Novembro de 63 (Stephen King)

Livros segunda-feira, 09 de maio de 2016

22 de novembro de 1963 foi o dia em que John F. Kennedy, o presidente mais carismático que os Estados Unidos já conheceram, foi executado por Lee Harvey Oswald durante sua passagem por Dallas, em campanha pela reeleição. 11/22/63 é, também, o título original do best seller de Stephen King, lançado em 2011, cuja trama é conduzida pela pergunta que todos os americanos já fizeram: O que teria sido dos EUA e do mundo se JFK não tivesse sido assassinado?

Essa é a obsessão de Al Templeton, dono de uma pequena lanchonete na esquecida cidade de Lisbon, Maine, frequentada diariamente por Jake Epping, professor de literatura recém divorciado e desiludido com a profissão. O sonho de um e a desesperança do outro se chocam quando Templeton aparece, de uma hora para outra, envelhecido e doente, diante do olhar incrédulo do amigo. Ele revela que sua condição, um câncer de pulmão terminal, é reflexo dos anos que em que viveu no passado. Sem saber muito bem o que pensar, ou se o tumor não era, de fato, no cérebro, Epping é convencido a entrar na despensa do restaurante, apenas para cair em um portal que o leva diretamente a 1958. De volta a 2011, após passar um tempo explorando o desconhecido, recebe do moribundo a tarefa que ele tinha em mente: Impedir o assassinato de JFK.

E desarticular o movimento punk.

Jake, de início, nega, causando revolta em Al, que viu, perto demais, a Guerra do Vietnã – fruto do governo do vice, Lyndon Johnson – e questiona se a América seria um país melhor, mais pacífico, caso Kennedy não tivesse morrido, enumerando dezenas de tragédias supostamente preveníveis por JFK. Racional, o professor argumenta que não há qualquer garantia, que não há forma de saber que rumos os Estados Unidos tomariam, com ou sem o segundo mandato do presidente assassinado. No mais, qual seria o impacto de viver em uma era a qual não se pertence, lidando com pessoas que, no curso natural da história, jamais lidaria? Mas, diante da própria apatia e de medidas extremas tomadas pelo dono da lanchonete, Epping aceita seu destino de viajante no tempo tentando, ao máximo, decorar e se ater às quatro regrinhas básicas:

– Toda jornada através do portal leva o viajante para 11:58 do dia 9 de Setembro de 1958;
– Não importa o tempo que a pessoa fique no passado, apenas dois minutos terão se passado no presente;
– Os fatos do passado podem ser alterados, mas caso o viajante volte a utilizar o portal após voltar para o ano de origem, tudo é resetado;
– Se você fode com o passado, o passado fode com você para evitar que a história seja mudada. Quanto maior a mudança, maior é a resistência para tal.

Workshops em breve!

Regras decoradas, dinheiro no bolso e malas feitas, Jake Epping entra no portal focado em descobrir se Lee Harvey Oswald agiu sozinho ou se havia algum peixe grande orquestrando a ação terrorista dos bastidores. Então, o homem do futuro compra roupas, corta os cabelos, se caracteriza a contento e se ambienta, acostumando-se a conviver com uma cultura diferente de tudo o que conhecera.

Sabendo que o assassino se estabeleceria em Jodie, no Texas, em 1962, após desertar do exército e viver por três anos na União Soviética, Jake espera, pacientemente, o retorno do algoz do presidente. Faz suas pesquisas sobre as relações pessoais de Oswald, como a amizade com George de Mohrenschildt, soviético com inclinações políticas aparentemente suspeitas, a tentativa de homicídio sofrida pelo general Edwin Walker, e repassa os fatos e teorias conspiratórias que marcam a morte de Kennedy. Nas horas vagas, enquanto se firma na cidade, faz amigos, se apaixona perdidamente pela bibliotecária Sadie Dunhill e, como não poderia deixar de ser, passa pelo menos umas 500 páginas fodendo com o passado e sendo fodido por ele. Seria pornográfico se fosse com a Jackie Kennedy não fosse dramático.

Mas a bad é forte, então ficamos com o dramático.

22 de novembro de 63 captura o leitor e o conduz a uma viagem incrível. Eu ri, eu chorei, minha garganta ficou engasgada nas manhãs, tardes e noites em que me encontrava perdida em Jodie, Lisbon ou Dallas. Em que me perguntava como seria um universo com John e Bobby Kennedy vivos. Perseguindo Oswald, devassando sua privacidade e problemas matrimoniais. Foi uma jornada maravilhosa, cheia de personagens tão bem descritos (E escritos) que pareciam reais. Harry Dunning, zelador do colégio com déficit de aprendizagem, cujo pior dia da sua vida “não foi um dia, mas uma noite”, a única pessoa – além de Al – que desperta, no futuro, alguma humanidade em Epping; Deke Simmons, o carismático diretor da Denholm Consolidated High School, e melhor amigo de Jake nos anos 60; o misterioso Homem do Cartão Amarelo, além de, claro, Sadie, que representa o amor incerto, que não deveria ser, mas é. Forte demais para ser negado ou para resistências: do casal e do passado. Com uma atmosfera maravilhosa, você não apenas lê, mas devora. E fecha a última página querendo mais.

É bem verdade que precisei parar algumas vezes minha leitura. Não por cansaço, mas para diferenciar realidade e ficção, já que personagens reais e ficcionais coexistem nesse universo criado por King. Alguns fatos históricos certamente passaram batidos, mas não fez muita diferença. No fim das contas, com os desdobramentos e o final de arrancar o fôlego, a obra me remeteu a outro grande nome: Rod Serling. Muitos elementos da narrativa de 11/22/63 lembram episódios de Além da Imaginação. Criado na década de 60, foi o mais prolífico seriado de ficção científica/fantasia e o melhor produto, em termos de qualidade do conteúdo, já criado para a televisão. Na minha (Nada) humilde opinião. Até porque eu estou 100% certa.

Spoiler: sua vida.

Em fevereiro deste ano, como é de praxe com as obras do “rei do sobrenatural”, o best seller virou minissérie no Hulu. J.J Abrams e Stephen King dividiram a produção executiva dos ótimos oito episódios, que contam com uma ambientação de primeira, muito bem produzida, trilha sonora incrível e elenco afiado, com participações estelares de Sarah Gadon, T.R. Knight e Daniel Webber. Ah, e tem também o James Franco. Nota do editor: O James Franco é SÓ o protagonista.

Apesar de ter feito sucesso com público e críticos, a adaptação enfureceu os fanboys puristas, que ficaram incomodados com as mudanças, algumas um tanto quanto bruscas, da versão para a TV. Ainda que tenham sido aprovadas pelo próprio Stephen King. Vai entender. Para mim, foi apenas uma experiência igualmente maravilhosa. Sugiro a leitura, a série e, se tiver filme, assistam também.

Fangirl de Stephen King presente!

Novembro de 63


11/22/63
Ano de Edição: 2012
Autor: Stephen King
Número de Páginas: 880
Editora: Gallery Books

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