O reboot de Robocop e a ação nos dias de hoje
Como vocês devem saber, o trailer do reboot de Robocop foi divulgado semana passada recentemente, para o assombro dos velhos fãs da franquia e dos novos iniciados nestas questões, além, é claro, dos lambedores de saco do José Padilha. Mas mais do que o prenúncio de um filme esperado, este trailer nos leva a uma reflexão maior. Uma reflexão de gerações. Vem comigo.
Primeiro, para os que acabaram de sair da tumba e ainda estão limpando a poeira dos séculos, assistam o trailer:
http://www.youtube.com/watch?v=INmtQXUXez8
Bem, ver isso deu muito pano pra manga em certos círculos sociais, como nos sites de cultura pop e neo-nerds, nas lojas de quadrinhos, nas seções de comentários do YouTube, e etc. Dentre as porções incalculáveis de opiniões, há aqueles que estão totalmente entusiasmados com o filme, outros conservam-se frios e preferem esperar o tempo correr e ainda há outros que não possuem qualquer ilusão, já considerando o reboot um naufrágio ridículo e risível, tal qual um Costa Concordia, mas que não será salvo nem com mil reboques. Todos possuem argumentos: Os otimistas e modernistas mais radicais dizem que nada melhor do que pegar estas antiguidades e renová-las, deixando-as impecáveis e afinadas com a mais alta tecnologia cinematográfica disponível; outros confirmam o alto valor do antigo Robocop, mas querem muito ver o personagem atualizado. Dentre os desconfiados e pessimistas, há os que afirmam não haver maior ultraje do que tocar nos clássicos sagrados para cometer sacrilégios, como fazer o Policial Robô lento, pesado e trágico se transformar em uma máquina quase humana demais que sente, corre como Forrest Gump e provavelmente dá voadoras para trás; também existem os moderados, que analisam cada suposto defeito e possível qualidade nos quase três minutos de trailer.
Como de costume, prefiro me posicionar com os moderados, principalmente por ser muito difícil colocar um filme no pedestal ou na lama com apenas dois minutos e cinquenta de imagens. Infelizmente aqui no Bacon não temos feiticeiros e adivinhos de araque como no Omelete e afins, o que torna as coisas ainda mais difíceis. Acabamos nem mesmo podendo soltar previsões que se provarão totalmente o oposto no dia da estréia mundial. É a vida, acho eu.
Mas acima de todas as discussões, temores e especulações, há algo que sabemos sem sombra de dúvida: Robocop será um filme de ação, tal qual os antigos. Acontece que, apesar do nome, a ação de hoje já não é a mesma de antes. Aliás, nem mesmo há uma só coisa chamada “filme de ação”, mas sim vários tipos de produções com vários tipos de ação. Há, por exemplo, a ação dos filmes de super-heróis, que procura convergir suas habilidades em uma missão ou situação inusitada, algo nobre como defender a Terra de malfeitores ou alcançar o auto-conhecimento; um pouco abaixo disso, há a ação gratuita e sem compromissos, como em Os Mercenários, há a ação divertida e impossível dos filmes que se levam ainda menos à sério que Schwarzenegger e sua trupe, como Machete e afins. Há filmes assim para todos os gostos, muito mais que há trinta anos.
Mas, talvez de todos os tipos de ação, há um tipo que me dá urticária. Um tipo inferior e que é um propósito em si mesmo, que existe por existir. Me refiro à “ação adolescente”. O nome me pareceu o melhor, pois são filmes deste subgênero que arrancam dinheiro dos mais jovens, para desespero dos pais. São filmes que são rotulados como “fodas”, “maneiros”, ou seja lá como os debutantes os chamam agora. Produções recheadas de tiros, explosões, saltos inimagináveis, sons que estimulam o coração a pular no peito, mas que são quase totalmente desprovidas de importância real, e às vezes até de sentido. Filmes assim pretendem se levar a sério, como se não fossem só caixas automáticos pra produtores e diretores sem talento. Não são reuniões de velhotes aventureiros nem explicitamente sem maiores aspirações. São o material chato e sem propósito que Hollywood vomita todos os anos por que dá dinheiro.
Não vou negar que alguns desses filmes de ação de adolescente são até divertidos, como o primeiro Velozes e Furiosos, ou produções mais baratas de estúdios pequenos que aparecem às vezes. Mas mesmo os mais assistíveis se arrastam debaixo de coisas mais bem elaboradas. Que fique bem claro, entretanto, que eu também não sou nenhum desses monstros (Pseudo) intelectuais que assistem filmes franceses da última moda em Paris e dizem que Laranja Mecânica é o supra-sumo da cultura galática, ainda que não pudessem encontrar os próprios traseiros com as mãos se lhes fosse pedido. Não se pode exigir obras eruditas e merecedoras do prêmio da academia todo o tempo. São dois opostos do cinema: Requinte sem propósito e sem graça e estupidez sem freios.
Agora, disse isso tudo pois volto ao Robocop. Ao assistir o trailer, fiquei com uma impressão irritante de ação pra adolescente. E pior, pensei também ter visto os sintomas da já conhecida febre incontrolável por atualizar o que é antigo, de tornar compreensível pras novas gerações o que já está, teoricamente, “ultrapassado”. Um reboot, se bem feito, vira outro clássico. Do contrário, se for feito de maneira leviana, vira um elefante branco que fatura em cima dos imbecis e deixa os fãs vermelhos de ódio. O caso é que não é preciso cuspir na cara do que antigo como fazem alguns, nem negar a modernidade. Robocop, o policial do futuro, soa no trailer como uma verdadeira máquina de pegar bandidos, rápida e eficiente como um iPhone saído da fábrica, limpa e correta como um tablet de paróquia, mas com um lado humano mais forte que sua versão antiga, tendo até problemas sentimentais e dramas familiares dignos de novela, ao contrário da tragédia já completa de antigamente, que não emociona hoje as garotinhas.
Enfim, só espero pelo melhor do reboot. Mas fico com a ressalva e o temor de vermos em 2014 mais um filme vazio e atolado da mais recente tecnologia, que, como se sabe, não quer dizer uma boa história. Que Zeus nos livre, mas só vamos ter certeza ano que vem.
Leia mais em: Ação, José Padilha, Matérias - Cinema, RoboCop