Quadrinhos de protesto vendem bem
Com o Pizurco, a Nello e o… Jo droga escrevendo sobre cinema acaba por sobrar pra mim a tarefa de falar sobre o resto, e hoje eu vou falar de
Tava discutindo a falibilidade da vida outro dia com o Jo mentira e chegamos por fim num denominador comum: A maior derrota que você pode autoinfligir à você mesmo é achar que quadrinhos são uma plataforma séria para o debate de problemas sociais. Em outras palavras, você acha que porque o Homem de Ferro é mulher, o Homem Aranha é negro e o Batman é eunuco isso significa hhmmmmm significa que quadrinho se leva à sério. Aliás, toma bomba aqui procê também: Quadrinho independente também não se leva à sério.
Pois é, triste. A verdade é que seja Image, Conrad, DC, Penguin, Balão Editorial, Marvel, Jambô, Devir, HQM Editora ou tantas outras, editoras são empresas, empresas precisam de lucro e o que quer que seja que dê lucro tá valendo. Não, isso não significa que elas usem mão de obra escrava, apoiem a segregação racial ou curtam Sambô, só quer dizer que pra que elas existam, o importante é vender quadrinho. Ponto. <----- Viu só, TRÊS pontos finais?
Ser do bem vende quadrinho. Ser faixa branca vende quadrinho. Ser liberal vende quadrinho. Triste isso, mas a real mesmo é que entre isso e seus opostos, isso aí parece menos pior. Se você não entendeu nada desse parágrafo até agora, a questão é que apoiar diversidade, ser contra o consumismo e querer que todo mundo dê as mãos vende. Não é discurso político, é marketing. Se eu acredito que uma empresa tenha uma agenda política? Nem um pouco. Mas também não acredito que uma empresa possa ser socialmente engajada por altruísmo. O preço da inflexibilidade é o mesmo de dançar dos dois lados da cerca: A falência.
Sabe aquela de “Vamos salvar o planeta! Plante uma árvore!”? Então, é o tipo de discurso que segue um roteiro:
– Plantei um pé de carambola otro dia
– Ah é
– Ajuda a reduzi o Cê-Ó-Dois da atmosfera
– Mas uma árvore só não faz diferença
– Mas se todo mundo planta uma……………………..
A base da conversa é de que “eu fiz a minha parte e você não”, mas deixa eu contar uma coisa pra você: Mesmo que cada pessoa na Terra plante uma árvore (E isso daria – jogando pra cima – 8 bilhões delas) não faria diferença significativa. E isso se dá porque nós precisamos de árvores, seja pra papel, pra lenha ou pra móveis. Isso literalmente significa que se cada pessoa no mundo fizer um esforço conjunto com o mesmo propósito ainda assim nada mudaria.
Não quero desmotivar ninguém, juro.
Então quando alguém me diz que “se cada um fizer a sua parte” os quadrinhos vão melhorar, eu não acredito. Não só porque quadrinhos são feitos com papel (E lembre-se de que todo o processo de fazer um quadrinho não envolve só o papel utilizado na sua cópia da revista), mas porque se todo mundo envolvido na indústria, de editores a desenhistas, jornaleiros a coloristas, fizesse um esforço, ainda assim não faria diferença nenhuma. Quadrinho é entretenimento, entretenimento é muito bom em gerar lucro, e por definição você não pode entreter e motivar alguém a mudar ao mesmo tempo. A mudança vem quando a água bate na bunda, não quando passam a mão na cabeça, e quem em sã consciência paga (Seja com dinheiro, tempo, esforço ou até mesmo a fatídica “exposição”) pra levar tapa na orelha?
Existe sim quadrinho de protesto neste mundo. Mas quadrinho de debate? Uma mídia pronta pra colocar em pauta as questões que são jogadas nas páginas só pra vender em livraria? “Mas não é a mesma coisa”? Não. Porque mesmo se todo mundo fizer a sua parte, protesto com o cu preso não tem valor.
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