Frescura visual

Cinema, Games segunda-feira, 16 de maio de 2016

Acho que, a esta altura do campeonato, já dá pra todo mundo concordar que reclamar de efeitos especiais é o mesmo que dizer que o mais importante num jogo são os gráficos, né?

 PC Master Race.

Tanto os gráficos dos videogames quanto os efeitos especiais do cinema fizeram o mesmo caminho: Surgiram, passaram as próximas décadas se desenvolvendo, passando por diversas tecnologias e diversos usos diferentes, e já há uns anos chegaram a um patamar em que, daqui pra frente, não é mais uma questão de “melhorar”, mas de refinar. Não que refinar não seja uma melhoria, mas não é um salto de qualidade.

Já há vários e vários anos um personagem de videogame é reconhecido por nós, seres vivos reais, como o que ele representa, seja um ninja, um zumbi, um cachorro, um monstro ou até mesmo uma pessoa normal. E o mesmo vai pro cinema, um dragão é um dragão, uma criança possuída é uma criança possuída, uma nave alienígena é uma nave alienígena. A questão é muito simples: Mesmo o pior dos gráficos, hoje, e o pior dos efeitos especiais, cumprem seus papéis, que é representar algo “real” dentro da realidade da obra em questão. Por pior que o elemento visual seja, e, às vezes, é ruim pra caralho, ninguém confundiria uma coisa com outra. Claro, o típico “o monstro é feito de capim com piche e pode mudar de forma, como foi que não notaram antes?!” ainda acontece, mas nesse caso é melhor você chamar isso de “sucesso” e calar a boca.

O problema é um tanto óbvio: Nego gosta de encher o saco. E eu falo por experiência. Mas esta reclamação específica de “os efeitos especiais tão ruins” é o mesmo de “os gráficos caíram pra 28 fps”. É irrelevante. Nós literalmente atingimos o ponto em que, em qualquer produção, seja nos jogos ou seja no cinema, o pior resultado possível ainda é bom. Com a quantidade de recursos hoje disponível, da capacidade dos computadores à experiência dos profissionais, de orçamento à tempo de produção, é necessário esforçar-se para ter resultados ruins.

Você tem que fazer força pra ser ruim.

Qualquer pessoa, hoje, com um computador minimamente decente e um tempo livre consegue criar efeitos e gráficos melhores do que os de dez anos atrás. Qualquer curta em animação atual tem mais polígonos (Aposto que cê não ouvia em polígonos há uns anos) que jogos inteiros do PlayStation 1. Qualquer jogo de hoje humilha até mesmo superproduções do cinema como Senhor dos Anéis.

É, cada vez mais, redundante falar em efeitos especiais numa resenha. Simplesmente não tem motivo, a não ser que os mesmo sejam ruins. A não ser que os responsáveis por tais efeitos tenham se esforçado para torná-los ruins. E sendo este o caso é muito mais um problema de auto sabotagem que deve ser lidado de forma gerencial (Afinal, é um negócio, é um produto, um cliente) do que um problema de falta de capacidade de criar tais efeitos.

Deve-se fazer uma pequena diferenciação entre os filmes live action que incluem efeitos especiais e, no outro grupo, os video games e as animações em 3D, porque afinal de contas, os jogos e as animações são construídos inteiramente através de computadores, enquanto que os efeitos especiais devem lidar com o “mundo real” à sua volta. É verdade que por mais que a computação gráfica tenha avançado esta ainda está longe de chegar perto da realidade, do que nós somos capazes de ver, mas também é verdade o que foi dito anteriormente: Se nenhum esforço for feito para piorar o resultado, o resultado será bom o suficiente para cumprir seu papel. O que não cumprirá seu papel, na verdade, são os elementos reais.

O grande desafio de um efeito especial que lide com o resto real é se encaixar com esse real, e isso não é um esforço unilateral. Muito pelo contrário, é papel do real propiciar o ambiente para que isto aconteça. Seja um carro explodindo, seja um ator interpretando um anjo (E que, portanto, tem asas), se o real não permite (Ou tem problemas em permitir) que o computadorizado “faça seu trabalho”, deve-se alterar este real. O efeito especial pode ser qualquer coisa, mas este não vai funcionar se a iluminação estiver errada, se a câmera usada não for a correta, se o objeto em cena que terá efeitos visuais feitos sobre ele estiver numa posição errada, ou ainda se o ator não interpretar o que tem que interpretar para tornar o efeito especial crível. A culpa da reclamação que o efeito especial leva passa a ser do que é real, afinal, o efeito é só uma ferramenta dentro da obra como um todo.

Essa briga dos gráficos e efeitos especiais computadorizados já foi passada antes, mas justamente com os efeitos práticos. É fácil pensar em Jurassic Park, mesmo hoje, mais de 20 anos depois, sem falar como os robôs e animatrônicos foram bem usados, mas é preciso lembrar que para chegar lá foi necessário décadas de desenvolvimento em robótica, maquiagem e paleontologia. Do mesmo modo que é preciso lembrar da maquiagem protética, marionetes, roupas de monstros, modelos em escala, stop motion, pirotecnia, cabos para fazer os atores voarem e, por fim, o uso dos dublês. Talvez a forma de efeitos visuais que tenha mais sofrido com essa história toda tenha sido os em animação 2D, afinal, era uma forma extremamente comum que, dos anos 90 pra cá, foi quase que totalmente deixada de lado.

 Sempre acho estranho que as capas desses filmes são piores que os filmes em si.

Seja como for, atualmente dizer que um efeito especial é bom é exatamente o mesmo que dizer que um jogo tem bons gráficos. É irrelevante. Não quer dizer que nenhum dos dois é perfeito, mas se eles são competentes ao ponto de não fazerem diferença, não importa. Com tudo ao nosso alcance os efeitos especiais de um filme tem que ser bons. Os gráficos de um jogo tem que ser bons. É fácil ter bons gráficos, do mesmo jeito que é fácil ter bons efeitos especiais. Literalmente não dá pra pegar o After Effects ou a Unreal Engine e esperar resultados abaixo de um certo patamar. Você pode não saber usar o que tem, claro, mas sabendo usá-los o resultado terá uma qualidade que, anos atrás, não era sonhada.

Nada do que eu falei até agora significa que as coisas como estão agora são “mais que o suficiente”. É claro que eu quero gráficos melhores e efeitos especiais melhores, é claro que quero novos softwares e novas técnicas, só não é mais uma questão de identificação. Meu computador permite facilmente que eu faça a conta que eu quiser, mas eu ainda quero um computador melhor. Porque eu posso. Porque é interessante saber no que vai dar, porque atingir o nível mais próximo possível da realidade é um objetivo válido. Qualquer elemento visual de hoje continuará sendo o mesmo daqui a 30 anos, mas eu quero esses 30 anos. Só não dá pra olhar 30 anos no passado e reclamar que hoje não é bom o suficiente.

E sejamos sinceros, 30 anos atrás cê não entendia que aqueles bagulhos vindo na direção do seu canhão laser eram aliens? Ou que o Superman tava voando? Ou vai me dizer que Tron não funcionou porque os efeitos especiais eram ruins e que Super Mario Bros. era sem graça porque o fogo não parecia fogo de verdade? Um dos problemas do avanço tecnológico é que gente demais se deixar mimar por ele.

O RPG de mesa tem os melhores gráficos do mundo: A imaginação.

Desculpa, eu não podia deixar essa frase passar.

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