Meu Ordinário Talento

baconfrito terça-feira, 18 de agosto de 2015

Diferentemente dessa gente bem sucedida e as celebridades da internet de meu deus eu nunca fui uma criança prodígio. Não escrevia livros aos quatro anos de idade, não fazia referências à Rubik Kubrick aos sete e definitivamente não tocava a música do caminhão de gás, de trás pra frente, na sanfona aos nove. Isso é um jeito meio chique de se dizer que eu era uma criança normal: Fui pra escola pra aprender a tocar instrumentos, fui pra escola pra aprender ler e fui pra escola aprender que foda-se aquela porra de cubo.

Mas neste final de semana eu resolvi dar uma lida numas paradas que eu escrevi uns anos atrás.

E a maioria é um lixo, como seria de se esperar. Não tinha nenhuma ilusão quanto à isso, fiquem tranquilos, mas a questão não é diretamente a qualidade, mas o fato de que você pode voltar uns anos no passado e ler coisas que escreveu na época… Mas estou me adiantando.

Quando falo de coisas de uns anos atrás estou falando do distante ano de 2011 pra frente. Nunca fui do tipo que guarda cadernos da pré-escola, retratos, desenhos do ensino fundamental e nem nada disso, algo que mamãe e papai também só fizeram até eu terminar meus estudos básicos: Até lá, eu poderia precisar, dalí pra frente era só um monte de papel. Até tem uma ou outra coisa guardada, mas são exceções. Não, estou falando de coisas que eu mesmo escrevi e guardei, provavelmente na vã esperança de que algum dia eu terminaria de escrevê-las.

Não é muita coisa, na real: Umas histórias, algumas ideias pra livros, contos… Nada muito desenvolvido. É o tipo de coisa que eu escrevia quando me vinha alguma ideia que achava legal ou quando não tinha nada para fazer. A maioria das coisas do tipo foram pro lixo e agora habitam o mundo das ideias perdidas, junto dos vários arquivos em blocos de notas pra celular que escrevi e perdi ao longo dos anos.

Mas então chegou o fim de semana, e trouxe junto a vontade de usar a máquina de escrever, algo que não fazia há mais de ano… Como quem está na chuva é pra se molhar, por que não pegar o que eu já tinha escrito nela e dar uma lida… Não dava pra ser tão ruim assim. E verdade seja dita, no meio daquelas pouco mais de cinquenta páginas, até encontrei coisas boas. A melhor provavelmente é um texto que escrevi sobre o Natal, aqui pro Beico, uns anos atrás… Uma única página, em papel A4 amarelo (Porque sulfite branca tinha acabado), escrita numa máquina de escrever de mais de setenta anos, sobre o Natal. Por razões desconhecidas o Pizurk rejeitou o texto… Sou uma puta rancorosa.

Nota do editor: TENTE OUTRA VEEEEEEEEEEEEEZ!

Entre alguns rascunhos de textos que acabaram sendo de fato desenvolvidos e publicados no meu bom e velho blog, estavam também as já citadas ideias para outros textos, para contos e romances. Sou o tipo de gente que tem várias ideias sobre várias coisas… Também sou o tipo de gente que não as anota porque tem certeza que ainda vai lembrar delas depois, o que nos leva ao fato de eu guardar com cuidado as poucas que me dei ao trabalho de botar no papel. E vou falar-lhes: Ainda gosto delas. Não que sejam geniais nem nada, só que são ideias interessantes, que se fossem trabalhadas poderiam ter resultados interessantes… Resultados que eu leria.

Junto dessas ideias há também as frases, parágrafos e troços desconexos que escrevo por impulso. Comumente quando quero fazer alguma coisa (Escrever, desenhar, pintar, etc.) mas não encontro inspiração o suficiente passo pra um estado em que tudo que surge na mente, eu executo. A maioria é lixo, mas eventualmente sai algo que passa de seus dois ou três segundos iniciais e se estende um pouco mais, e pra ser completamente sincero com vocês e comigo mesmo, nem eu mesmo as entendo depois. O mesmo rola com textos completos que escrevo: Sigo a corrente de pensamento em que estou enquanto escrevo, e assim que termino de escrever, esta está perdida para sempre. Pode parecer burrice (E provavelmente tem um grau disso mesmo), mas a verdade é que eu me divirto com isso: Não só por notar que boa parte não faz sentido nenhum pra ninguém a não ser eu mesmo (E só enquanto eu escrevia, lembrem-se), mas também porque isso significa redescobrir algo que eu mesmo fiz, dando novos sentidos àquele monta de baboseira que não lembro mais o que significa, e se me permitem ser um pouco brega, isto tem sua dose de magia.

