Hey, pachuco!
Você sabe o que é um pachuco? É bem provável que assim, pelo nome, você não conheça. Mas vocês já foi apresentado a um deles, o mais conhecido, aliás. Ah, já. E tem mais de uma década. Veja se a memória ajuda:
E aí, lembrou? Sim? Não? De qualquer jeito, vem comigo.
Em termos enciclopédicos, pachuco era o nome de um certo estereótipo, um jeito de ser de certos hispano-americanos jovens entre o início do século passado até um pouco depois da Segunda Guerra, que se originou nas áreas onde o Texas e o México se encontram. Era uma moda, um jeito de agir, falar e se vestir que saiu da região da fronteira e, seguindo a trilha dos migrantes latinos, chegou até Los Angeles, California, onde tomou mais forma e se tornou o que a foto acima mostra, e bem mais.
O pachuco era um jovem bem vestido: Usava um terno chamado zoot, isto é, um terno com o casaco mais comprido, a calça bem folgada e muito acima da cintura, além de um chapéu pra combinar, às vezes decorado com uma pena. O zoot suit e a pena podiam ser coloridos, afinal o pachuco nunca podia ser tímido. Como acessórios, ele poderia deixar à mostra longas correntes de relógio, usar cordões e jóias; podia pentear o cabelo com topete, e falar uma mistura criativa de espanhol e inglês, cheia de gírias. Claro, ele era um playboy, uma figura, ligado com a vida nas ruas, não raramente associado com o gângster, o vândalo, isso se ele mesmo não fosse abertamente um ou outro – algumas vezes outro acessório do pachuco podia ser uma faca escondida.
No comportamento, o pachuco era como a versão hispânica do malandro do Rio, com toda a malemolência que aprendeu pela vida se expressando em cada gesto: Ele andava curvado pra trás, com as mãos nos bolsos, maroto, mas gostava de se mostrar, ostentar, aparecer. O pachuco, simplesmente, é o avô ou bisavô do gângster chicano, do descendente de latinos americano que se veste, age e fala de uma forma específica, que gosta de ostentação, do latino que vive na costa Leste dos Estados Unidos e vive perigosamente com seus carros antigos rebaixados, que vive uma cultura particular.
Na cultura popular que nós presenciamos e/ou ainda está fresca na nossa memória — os últimos trinta anos –, o pachuco foi quase que totalmente esquecido. Exceto, é claro, por um dos melhores personagens de um dos melhores filmes dos anos 90. Esse cara:
Quando Stanley Ipkiss coloca a bizarra e misteriosa máscara nórdica e se transforma naquilo que está no interior dele (Que é o que a máscara faz, afinal), ele vira um pachuco. Claro, isso acontece por conta da personalidade de Ipkiss, o Máskara pode ser qualquer um. Mesmo assim, quem dá graça pro filme é um pachuco, uma figura emergida das profundezas de um estereótipo antigo. E, curiosamente, isso nunca é mencionado diretamente no filme. Não que pro observador atento seja necessário: É possível deduzir que o Máskara é claramente antigo, tanto pelas roupas quanto pelo jeito de falar, pelas referências que faz à desenhos dos anos 30 e 40, tudo. Não só antigo, o Máskara também é latino. Em um filme onde nada é por acaso, podemos notar claramente a origem do homem de terno zoot amarelo em duas cenas em especial: No Coco Bongo, onde ele dança com a bela loira, e quando ele vira um dançarino de rumba e faz uma legião de policiais dançarem com ele. Aliás, no Coco Bongo ele dança essa música:
De novo, não é por acaso: A banda que a toca se chama Royal Crown Revue, e eles fazem, segundo eles mesmos, gangster jazz; os integrantes são latinos, usam zoot suits e são pachucos modernos, por assim dizer. E o nome da canção é Hey, Pachuco!.
O fim dos pachucos se deu em algum lugar perto dos anos 60, por razões pouco claras. Segundo este artigo da Associação Histórica do Texas, é provável que os originais tenham apenas crescido e deixado de lado a moda da juventude. Mas, através das mudanças, os latinos acharam outros jeitos de continuar o legado dos pachucos, outras maneiras de demonstrar não-conformidade. Como provavelmente fizeram todos os outros grupos urbanos, aliás.
Agora, cá entre nós, não-conformidade é o que melhor descreve o Máskara, o pachuco que viveu além de sua época.
Vida longa e próspera.
Obs: Além de escrever no Bacon, também falo de assuntos bizarros e coisas que quase ninguém se importa no Estranho Sem Nome. Me procurem lá.
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