Sobre monstros gigantes e gente fantasiada
Ao refletir um pouco antes de escrever estas linhas, pensei primeiro no seguinte: Todos nós crescemos assistindo Super Sentais, os esquadrões fantasiados que derrotam monstros gigantes. Até hoje séries como Changeman, Goggle-V e todos os Power Rangers têm fãs ávidos e saudosos dos anos 80. Eu mesmo gosto de várias coisas do passado, coisas que chamam de “cult”. Mas este texto é uma confissão: Monstros gigantes e gente fantasiada já deram no meu saco. Juntos ou separados. Vem comigo.
Começo pelos Super Sentais, por que são a representação máxima do tema de hoje. A base deles é a mesma, sejam os produzidos no Japão ou os importados pelos Estados Unidos: Um esquadrão de heróis que parecem gente normal, mas se reúnem quando o mal assombra a cidade em que vivem e se vestem/se transformam/morfam em fantasias coloridas pra enfrentar o vilão. Eventualmente esses vilões, relutando em perder, crescem/invocam monstros gigantes e tentam foder a cidade toda. Nesse ponto, o esquadrão também chama a cavalaria de (Geralmente) robôs imensos e derrota o vilão, que (Quase sempre) explode enquanto o esquadrão/robô faz uma pose. É uma fórmula criada ainda nos anos 80 e que nunca mudou muito em mais de 25 anos. Aliás, durante esse tempo todo deu certo. Todo mundo sabe que monstros gigantes são parte da cultura pop japonesa, e é provável que remontem aos tempos em que o Império Japonês era isolado do mundo, deixado à própria sorte pra imaginar que tipo de bizarrices se escondiam no oceano. Pra eu me fazer entender melhor, vou quebrar a idéia dos Sentais no meio: Fantasiados e monstros.
Os bichos abissais, vindos sabe-se lá de onde, são talvez a primeira coisa que perdeu a graça pra mim. Ah, pelo amor de deus, quem cria esses monstros? Por que o cara que faz eles deve ser burro pra caralho pra passar anos só atacando uma bosta de um arquipélago asiático onde os bichos sempre são derrotados por gente com fantasia de carnaval. Atacar os Estados Unidos eu até entendo, é a maior nação do mundo e, se derrotada, leva a economia do resto do mundo junto. Sob esse ponto de vista, até a China é mais lucrativa. Mas de qualquer jeito, os monstros e os vilões nunca ganham e também nunca desistem. São um exemplo de perseverança mal-aplicada.
Agora, fora dos Sentais, os monstros podem ser semi-conscientes ou simplesmente causar toda essa destruição por instinto. Uma coisa meio Godzilla, e modernamente meio Pacific Rim. Godzilla vai ganhar um novo filme, aliás. E eu não sei por quê, já que o Godzilla é algo que, sinceramente, tem que ficar no passado. É o monstro pelo monstro, uma coisa defasada e sem sentido. Não que alguma dia o lagartão tenha tido sentido, mas era até divertido e agora depois de tantos filmes e se tornar ícone da cultura mundial, tá na hora de deixar o troço descansar. E Pacific Rim? Os monstros tão lá, o filme está recebendo boas críticas. E melhor nós aproveitarmos mesmo, por que deve ser um dos últimos suspiros dos primos do Godzilla. O bom é que eles são coadjuvantes, já que o grande lance do filme do Del Toro são os robôs gigantes, claro. Ao contrário dos monstros, robôs gigantes ainda atraem a nossa atenção. O que é uma pena pra Hollywood, por que prestando um mínimo de atenção neles e usando meio cérebro, qualquer anta percebe que Pacific Rim chupou o desenho japonês Neon Genesis Evangelion até o osso e tacou tudo na frente do espectador, que bateu palma e riu. Sério, ninguém mais notou? Não, espera, notaram sim. E não venham me dizer que é uma homenagem. Isso aí é sacanagem mesmo.
O outro lado dos Super Sentais é o personagem fantasiado, outra coisa nada nova no Japão. Suspeito que é a parte mais fraca da equação também. Sim, era super legal ver os Power Rangers morfando, ver os coloridos Goggle-V. E fora dos Sentais de novo, quem passou pelos anos 80/90 sem conhecer o Robocop japonês, Jiban? É, todos de fantasia, combatendo o crime. Mas eles também estão dafasados. Pior do que isso, as pessoas razoavelmente sensatas do ano de 2013 só consegue vê-los de duas maneiras: Reconhecendo o tom de ridículo de adultos fazendo poses e coreografias ruins em trajes coloridos, mas com aquele saudosismo pesado no coração; ou, como personagens realmente ridículos e OH MEU DEUS COMO EU ACHAVA ISSO LEGAL? Morreu, gente. O conceito morreu. Esqueceram de enterrar o defunto. Ninguém mais acha isso puramente legal e, vamos ser sinceros, você só não se mata ainda na abertura de Jiban por que a) te traz lembranças da infância, b) é uma música engraçada, ou c) você é um otaku hardcore, o que anula qualquer argumento seu antes mesmo de você falar.
Todas as vezes que vejo um Super Sentai sendo reprisado (Coisa que se torna cada vez mais rara, por sinal), um filme de monstros gigantes, uma notícia sobre o próximo filme de Godzilla, eu me pergunto: Vale à pena? Ainda dá dinheiro mesmo? Sei lá, mas acho que a não ser que seja uma coisa completamente inovadora, bem feita e absolutamente boa, tudo isso aí vai aos poucos caindo no ostracismo da cultura pop.
Vida longa e próspera.
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