Antes de Watchmen

HQs sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Seja qual for a mídia de que estamos falando, se o autor da obra original se opõe a um remake, continuação ou prequel, independentemente de qual seja o motivo, é de se esperar que o resultado fique muito aquém ao esperado. Mas no caso de Antes de Wachtmen, Alan Moore e a sua insatisfação se mostraram completamente equivocados. Saiba o porquê agora!

É possível fazer alguma história de Watchmen sem Alan Moore? A questão é tão frequentemente colocada e as críticas resultantes tão bem expostas que é cansativo repetir. Arte contra o comércio e blablabla. Eu não tenho nada de novo a acrescentar ao debate Moore vs DC. Eu amo tudo o que Alan Moore e Dave Gibbons fizeram juntos. É claro que no geral, eu considerei um prequel de Watchmen sem o envolvimento deles, na melhor das hipóteses, temerário. Mas também entendo o ponto de vista de mercado, uma prequel de Watchmen seria um bom negócio e inevitavel, com ou sem os criadores. E assim, aqui estamos nós, falando de Antes de Watchmen. Uma prequel que realmente ninguém pediu, mas todo mundo ainda quer ler, independentemente de como ficou (Eu incluído).

Desde 2008, quando o filme Watchmen do diretor Zach Snyder ainda ia chegar aos cinemas de todo o mundo, começaram a pipocar rumores sobre uma continuação da clássica mini-série dos quadrinhos, originalmente lançada nos anos 80 e que havia inspirado a citada adaptação milionária. A continuação virou prequel e começou a ganhar forma durante o anos de 2011 e 2012, quando foi lançada com o nome de Antes de Watchmen. A gritaria do fãs começou muito antes do lançamento, impulsionada pelas declarações do criador da história original, Alan Moore. Que o inglês barbudão é um chato e odeia tudo o que fazem com seus trabalhos, todo mundo já sabe. Algumas vezes com toda a razão, como na adaptação cinematográfica da Liga Extraordinária, outras vezes nem tanto, como em V de Vingança e no caso especifico de Watchmen, críticas totalmente sem nexo. O filme de 2009 respeitou ao máximo a obra original e só colecionou críticas dos fãs mais xiitas, que ficaram chateados pela troca sutil feita pelo roteiro, onde originalmente um polvo alienígena era o responsável pelo cataclisma de seu clímax e não simplesmente o Dr. Manhattan.

Depois de todo o mimimi de Moore e das acusações de ser uma mini-série caça-niqueis, a série foi lançada e colecionou criticas positivas em todas as publicações especializadas do gênero, sendo defenestrada apenas em blogs escritos por fan-boys sedentos por audiência e atenção. A gritaria, puxada por Moore, não só se mostrou inadequada como também fora da realidade, visto que o autor foi convidado pela editora (Que por contrato é a real detentora dos direitos sobre a série e os personagens) para escrever e editar toda a prequel, como também obter todos os direitos definitivos sobre a mesma e sua antecessora, bem como dos personagens envolvidos. Pois é, a DC ofereceu assim, de mão beijada pro Moore depois fazer o que quisesse com Watchmen. Com a recusa, o papel foi herdado por Lein Wein, ironicamente, editor da mini-série de Watchmen original, e desafeto de Moore desde sempre.

Antes de Watchmen foi publicada aos poucos nos EUA, mas aqui está vindo em edições encardernadas. Teremos o Comediante, Rorschach, Coruja, Ozymandias, Espectral, Dr. Manhattan e Minutemen (Que deve conter as ediçoes extras Dollar Bill e Moloch). Antes de mais nada, quero logo dizer que Antes de Watchmen é muito bom. Brian Azzarello, Darwyn Cooke e J. Michael Straczynski (Entre muitos outros) fizeram uma aproximação mais do que digna do clima imaginado por Moore. Mas é aí que reside o problema. Então, em dívida com o texto original é impossível separar estas novas interações do que o que as gerou. E, em qualquer comparação com o original de Moore, a nova mini-série perde feio. Os preconceitos dos leitores podem atrapalhar a leitura do material facilmente, pois tudo aqui soa um pouco superficial demais. Talvez pela falta de interligação entre as histórias. Ou simplesmente pela ausência do texto de Moore, algo realmente muito difícil de ser emulado.

