5 músicas de Jazz para gente chata
Recentemente o meu colega Júlio Kirk publicou uma lista com 5 músicas de jazz para desconstruir o estereótipo de jazz como música chata para pseudo intelectuais. Eu, como pseudo intelectual, resolvi fazer uma lista para reconstruir.
O jazz, como bem colocado por ele, foi em algum momento do século XX a música mais popular dos EUA. Não falarei do mundo, afinal é muito complicado afirmar, sendo que a indústria cultural não era tão forte naquela época. O jazz era uma espécie de MPB americana. A verdade é que muita coisa era chamada de jazz. As big bands, Sinatra, as grandes cantoras americanas e o instrumental. Entretanto, a diferença entre cada grupo é gritante, nem mesmo podendo se afirmar que fazem parte do mesmo tronco musical. O meu estilo de jazz predileto é o instrumental, aberto a improvisação, do tipo que hoje em dia é mais conhecido e considerado difícil de se escutar.
Este jazz tem uma ligação muito forte com os guetos e com a contracultura americana. Quem já leu On the Road compreende a ligação que vários estilos de jazz, como o bebop, têm com os marginais, com os vagabundos, com os beats. É uma música acelerada, frenética e ao mesmo tempo sensitiva. Kerouac descreve os sentimentos que seus personagens extravasam ao ouvir um solo de sax, ou de trompete, de maneira que você sente a visceralidade da música.
Eventually – Ornette Coleman
Esta música é a segunda do álbum The Shape of Jazz de Ornette Coleman, considerado um dos mais importantes músicos de free jazz. Esta é a canção síntese do disco pois demonstra claramente os rumos que o disco tomará e qual é a intenção do compositor. Totalmente imprevisível, suas melodias chegam até a soar estranhas. O sax frenético é acompanhado pelo contrabaixo com muito vigor. Coleman ainda é vivo até hoje e o disco data de 1959.
http://www.youtube.com/watch?v=WoC69lxnS_Y
Moanin – Charles Mingus
A música começa com com os metais vagarosamente, e vai subindo até se tornar uma miscelânea de instrumentos em perfeita harmonia. A canção não possui aquela aura de improvisação, mas goza de uma perfeição melódica impressionante. Os solos dos instrumentos são perfeitamente executado. Metais, teclado e atenção especial para o contrabaixo de Charles Mingus, talvez o maior mestre do instrumento em todos os tempos.
Freddie Freeloader – Miles Davis
Coincidentemente, a segunda música de um disco de 59, Freddie Freeloader é minha canção predileta do mítico disco Kind of Blue. Ela possui uma montagem bem clássica, com um baixo ritmado e um piano liderando a música e as eventuais intervenções do trompete de Davis. Miles Davis é provavelmente o compositor de jazz mais importante da história, criou diversos subgêneros e encabeçou a maneira de se fazer no estilo na segunda metade do século XX.
Gamboa – Hermeto Pascoal
Você já deve ter visto Hermeto Pascoal por aí. É aquele tiozinho grisalho que toca aquele instrumento que parece um teclado de sopro, também conhecida como escaleta. Gamboa é uma pequena música desse jazz antropofágico que Pascoal faz. O disco Brazilian Octopus como um todo é bem interessante, mescla a música música brasileira muito bem com o estilo americano.
All Night Long – Kenny Burrell
Uma peça de guitarra calma e bem introspectiva de um dos grandes guitarrista do jazz Kenny Burrel. Nesta música a guitarra reina soberana com um ótimo acompanhamento de bateria, mas contando as vezes com o contraponto do baixo, que em certo momento toma o lugar de instrumento principal da peça. A música é executada ao vivo no disco A night at the Vanguard.
http://www.youtube.com/watch?v=62YLM2LmqZg
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