As cinco melhores músicas do Lynyrd Skynyrd (Que você provavelmente ainda não ouviu)
Um top das melhores músicas de uma banda é provavelmente a coisa mais batida da esfera do entretenimento, só perdendo talvez pra xingar otakus. Então, pra ter sentido hoje, um texto como esse precisa de um diferencial. E a diferença é o que nós aqui do Bacon temos pra oferecer, mesmo que seja só a diferença da nossa opinião sendo lançada agressivamente contra a sua tela, caro leitor. Por isso, começa aqui a série cinco melhores músicas, de várias bandas. Na verdade, das bandas que os ilustríssimos redatores deste glorioso site gostam. E dentre essas, das que eles tiverem saco pra escrever. Enfim, vem comigo.
Claro, nossas listas são a representação da opinião de quem escreveu. Como isso aqui é (Supostamente) uma democracia, vocês estão livres para chorar nos contestar nos comentários ou até mandar um texto provavelmente tosco bem escrito e de bom gosto para cá, e demonstrar por que estamos errados. Boa sorte. Cê vai precisar.
Abrindo a série com chave de ouro (E este clichê maldito) temos Lynyrd Skynyrd, a banda setentista de southern rock do Alabama, Estados Unidos. É o que mais tenho ouvido ultimamente e, apesar de conhecer bastante, eles são pra mim uma banda de poucas músicas. Não por que poucas sejam boas – pelo contrário, é qualidade pra todo lado -, mas por que poucas realmente acharam o caminho dos meus ouvidos para o meu coração confederado. E essas poucas e boas são as que virão aí abaixo. Ah, e uma coisa: Free Bird e Sweet Home Alabama não estão nessa lista. Nem precisam, todo mundo sabe que são duas das melhores músicas dessa banda. Mas justamente por todo mundo saber é que resolvi ceder o lugar delas pras seguintes…
5 – Mississippi Kid
https://www.youtube.com/watch?v=NTPJykvbY1I
De todas as músicas nessa lista, Mississippi Kid é provavelmente a mais “country”. É a sexta faixa do primeiro álbum da banda, homônimo, de 1973. Perto das outras canções do mesmo disco e até dentre todas as outras, ela se sobressai bastante. A culpa é da presença e da batida do bom e velho violão de cordas de aço, invocando a visão de um sujeito mal-encarado. No Alabama. Durante a Guerra Civil Americana. Armado até os dentes. Aliás, a música meio que fala sobre isso, o que se vê já nas primeiras frases (Traduzidas livremente para o português moderno):
Eu tenho as minhas pistolas no bolso por que eu, eu tô indo pro Alabama / Eu tenho as minhas pistolas no bolso por que eu tô indo pro Alabama / Eu não tô procurando nenhum problema / Mas ninguém vai mexer comigo
Certo, cara. Tranquilo. A gente acredita.
Depois da metade da música, quando entra a gaita, você já está automaticamente fumando um cigarro de palha que você enrolou sem nem notar. Cê não sabe de onde o tabaco apareceu, mas provavelmente tem algo à ver com o solo da guitarra – onde nenhuma nota saiu sem slide – que tocou faz um minuto.
Pode fumar. Mas vá pro Alabama por sua conta e risco.
4 – I Got the Same Old Blues
https://www.youtube.com/watch?v=mppRbnj1AZA
Falando em armas, Gimme Back My Bullets é o disco lançado pelo Lynyrd Skynyrd em 1976. É um trabalho não tão bom quantos os anteriores, mas ainda assim é melhor do que aquilo que qualquer otaku ouve em uma vida. E sim, eu estou pegando no pé de vocês, meninas. Mas enfim, o ponto é que a quarta faixa desse álbum é I Got The Same Old Blues, uma legítima e certificada música de corno do Alabama. Sintam a vibe:
Você já ouviu o boato que tá correndo por aí / De que a minha garota tem um homem, senhor / Um homem lá do outro lado da cidade / É a mesma velha história / Me diz aonde isso vai acabar
Conhecendo a fama e o lugar, vai provavelmente acabar com o Ricardão e a vadia no cemitério, mas esse não é o ponto principal da música. I Got The Same Old Blues marca por conta da sua melodia funky, como se diria lá fora. Aqui, é o gingado mesmo. Sério, a malemolência dessa música é contagiante. Nem parece com as músicas de dor-de-cotovelo aqui da terrinha. Com southern rock você pode chorar as pitangas e ainda posar de fodão. Mas, quando é hora de ser sentimental…
3 – Simple Man
https://www.youtube.com/watch?v=Xqp1U6RoQaw
Sim, manter a pose é essencial para o homem-cabra-macho-do-sertão-do-Alabama, mas volta e meia todo mundo mostra o lado da emoção. E, para o homem-cabra-macho, o momento de fazer isso é quando fala na família. Simple Man é um marco, uma maravilha, que veio ao mundo como a quarta faixa do primeiro disco do Lynyrd. Começam os dedilhados, a bateria marca o ritmo, e vem a história:
Mamãe me disse, quando eu era jovem / Vem sentar do meu lado, meu único filho / Escuta bem de perto o que eu vou dizer / E se você fizer, isso vai te ajudar algum dia
As guitarras dão o tom, e ela continua:
Faça as coisas no seu tempo, não viva com pressa / Os problemas vão vir e eles vão passar / Ache uma mulher, baby, e você vai achar o amor / E não se esqueça que tem alguém lá em cima
E seja um homem simples / Seja algo que você ama e entende
Agora, sério. Não importa quem você aí é, se você é um hater ateu que não gostou da referência religiosa na estrofe, se você não gosta da banda – aliás, o que caralhos você tá fazendo aqui? – ou sei lá o quê. A música é uma mensagem. É das boas. É a conversa de uma mãe com um filho. E uma conversa da música conosco.
