Patrulha Politicamente Correta
Se tem uma coisa (de várias) que o mundo globalizado padronizou, infelizmente, foi a geração do POLITICAMENTE CORRETO, isto é, nada deve ser dito ou mostrado que possa ofender algum indivíduo de nossa sociedade, principalmente, as minorias.
Digo isto porque nesta semana saiu uma notícia na imprensa divulgando que a Federação Nacional de Cegos, nos Eua, pretende organizar um protesto contra o filme Ensaio Sobre a Cegueira na sexta-feira (3/10), quando o longa será lançado nos Estados Unidos. Marc Maurer, que é cego, afirmou que o cenário apresentado no filme retrata cegos como monstros. A cegueira não transforma pessoas decentes em monstros, diz o presidente da Federação.
Continuando a nota, segundo a Federação, o longa reforça estereótipos incorretos. Nós enfrentamos uma taxa de 70% de desemprego e outros problemas sociais porque as pessoas não acham que a gente possa fazer nada. E esse filme não ajuda em nada, conta Christopher Danielsen, porta-voz da entidade.
Deixando de lado um pouco a discussão, para quem não sabe (ou como eu ainda não pode assistir ao filme, thanks cinemas da minha cidade!) Ensaio sobre a Cegueira, é um longa baseado num livro homônimo escrito por José Saramago, dirigido pelo cineasta Fernando Meirelles, que conta com Julianne Moore (Hannibal), Mark Ruffalo (Zodíaco) e a brasileira Alice Braga (Cinturão Vermelho) no elenco. Uma inexplicável epidemia chamada de “cegueira branca” (já que as pessoas atingidas apenas passam a ver uma superfície leitosa) surge inicialmente em um homem no trânsito e, pouco a pouco, se espalha pelo país. À medida que os afetados são colocados em quarentena e os serviços oferecidos pelo estado começam a falhar, as pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. Nesta situação a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um médico (Julianne), que juntamente com um grupo de internos tenta encontrar a humanidade perdida.
Da parte que me interessa, não me importo como cada um encara uma piada grosseira ou preconceituosa, no entanto, quando estou assistindo uma série ou um filme, O-B-V-I-A-M-E-N-T-E, sei que o que está sendo exibido é uma FICÇÃO, logo, não é real, e mesmo que fosse é um reflexo da visão do diretor e/ou roteirista, portanto a visão de uma pessoa específica, não de um grupo de pessoas e, muito menos, a minha.
Agora, imaginem indagar um livro conhecido mundialmente, escrito há mais de 10 anos por um senhor de idade, que vê na cegueira uma metáfora, repito, metáfora (isto mesmo, aquela figura de linguagem das aulas de português), sobre a condição humana para criar sua história, não sobre o indivíduo cego. São estas cachaças que me indignam e irritam tanto no público em geral e, principalmente, no americano. Sei que aqui no Brasil vez por outra isto acontece, mas nos Eua – outrora, a Terra da Liberdade – isto ocorre constantemente. Parece que estamos em plena Caça às Bruxas, quem pensa ou representa o diferente é jogado na fogueira!
Uma pena eles não fazerem a mesma campanha contra as comédias idiotas de Roy Schneider, Adam Sandler & cia (que, normalmente, rendem milhões em bilheterias), que somente utilizam estereótipos de gay, nerds, judeus, evangélicos, loiras burras, em seus fiapos de tramas, com a desculpa de fazerem humor.
Obs: Para quem, como eu, acha tudo isto uma bobagem sem tamanho, veja (se você ainda não viu) que emocionante a reação do escritor Jose Saramago, com Meirelles ao seu lado, ao término da exibição especial para o escritor de sua obra na telona.
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