UFC 167 – GSP vs. Hendricks: Garfado ou não?

Televisão terça-feira, 19 de novembro de 2013

Sempre que paro para assistir uma defesa de cinturão sinto algo diferente na barriga. E não estou falando de gases. Perco o sono, minhas mãos ficam nervosas e eu não consigo ficar quieta no sofá. Com a luta do UFC 167, a comemoração de 20 anos da organização, não teria como ser diferente. Apesar de não ser grande fã do modo burocrático de Georges “Rush” St. Pierre lutar, seu desafiante Johny “Big Rigg” Hendricks me anima. Fora a técnica do lutador de 30 anos, que contabiliza 15 vitórias e 2 derrotas em seu cartel no MMA, ele gosta do que faz. Está sempre sorrindo, mesmo durante os combates, e não tem medo de ir pra frente e encarar as adversidades. Em suma, o cara é foda. Mas foda o suficiente para destronar o campeão?

Obviamente Hendricks era o underdog e ninguém imaginava o tamanho da controvérsia que a vitória de GSP causaria no combate de 25 minutos, afinal, era o esperado. Mas foi tudo um tanto quanto esquisito. O desafiante chorou em cima do octagon, atestando que a luta que havia sido julgada não era a mesma que ele havia lutado, o campeão pareceu um pouco surpreso e, arrisco, meio de saco cheio. Dana White ficou puto, apontou os dedos, bradou seus fucks, falou em como a luta havia sido um roubo e sobrou pra todo mundo. Desde a Comissão Atlética de Nevada, os juízes e até para Brian Sandoval, governador de Nevada, que não tem lá muita cara de curtir MMA. O fato é que Johny Hendricks é foda o suficiente para destronar o campeão. Mas será que realmente assaltaram o americano e arrancaram o cinturão de suas mãos? Quantas perguntas!

O culpado pela derrota do Hendricks e também pelo tufão nas Filipinas.

A luta foi parelha. Enquanto Johny Hendricks foi mais agressivo e estampou seus golpes no rosto do campeão, GSP sabe melhor do que ninguém manejar um combate e pontuar. O canadense venceu o 3º round, não de forma tão contundente, enquanto no 5º, neutralizou as ações de seu adversário. Porém, no 2º e no 4º round foi a vez de “Big Rigg” literalmente espancar o menino dos olhos de Montreal. Foi uma saraivada de uppercuts, joelhadas e golpes de esquerda. Mas foi o tal do primeiro round que deixou o mundo coçando a cabeça, meio confuso, com os rumos do main event.

De acordo com o blog FightMetric, Hendricks desferiu 27 golpes, destes, 18 foram significativos. Já Georges St. Pierre, teve 19 golpes significativos, de 26. O campeão ainda tentou colocar seu oponente pra baixo duas vezes, tendo sido bem sucedido em uma. De acordo com a mídia especializada, levando em consideração agressividade, controle do octógono e efetividade dos golpes, o round teria ido para o underdog. E eu concordo com a vitória do “Big Rigg” que, julgando pela face do Rush, foi muito mais efetivo no combate. Mas as lutas não são julgadas pelo dano causado/sofrido, ou pelo sangue espalhado pelo chão. O fato, os fãs gostando ou não, é que a luta foi muito disputada e que o primeiro round, que de fato poderia definir o resultado, foi tão equilibrado que qualquer campeão poderia sair dos score cards. E foi o que aconteceu. GSP venceu por decisão dividida, 48 a 47. Chamem do que quiser, mas com um início de luta tão lá e cá como aquele, é impossível classificar qualquer decisão como roubo. E acreditem, se existe algum hater do canadense nesse mundo, esse alguém sou eu.

Obviamente eu entendo a frustração de Johny Hendricks (Por quem eu torci como se fosse um parente), que lutou no seu máximo e tirou o campeão da sua zona de conforto, demonstrando toda a tranquilidade de um monge budista no processo. Mas infelizmente nenhum dos dois fez o suficiente para provar sua soberania. Enquanto um lutador voltou para casa com o cinturão nas mãos, mas popularmente chamado de perdedor, o outro voltou como o vencedor moral, mas sem a posição oficial no ranking e sem as regalias que a vitória oferece.

Um foi atropelado por dois trens. O outro foi passear com a família nos Jardins de Monet.

O UFC 167 comemorou duas decadas de uma organização que só faz crescer e que lucra milhões de dólares por ano, mas que ainda dá ares de amadorismo. Acredito que demorou para Dana White se dar conta das deficiências do sistema. Inclusive isso já é evidente faz tempo. Alguns árbitros e juízes são tão estúpidos que até minha mãe faria um trabalho melhor, ainda que estivesse vendada. E mesmo com tantas falhas, não vimos o presidente do Ultimate Fighting Championship falando tantos fucks em rede mundial em decisões realmente injustas e garfadas, o que – reitero – não foi o caso em GSP vs Hendricks.

Espero que a gente possa finalmente compreender, a partir de agora, quais são os critérios realmente empregados pelos juízes nesses combates. O que está na regra todos sabem, mas a dúvida reside no que – de fato – influencia na marcação de pontos para esses sujeitos. E eu espero que sejam cada vez mais raras decisões controversas, como no combate entre Sarah Kaufman e Jessica Eye, ou Phil Davis vs. Lyoto Machida. E que, nunca mais um atleta seja apagado por outro de forma ilegal e permaneça como o vencedor, como no caso da luta ente Gabriel Gonzaga e Travis Browne, em que o brasileiro levou cotoveladas ilegais na nuca até ser nocauteado. Criar comoção em eventos de grande porte não adianta. Está na hora das Comissões Atléticas (Não apenas a de Nevada) treinarem esses caras e apertarem a fiscalização, avaliando se estão trabalhando direito. Em nome da higiene do esporte, que apesar de ser marcado por sangue e suor, se estabelece nos fundamentos mais dignos das artes marciais.

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