Eu olho para a nova edição Rorschach e penso: “Realmente acertaram o tom e os desenhos. Parece mesmo algo que Moore e Gibbons fariam. Esta é uma boa imitação de Rorschach”. Mas isso é tudo o que é: Uma imitação. Ele fala a mesma coisa, age da mesma forma, parece o mesmo, mas não é Rorschach de Moore. Apenas uma cópia. E eu não posso afastar a sensação de que Moore já contou essa história e esse personagem da melhor forma possível, de modo que qualquer emulação apenas parece repetitivo, não importando quão boa tenha ficado. São estes preconceitos justos? Eu diria que a maioria destas novas edições são tão arraigadas à visão original de Moore e dos personagens que as comparações são inevitáveis. Os prequels realmente nos convidam a ter tal pensamento. Antes de Watchmen sempre vai viver à sombra de Watchmen, para melhor ou para pior.

Mas em alguns momentos, Antes de Watchmen não deve em nada a mini-série original. O melhor momento destes quadrinhos com certeza é na edição dos Minutemen. Aqui, a linha narrativa assume uma postura diferente, sem os ajustes dos personagens de Moore. Ironicamente, outra grande contribuição é a do Azzarello para a série, na edição do Comediante, que difere mais da sua origem, apresentando uma versão ingênua mais estoica e dá o que dizer ao personagem. Ver o Comediante lentamente mudando para a versão endurecida e desiludida de Moore torna-se surpreendentemente comovente e triste aqui. A edição do Comediante também parece ser a mais enraizada na política do mundo real da década de 1960. Há uma certa originalidade nesta edição por podermos ver o Comediante interagindo com figura políticas e famosos da década de 60, mas as interações também fundamentam o lado cômico no passado da personagem e ajudam a separá-lo de histérica Guerra Fria que antecedeu a década de 80.

Da mesma forma, Darwyn Cooke e Amanda Conner fazem com a edição da Espectral. Muito sexo, drogas e rock and roll na história da edição, e em menor medida na edição comandada por Len Wein, Ozymandias. Sem se desviar de suas contrapartes originais, essas duas edições focam na adolescência das personagens, como se iniciaram na luta contra o crime, como foram suas infâncias, as dificuldades inerentes ser um(a) “menino(a) prodígio(a)”, e outras coisas interessantes que todo mundo gostaria de saber sobre os personagens. Por outro lado, à primeira vista Rorschach e Coruja devem tudo as ideias unicamente de Moore. Nada de inédito. Apenas nos apresentam réplicas exatas dos temas e características da versão de Moore. Como tal, eles não conseguem se destacar como suas próprias criações individuais. Diferentemente da edição do Dr. Manhattan. Não acrescenta nada a mística do personagem. Mas a viagem que virou essa historia é de dar um nó no cérebro de qualquer um.

O melhor aspecto das prequels, sem dúvida, é a arte. JG Jones, Lee Bermejo, Darwyn Cooke, Amanda Conner, Jae Lee, Adam Hughes e Andy e Joe Kubert fazem um trabalho excepcional onde não se sente em dívida com o trabalho original de Gibbons. Mas ao mesmo tempo ficam algumas ressalvas. A existência de diferentes artistas em cada edição tira dos quadrinhos seu próprio estilo e identidade, sejam as paletas escuras e corajosas de Bermejo na edição do Rorschach ou as cores brilhantes que Conner usou pra elucidar as hitórias da Espectral, tudo temrina destoando um pouco do conjunto. Uma menção especial deve ser dada aos desenhos de Jae Lee em Ozymandias, cuja obra parece ser transportadas diretamente a partir do Renascimento e que refletem sua própria paixão do anti-herói com os clássicos e as crenças humanistas da antiguidade.

Relendo esta matéria, me pareceu que tudo que eu escrevi terminou sendo muito mais negativo do que eu tinha previsto inicialmente. Uma pena, eu queria mesmo só falar bem desta mini-série. Mas reiterando, Antes de Watchmen é mesmo muito bom. Mas é “bom” o suficiente? Eu sei que muita gente ainda permanece cética quanto à validade desses quadrinhos ou se uma prequel foi mesmo uma boa ideia. Em primeiro lugar (À excepção de fazer um monte de dinheiro para a DC), eu sei que, independentemente, eu vou continuar a ler e terminar esta nova série… E eu ainda não tenho certeza de como me sinto sobre isso. Mas se vocês curtiram Watchmen, seja nos quadrinhos ou na telona, eu garanto que Antes de Watchmen não vai decepcioná-los.

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