Minha vida com Liberace (Behind the Candelabra – My Life With Liberace)
Filme biográfico inspirado no livro “Behind the Candelabra: My Life With Liberace”, escrito por Scott Thorson, aborda o relacionamento entre Liberace (Michael Douglas) e Thorson (Matt Damon), quando se especulou que o pianista tinha uma relação homossexual.
Se tem uma coisa que presta na NET, é o serviço Net Now. E se tem um canal que se sobressai, trazendo boas novidades no âmbito das séries e filmes, é a HBO. O trailer de Behind the Candelabra surgiu no inicio de outro ótimo filme, Killer Joe. A primeira coisa que me chamou a atenção é que foi feito para a TV. A segunda é que foi dirigido por Steven Soderbergh e estrelado por Michael Douglas e Matt Damon como um casal gay. Uau. Comentando com meu pai, amante de cinema tanto quanto eu, acabei mostrando a sinopse. E foi ai que reconheci minha completa ignorância, já que descobri que o filme era baseado em fatos reais e contava uma parte da história do pianista e showman, que eu até então desconhecia, Walter Liberace.
O filme é baseado em um livro homonimo, escrito por um ex amante de Lee (Como o pianista gostava de ser chamado pelos íntimos), que devassava completamente a vida do artista. Isso porque Liberace, até o dia da sua morte, negou veementemente ser homossexual. Apesar de ser visto constantemente ao lado de amigos belos, sarados e jovens e raramente com amigas, ele alegava que já tinha sido noivo e que não se casaria sem conhecer a mulher ideal. Scott Thorson contava, obviamente, uma história diferente.
O ano é 1977. Aos 17, 18 anos, o belo Scott Thorson – retratado pelo ainda mais belo Matt Damon – conheceu Liberace em um show em Vegas. Apesar de eu, ou parte da minha geração, nunca ter ouvido falar no homem, ele fazia um enorme sucesso no mundo todo. Não era apenas um grande pianista, mas um artista incrível, de muito magnetismo. E riquissimo, o que conquistaria e aprisionaria o jovem Thorson em um relacionamento doentio por aproximadamente 6 anos com Lee, uns bons 40 anos mais velho. Apesar de ser um relato pesado, onde presenciamos a degradação do caráter de uma pessoa vulnerável, já que o jovem passou a vida indo para diferentes lares adotivos, é estranhamente agradável de assistir. Não apenas pela clandestinidade da relação, porque eu nunca havia ouvido falar de Liberace, mas pelas peculiaridades da vida particular e do caráter do showman, que era um cara de hábitos esquisitos.
Michael Douglas se despiu completamente da vaidade para incorporar o artista. Alternando apliques de cabelo extravagantes com uma calvice igualmente falsa, era quase impossível reconhecê-lo em cena. Barrigudinho e com peito murcho, nada restou dos grandes magnatas que já representou. Os casacos de pele com longas caudas, as joias, os carros e a voz anasalada contribuíram para a construção do músico no filme. Tudo em Lee tinha que ser fora do normal. Ainda assim, Douglas conseguiu imprimir humanidade nessa personalidade que parecia estar fingindo o tempo todo. Desde a vigorosidade do homem relativamente mais velho, até a fragilidade dos últimos dias, a atuação foi impecável. Matt Damon também se saiu muito bem em seu papel como Scott. Como o relato era do próprio, ele se colocou como a grande vítima na história. Como se fosse a Chapeuzinho Vermelho e Liberace fosse o Lobo Mau. Mas acho que ator, direção e roterista não se deixaram enganar pela pose de bom moço enganado. Era óbvio o interesse financeiro e a exploração. E era óbvio também que não havia amor. Ele era um prostituto, foi contratado para isso. Um prostituto cujo gigolô demorou para enjoar.
A maquiagem foi outro ponto alto. Rob Lowe aparece praticamente desfigurado como o médico Jack Startz, um sujeitinho bizarro. Michael Douglas, nem se fala! Mas o destaque fica para o trecho em que o amante do pianista se submete – a pedido de Liberace – a uma cirurgia plástica para ficar parecido com o namorado. “Imagina não se reconhecer no espelho?”, pergunta o jovem confuso a um amigo, que o responde apenas apontando para a bela vista da mansão, que dava para todos os carros de luxo que ele poderia usufruir se continuasse sendo o protegido do músico e fazendo suas vontades. É agoniante ver no que duas pessoas podem se transformar. Uma, pelo poder. Outra, pelo dinheiro.
Matt Damon e Michael Douglas fizeram muito sexo em Behind the Candelabra. Acho que é a única parte da história em que Lee e Thorson concordariam, já que o relacionamento terminou de forma horrorosa. A história foi escrita e publicada depois da morte de Liberace (Que deve estar se revirando no túmulo, diga-se de passagem), em decorrência de complicações da AIDS, o que aumentou ainda mais os rumores sobre sua sexualidade, já que na década de 80 o HIV era diretamente relacionado aos homossexuais. O pianista, aliás, foi a segunda grande personalidade da mídia a morrer graças a doença. Rock Hudson foi o primeiro, e a repercussão da morte do ator fez com que ele escondesse a doença até onde foi capaz.
Ao contrário de Lee, que teve a vida interrompida em 1987, Thorson seguiu em frente. Não que tenha sido por um caminho bom. Se envolveu com perigosos traficantes, foi preso inumeras vezes – inclusive esse ano – e atesta, desde 2004, que além de ter sido amante do grande Liberace, teve um caso tórrido de 7 anos com Michael Jackson. O cara parece ter transado com todas as personalidades de Hollywood, mas jura de pé junto que a bunda tá intacta. É impossível dizer o que é verdade e o que é mentira e esse é o único ponto fraco de Behind The Candelabra. Conhecemos a história de um homem mentiroso e aproveitador, que nunca conseguiu andar com as proprias pernas. Mas os mortos não falam e seu amante ficou sem defesa, pintado como um comedor de menininhos órfãos. Uma pena. Adoraria assistir Matt Damon e Michael Douglas encenando um lado b do filme. Ok, ok… Só quero ver os dois se pegando de novo.
Minha Vida com Liberace
Behind The Candelabre: My Life With Liberace (118 minutos – Drama)
Lançamento: EUA, 2013
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Richard LaGravenese, Scott Thorson e Alex Thorleifson
Elenco: Matt Damon, Michael Douglas, Rob Lowe
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