Traição e Assassinato no Museu de Guerra
Talvez esteja na hora, sabe? De aceitar que as coisas mudam, que não há realmente como impedir a mudança, e que “eventualmente” não seja “algum dia” mas “agora mesmo”… E que talvez devêssemos abraçar essa metamorfose de hábitos e padrões, e pensar em construir o futuro sob esta nova base, deixando de lado o hábito e a familiaridade mesmo que estes não tenham nada particularmente errado e nem estejam de fato ultrapassados: Talvez seja hora de aceitar que a fotografia não veio para substituir a pintura, mas sim as palavras escritas; que a TV pertence à filmes, séries longas e reality shows ao invés de programas pontuais, de auditório, de documentários ou desenhos infantis; que videogames sejam mais cinicamente comerciais que o cinema, e que este deva sim focar em grandes produções ao invés de experimentalismo.
Talvez esteja na hora de olhar ao nosso redor e ver que o mundo que temos hoje, o mundo que fizemos e fazemos, não mais comporta as mídias do jeito que elas eram feitas e tratadas no passado.
Me peguei hoje mais cedo pensando acerca das redes sociais: Eu já larguei mão do Facebook, então atualmente uso o Twitter e o Reddit. Piadas e comentários a parte da situação geral de ambos, o fato é que muita gente, principalmente mais nova, não liga a mínima pra nenhum deles: Snapchat e Instagram são o “padrão” pra quem é, ao menos em teoria, “a geração do futuro”. Eu sei que são termos meio babacas e batidos, mas a questão é que tem fundamento: É muito mais fácil ver uma imagem que ler um texto, mesmo que seja um texto de uma ou duas linhas. É mais rápido, mais efetivo… Não estou dizendo “melhor”, não estou dizendo “sem falhas”, só que se encaixa muito melhor no tipo de vida que levamos nos tempos atuais. Principalmente na internet.
Requer-se uma interação muito maior nos dias atuais, especialmente desde o advento dos smartphones, que se requeria há cinco, sete anos. O crescimento da internet beira níveis exponenciais, a quantidade de informação – ou melhor, de dados – é muito maior do que se poderia esperar, à ponto de os celulares já eclipsarem o próprio computador pessoal em muitas áreas. Isso significa que o tempo, nosso tempo, ficou ainda mais valioso. Porque a menos que algo valha a pena, você não irá gastar tempo nessa coisa, mesmo que fosse usar este mesmo período em coisas completamente inúteis ou à toa: É muito mais difícil arranjar tempo para ver um filme no cinema do que era há uns anos, e isso significa que se esse tempo não tiver retorno você não vai repetir a dose.
Há uma diferença fundamental entre jogar tempo fora e gastar o tempo procurando coisas novas para consumir.
Ambos requerem olhar pruma tela com a bunda sentada no sofá só piscando de vez em quanto: Pra tudo que é padrão com os quais a maioria das pessoas vivas hoje foi criada (E isso não é um exagero, é literal) isso é uma completa perda de tempo… Exceto que esses padrões se aplicam menos e menos. Não é injusto cobrar das pessoas atualmente que elas – que nós – façamos as coisas como “antigamente”, mas sim uma alienação à realidade. As coisas mudam, o tempo passa.
Eu não estou “defendendo”, mas estou sim dizendo que remar contra a maré é inútil. É bem verdade que no fim do rio pode ter uma catarata, e que todos nos espatifemos lá embaixo num fim inevitável, mas puta merda… Vale à pena o cansaço e o desgaste e o estresse se o fim é o mesmo? Eu sou uma das primeiras pessoas a defender que você, eu e cada um de nós deveria lutar pelo que acredita, e que isso significa sim aceitar as consequências e colher os frutos dessas escolhas, mas, às vezes, tem essa vozinha irritante na minha cabeça que me faz perguntar se esse tipo de coisa, esse tipo de posição e pensamento, não é justamente o fator fundamental que nos atrasa a todos como sociedade? Não é bonito dizer que você faz parte de um rebanho, mas o fato é que o rebanho debanda, que o rebanho se move, segue em frente.
Portanto, talvez, deveríamos aceitar que livros vão virar nicho. Que cinema é megaprodução, que interação é só mecânica, que comunicação é estritamente visual e música é sinal de alerta. Que nossa sociedade requer agilidade e conexão, e que não há mais espaço para mídias que demandem muito tempo sem resultados certos, e que se não for para ter a garantia de que teremos o que quisermos com velocidade, então é porque já não era importante desde o início. É péssimo dizer isso, mas é o caminho que estamos trilhando, e voltar não é uma opção… Talvez mudar de caminho também não seja uma opção.
Escrevendo este texto me ocorreram várias e várias associações com outras mídias: Músicas que cabem no tema, imagens para botar no texto, filmes, jogos, propagandas, livros… A verdade é que quero deixar este texto “puro”. Puro texto. Aceito perfeitamente a ironia de que estas palavras dizem algo que talvez seja importante, e que se de fato for, ninguém vai ler. Se estas palavras estiverem corretas no fim das contas (E sabe-se lá quando vamos descobrir se estão ou não), eu quero que isso aqui funcione como uma lápide – só lápide, não epitáfio – porque eu também canso de chavões e bravatas.
Não sei o que está acontecendo, não exatamente. Não sei qual a melhor opção, qual ideal proteger, qual o melhor curso de ações a ser tomado. Vou admitir aqui: Pro meu eu mais jovem dizer “não sei” era uma vergonha e uma decepção terríveis; e, ao mesmo tempo, era libertador porque significava um momento de sinceridade máxima. Agora é só uma constatação de um fato concreto: Não sei se devemos abandonar nossos antigos usos das nossas mídias e seguir com seus novos usos, não sei qual das duas é a melhor opção e também não sei se um mítico “meio termo” é uma possibilidade.
Não sei pelo quê lutar, e sinceramente acho que as únicas pessoas que tenham uma resposta sejam aquelas que querem apenas mais um soldado em seu exército.