2 – Was I Right or Wrong
Originalmente, Was I Right or Wrong não fazia parte do segundo disco da banda, Second Helping, lançado em 1974. Na reedição de 1997 a música foi incluída como uma das três faixas bônus e listada como demo. De todas as músicas do Lynyrd Skynyrd, essa é provavelmente a mais trágica: Conta a história de um excluído, um sujeito que nunca ligou muito pra escola, não se importava com regras, nunca pareceu servir pra alguma coisa e viva sonhando, pensando que em quando o dia dele iria chegar de se tornar alguém. Seu pai costumava dizer que ele era um inútil. Daí, um dia, esse sujeito saiu de casa. E o dia dele chegou, na música. Conseguiu tudo que queria, “Dinheiro, mulheres, carros e grandes e longos cigarros”. Com sucesso e a vida ganha, pegou “o primeiro avião pra casa” pra esfregar na cara da família, principalmente do pai, o próprio sucesso. Mas, no refrão:
Mas quando eu cheguei em casa pra mostrar que eles tavam errados / Tudo o que eu achei, deus, foram duas lápides / Alguém me diz, por favor, eu estava certo ou errado?
Oh, mas que música triste / Primeiro eu me perdi, depois me achei / Mas aqueles que eu amo estão debaixo da terra / Papai, eu só queria que você pudesse me ver agora
Sem comentários.
E pra completar, antes de começar o solo, ele diz “Ouve só, pai”, e depois, durante os bends ele continua a frase: “Eu aprendi a tocar a guitarra”.
Psicólogos que curtem rock, façam já suas teses.
1 – The Ballad of Curtis Loew
https://www.youtube.com/watch?v=03TgkCVDlrA
Como todas as outras, a eleita por mim como melhor música do Lynyrd Skynyrd conta uma história. Ela saiu oficialmente como a quinta faixa do Second Helping e diferente da anterior, é uma música saudável até. É também uma canção calma, com os tradicionais slides na guitarra, um solo forte e letra muito bonita. Aliás, queria até que o que ela conta tivesse acontecido comigo:
Eu costumava acorda de manhã / Antes do galo cantar / Procurando por garrafas de refrigerante / Pra conseguir alguma grana
Levava elas até a esquina / Pra loja local / Tirava o dinheiro e dava ele pra um cara chamado Curtis Loew
E sobre esse que dá nome pra música:
O velho Curtis era um negro, com cabelo branco e enrolado / Quando ele tomava um pouco de vinho, não ligava mais pra nada / Ele tinha um velho violão, que ele tocava em cima dos joelhos / Eu dava todo meu dinheiro pra ele e ele tocava música pra mim o dia inteiro
O narrador tinha “talvez uns dez anos” e o velho negro “parecia ter uns 60”. Todo mundo dizia que o velho era um vagabundo, um inútil, e apesar da mãe do garoto proibir ele de pagar pra ouvir o blues de Curtis, ele continuava indo. Mas, “no dia em que Curtis morreu ninguém veio pra rezar; o velho pastor disse umas palavras e puseram [Curtis] debaixo do barro”.
Curtis Loew “viveu uma vida inteira tocando o blues do negro; e no dia em que perdeu a vida, era tudo que ele tinha pra fazer”.
Curtis foi o melhor tocador de blues que já existiu.
E eu acredito. Nada mais a declarar.
Vida longa e próspera.
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