Capitão Fantástico (Captain Fantastic)
Ben (Viggo Mortensen) tem seis filhos com quem vive longe da civilização, no meio da floresta, numa rígida rotina de aventuras. As crianças lutam, escalam, leem obras clássicas, debatem, caçam e praticam duros exercícios, tendo a autossuficiência sempre como palavra de ordem. Certo dia um triste acontecimento leva a família a deixar o isolamento e o reencontro com parentes distantes traz à tona velhos conflitos.
Capitão Fantástico é daqueles raros filmes que te fazem pensar por dias. Confesso que aprendi uma ou duas coisas com o filme que muito provavelmente carregarei pelo resto da vida. O filme pode ser enxergado como uma fábula abordando o socialismo contra o capitalismo, de forma que aponta tanto o lado bom quanto o lado ruim de ambos. E em tempos sombrios como este em que vivemos, onde ser sensato é praticamente crime, fazer um filme desses é um tanto quanto ousado. Por isso, aconselho cautela ao dizer que entendeu a real proposta do filme, pois é possível que preguem uma placa de “isentão” no seu peito e te queimem em praça pública.
É incrivelmente emocionante ver a ligação que Ben tem com seus filhos na floresta isolada onde vivem. Uma ligação que somente o isolamento pode nos proporcionar, afinal, a vida na cidade grande, cercada de tecnologia ao mesmo tempo que nos mantém conectados com amigos e familiares, nos afastam cada vez mais dos momentos de diversão reais. Caminhamos cada vez mais pra realidade do filme Substitutos, onde fazemos tudo trancafiados em nossas próprias casas sem vermos sequer as pessoas com quem moramos juntos.
Se pensarmos nesse caminho assustador que tomamos, é fácil ficarmos ao lado de Ben e do que ele deseja para a sua família. Porém, aqui entramos no enorme problema da doutrinação e da falta de liberdade. Você não pode isolar crianças do resto do mundo e doutriná-las sobre filosofias e religiões e tirar o direito delas conhecerem o outro lado da história. Por mais que as crianças não fossem privadas de informação, toda informação que elas recebiam era passada pela mesma pessoa, com o mesmo ponto de vista e a mesma opinião, o que impedia que as crianças tirassem suas próprias conclusões, afinal, o outro lado era sempre apresentado como o grande lobo mau.
Como dito antes, não acredito que a intenção do filme seja defender ou atacar um dos lados, mas sim, como dito antes, mostrar que ambos tem seus pontos. E acho que isso fica claro com a cena final do filme, onde vemos que Ben e seus filhos ainda levam uma vida simples, mas não completamente isolada do resto do mundo.
É uma pena que poucas pessoas conseguiram entender a mensagem que o filme quer passar e o atacam/vendem como propaganda comunista. Mas esperar o que de gente que defende ditadura, né?
Capitão Fantástico
Captain Fantastic (118 minutos – Drama)
Lançamento: EUA, 2016
Direção: Matt Ross
Roteiro: Matt Ross
Elenco: Viggo Mortensen, Kathryn Hahn, Steve Zahn, Frank Langella, George MacKay, Samantha Isler, Annalise Basso, Nicholas Hamilton, Shree Crooks, Charlie Shotwell
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