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Essa doideira melhorou um pouco com o tempo. Pra falar a verdade mesmo, minha escrita melhorou bastante com o tempo… Não que seja grandes merdas, mas se for comparar com o que eu já escrevi, é um avanço, e eu me orgulho dele… Tipo aquela cagada monstra que cê dá depois de comer três pratos de feijoada e uma tapioca de brigadeiro com goiabada. Mas deixando a gastronomia e voltando pra escrita, não só me mostrou que já fui bem pior do que hoje, como também me mostrou que mesmo naquela época, quando eu era pior, ainda saía uma ou outra coisa decente. Não dou muita bola pra minha auto-estima, primeiro porque ela é uma vagabunda e segundo porque é uma palavra que me dá meio que um nojinho de usá-la depois que ela ficou tão popular com a galera da laje, mas estaria mentindo se eu dissesse que ela não ficou um pouquinho melhor depois de ler os troços.

Mas dessa história toda, a coisa mais legal que aconteceu em consequência de ter aberto a máquina e pego as páginas já escritas é que, no meio delas, encontrei algumas coisas que, na minha memória, eram diferentes. Tenho lá, manuscrito, um texto que fiz (Ao que lembro) pr’O Crepúsculo. Pra quem não sabe, O Crepúsculo foi/é um blog com temas diversos, e que por um curto período de tempo eu fiz parte… Não, não tem nada a ver com vampiros. “Vampiros”. Aliás, indo fuçar nos arquivos ainda dá pra achar alguns dos meus textos. Seja como for, tenho o manuscrito de um texto que eu jurava que tinha escrito pr’O Crepúsculo e que tinha sido publicado: Pode ter sido mesmo, já que parte dos textos foi apagado na reforma que o Turambar fez na pocilga, mas eu não tenho certeza. Não achei em lugar nenhum na internet, pelo menos. Mas está lá, e é um texto que eu gosto. Mudaria algumas coisas depois de relê-lo atualmente, é verdade, mas em sua grande maioria, ficaria igual: Eu sequer lembrava do final que tinha dado, e descobri-lo como leitor, tendo, na metade da leitura, tentado lembrar se tinha terminado deste ou daquele jeito, foi bem legal.

Vocês entendem isso? Já estiveram nesse lugar? Tornar-se espectador de sua própria obra.

 Juro que isso não será meu epitáfio.

E assim chegamos à parte final dessa história toda… Não vou mentir, tem coisas lá que não li. Sei as linhas gerais de algumas delas, ainda que não lembre do todo, mas já é o suficiente… Prefiro que fiquem guardadas mais um tempo, “por motivos pessoais”. E não, não é minha certidão de adoção, essa fica presa na geladeira. Fiquei muito tempo longe daquela máquina, das coisas que escrevi nela ou simplesmente durante aquele tempo, e relê-las me fez bem. Simples e clichê assim. Mas calma que piora: Relê-las me deu vontade de retomar um antigo projeto que já tinha. Tão lá as quase trinta páginas de algo que comecei, levei em frente por um tempo e depois larguei, e depois de relê-las, me deu vontade de reescrever tudo, acertar o que preciso acertar, fazer alterações… Talvez conte sobre isso qualquer dia.

Quando era mais novo achava que a nostalgia seria uma grande parte da minha vida, e de fato foi por um ano, um ano e pouco, mas depois deixou de fazer importância. Não fico lembrando da época da escola, das manias, dos anos 80 90, da cultura pop… Esta viagem através das coisas que escrevi não deixa de ter sua parcela de nostalgia, afinal foram escritas numa época que minha vida era até que bem diferente do que é hoje, mas as melhores coisas que tirei dela não foram por lembrar do que já passou, mas por experimentar coisas novas à partir delas… Esse parágrafo todo é muito fofo e tal, mas o que quero dizer com ele pode ser resumido em poucas palavras: Anotem essas merdas que vocês criam.

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