agradecem.

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