Propaganda Enganosa
Sabe uma coisa que me fode? Carros clássicos em clipes safados de música. Que nem no CDS dessa semana. Não pelo carro em si, eu gosto de carros, mas porque eu sei que qualquer um desses músicos bunda mole não dirige um carro desses. Porque eu sei que o carro que tá alí foi alugado, emprestado ou até roubado, mas só está alí de enfeite. De fato, o carro praticamente não é usado, quando muito fazendo as vezes de sofá pra nego pagar de foda no clipe. Eu ficaria fodido da vida se nego pisasse na porta do meu conversível pra subir nele, ou se uma piranha qualquer ficasse se esfregando no capô cheio de espuma pra parecer sexy. Desce daí, minha filha, tá riscando a pintura.
Outra coisa que me fode terrivelmente tem à ver com o texto da semana retrasada: Trailers/clipes/propagandas de jogos que não mostram o jogo mesmo. Esse tipo de coisa é velho na indústria, e vira e mexe faz todo fã de Final Fantasy molhar as calças, mas com o crescimento dos jogos para navegador e nos celulares, tem atingido níveis muito maiores que antes.
É a típica putaria pra chamar gente prum jogo que, na verdade, é um lixo. Porque afinal de contas, gráficos importam. É o tipo de coisa que não é ilegal, mas que é de tamanha filha da putice que me enraba de quatro e sem lubrificante. Sério, olha essa merda:
Legal, não? Gráficos legais, ação, dragões, mapas gigantes, exércitos inteiros.
Esse tipo de recurso sem vergonha é usado em larga escala pra esses jogos de estratégia em miniatura: É verdade que, muitas vez, há sim grande empenho no jogo e, vez ou outra, este é de qualidade, mas também é verdade que o jogo te interessa por causa da animação 3D cheia de recursos, câmeras, ação realista e os caralhos, e aí quando você vai jogar é essa merda de visão aérea, com os elementos visuais pequenos e, de forma geral, um selecione-e-clique para jogar, ao invés de você de fato controlar os personagens.
É mais que pura frustração, é propaganda enganosa.
Falando nisso:
Acompanho essa porcaria desde o fim da primeira temporada: Isso tem quase 8 anos. A primeira temporada foi boa, a segunda foi melhor, a terceira foi metade foda e metade porcaria e aí um urso com lepra estuprou toda a equipe de produção e agora essa bosta só não está pior que a quinta temporada. Bazinga. Eu acompanho esta série mais por orgulho que por qualquer coisa, porque como todo mundo sabe, The Big Bang Theory é uma mentira. Com a décima temporada já programada, é quase que uma tortura assistir o troço: A série nunca teve nada de nerd, isso é óbvio desde o começo pra qualquer um que queira assistir, mas o problema é que esta se vende como uma série inteligente, feita com cuidado e com personagens interessantes… É, não tem nada disso. The Big Bang Theory é uma série burra, feita de forma desleixada para agradar idiotas com piadas insignificantes recicladas de Friends e Seinfeld… Só que sem os cabelos ruins da década de 90. Verdade seja dita, isto é uma vitória.
Só que não é real… O que nos leva diretamente pros livros.
Não, você não teve um derrame e está enxergando errado, é mesmo um cavaleiro medieval montado num dinossauro, com uma recomendação do gordo fanfarrão mais famoso dos últimos tempos, e uma arte de capa mais clichê que as piadas do seu tio avô.
Tenho um grande problema com épicos medievais, e os principais motivos são três: Primeiro que a gigantesca maioria deles tenta ser O Senhor dos Anéis (E todos sabemos que isso não vai acontecer); segundo porque na gigantesca maioria do tempo eles sempre querem fazer o público acreditar em explicações esdrúxulas para cenas que ficariam bem numa adaptação pra cinema (Ou, mais recentemente, pra HBO) mas que são uma bosta; e terceiro porque os autores dessas porcarias tendem a ser um bando de viúvas carentes acerca do lixo de gostam de consumir.
Em outras palavras, sempre tem uma luta entre o bem e o mal (Ainda que esta esteja disfarçada de “política”), algum herói improvável fazendo coisas impossíveis porque ele é o escolhido (E nem digo “impossíveis” como voar, usar magia ou coisas assim, mas impossíveis dentro do próprio universo do livro – forçação de barra mesmo) e reciclagens de coisas que você já viu antes: Robôs gigantes, dragões, dinossauros, itens mágicos poderosos, guerras entre raças de criaturas, guerra entre famílias, o reino decadente, um mapa do mundo no apêndice.
Quando Aquiles resolveu botar os pés num barco e atravessar meio mundo pra fazer o pau quebrar, aquilo foi épico. E, vejam só, tem deuses, magia, criaturas fantásticas, guerras e tudo mais… Claro, tendo sido escrita mais de dois mil e setecentos anos antes do resto, a Ilíada tem vantagem, mas quanto à questão, digo isto: Os dois mil e tantos anos que vieram depois já não provaram que o que importa, ao menos quando se trata de literatura, não é o fantástico?
Os melhores livros do século XX foram todos completamente não-fantásticos, ainda que a fantasia seja parte de muitos. O Século XXI vem trazendo essa coisa da alienação e da fuga de mundo de volta, mas todo o resto, do romance com canções debaixo da janela à vasos especiais, da decepção com o mundo ao patriotismo, da pregação monástica à sátira social, todo o resto mostra, vez após vez, que o épico não importa. A melhor literatura é mundana.
Por que insistem em mentir para o público? Por que nós insistimos em mentir uns para os outros? Tá, lucro, fama, popularidade, pesquisa de mercado, oferta e procura, índice de satisfação, audiência, mas… E daí? Porque é falho. É raso, dispensável, fútil: Se a guerra estourar, o mercado quebra porque tais recursos serão redirecionados. Ninguém vê novela durante bombardeio.
Enquanto isso, o importante (E não só o mundano) é necessário. É básico, é desejável e vontade. “Todo mundo precisa comer, todo mundo precisa de médico”: O que é preciso vende porque é preciso. Não é mercado, é indispensável. Se a guerra estourar o mercado cresce porque mais do que nunca tais recursos serão precisos para se continuar vivendo. Para se continuar vivo.
Aos produtores, desenvolvedores, criadores: Parem de mentir para si mesmos, porque se a guerra estourar, seu público não morre, mas vai ser obrigado à ir para o campo de batalha, e não dá pra dizer que a guerra tem carros encerados, bons gráficos, piadas inteligentes e armaduras brilhantes. A guerra é real.
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