Unorthodox Jukebox (Bruno Mars)

Música terça-feira, 30 de julho de 2013

Que a música eletrônica e o hip-hop mandam no pop da cena musical atual todos já devem saber. Mas essa transformação está cada vez mais saindo de moda na música atualmente. Bruno Mars, no seu novo disco, Unorthodox Jukebox, mostram que os discos com a temática vintage de outras décadas estão com tudo. Veja aqui uma breve crítica deste novo disco.

Quando Bruno Mars surgiu com a música The Lazy Song, esperava-se que ele fosse mais um a tentar imitar a trajetória de ídolos teen descartáveis, como os New Kids on the Block, Backstreet Boys e mais recentemente Justin Bieber. Mas Mars se mostrava um caso diferente. Ele co-escreveu os arranjos e fez participações em músicas como Nothin’ on You do rapper B.o.B, Billionaire do cantor americano Travie McCoy, Right Round do rapper Flo Rida com participação de Kesha, Wavin’ Flag do cantor somali K’naan e Fuck You! do Cee Lo Green. Seu disco de estréia mostrou que o cara também tinha brilho próprio e que ia além de um hit só. Doo-Wops & Hooligans tinha além de The Lazy Song, músicas muito boas como Just the Way You Are e Grenade, que viraram hits instantâneos. O resultado de toda essa produção em um curto espaço de tempo lhe rendeu quase uma centena de prêmios e a consagração mundial. O caminho estava aberto para um novo disco. Eis que então, o camarada lança Unorthodox Jukebox. O disco que conta com a produção de Mark Ronson, que foi produtor dos trabalhos anteriores da finada cantora Amy Winehouse, se mostra um alienigena em meio as produções pop atuais, pois contém músicas assumidamente vintages. Esse com certeza foi o grande acerto de Mars na seleção das faixas do disco. Antes do duo francês Daft Punk tornar moda a estética retrô voltada para os anos 80, o produtor que o cantor escolheu para trabalhar soube focar o talento de Mars nas músicas certas, canções que conseguem exaltar seus falsetes perfeitamente.

Eu estava pouco familiarizado com sua música. Mas então nós nos encontramos em Londres e a primeira coisa que ele me disse foi: ‘Eu quero que essa parceria soe exatamente o oposto do que uma parceria entre Mark Ronson e Bruno Mars deveria soar’. Aquilo simplesmente me conquistou – e naquele momento eu percebi o quão talentoso ele é. Essa é a música mais progressiva na qual eu já trabalhei. Ela está prestes a desentupir as artérias e mudar a sonoridade da música. (Mark Ronson sobre Bruno Mars)

Diferentemente das músicas antigas (E de quase todo o pop atual), onde o cantor apelava para samples, com a participação de algum rapper qualquer ou DJ de renome, com música da semana no repertório, nesse novo trabalho vemos uma pegada voltada para o vintage não somente no teor das músicas, mas também nas suas execuções. Sem as batidas eletrônicas e super limpas, tão comuns nos discos pops atuais e com uma assumida (E acertada) inspiração em nomes como Michael Jackson, The Police e Prince, as novas músicas do disco não são apenas uma referência. Locked Out of Heaven (A melhor música do disco) é como se estivéssemos ouvindo uma homenagem ao pop rock dos anos 80. Melhor do que isso, vemos pop sendo feito da forma mais atual e bem feita possível.

Ainda assim, o grande acerto do disco não está nestas homenagens indiretas. Ao resgatar um som clássico e incluir breves e suaves toques de hip-hop, Mars faz um pop contemporâneo sem se entregar a outros estilos. As outras músicas do disco não ficam atrás. Treasure, música mais voltada do disco para o soul e o dance dos anos 70, mostra uma faceta que as melodias do cantor revelavam em seu primeiro trabalho. Só que aqui vemos isso sendo levado a um novo patamar, em que a afinação se une a um ritmo perfeito que o estilo de voz de Mars consegue alcançar. Em Moonshine por exemplo, Mars consegue cantar com sua voz e com outras, em certos momentos ao melhor estilo que Lionel Richie imortalizou. Em outros, na mesma música o cantor emula ao mesmo tempo Prince e Marvin Gaye. Já Natalie é um R&B totalmente roots, feito praticamente como uma homenagem as grandes músicas do inicio dos anos 80, coisa do mais alto nível, recheado de frases cortantes ditas por uma voz inspirada e contagiante, a voz de Bruno Mars. O cara não se cansa de mostrar que nunca foi nem nunca será apenas um fantoche da indústria fonográfica, a exemplo do príncipe do pop atual, Justin Bieber (Argh).

Tal qual um bom exemplar do pop atual, Unorthodox Jukebox também erra. E erra feio. Mesmo sem se atrapalhar tanto, a simples presença de faixas como Gorilla e Money Makes Her Smile trazem o nível do disco ao patamar de cantores ranhetas que estamos acostumados a ouvir nas FMs afora. Essa queda acontece pelo erro de dar preferência a combinação de batidas aceleradas com letras fracas. Nem o reggae de Show Me consegue convencer. Parece uma música fabricada, que não tem nem metade da galhardia ou da simpatia que a pseudo reggae The Lazy Song tinha. O disco ainda possui baladas interessantes, mesmo sendo as vezes, lentas demais. Young Girls e When I Was Your Man são daquelas poucas músicas que seguem o padrão de qualidade que vemos nas clássicas de antigamente, como Hello do Lionel Ritchie. Apesar de terem uma vibe de caráter mais autobiográfico, é em When I Was Your Man que vemos Mars se soltando mais. Tocando piano, o cara faz um dos melhores vocais do disco, sem economizar nos suspiros e trejeitos na voz, ao melhor estilo crooner. Se continuar assim, logo logo teremos um novo rei do pop.

Sem sombra de dúvidas, Unorthodox Jukebox é um dos melhores discos do ano passado (Foi lançado ainda em 11 de dezembro de 2012), mas claramente é também um dos melhores albums de 2013. Sem ser piegas ou estranho, aqui a clara e ótima homenagem ao pop oitentista funciona, sem nenhum percalço. E ainda consegue agradar à nova geração, que preza por um hip-hop eletrônico e frenético sem deixar de fazer a devida reverência aos ritmos que um dia dominaram o mundo.

Unorthodox Jukebox (Bruno Mars)


Lançamento: 2012
Gênero musical: Pop
Faixas:
1. Young Girls
2. Locked Out of Heaven
3. Gorilla
4. Treasure
5. Moonshine
6. When I Was Your Man
7. Natalie
8. Show Me
9. Money Make Her Smile
10. If I Knew

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