Videogame também dibra

Games segunda-feira, 07 de maio de 2018

Poucas coisas são demonstrações de amizades maior que assistir seus amigos jogando videogames: Não versus, não co-op, mas assistir jogar. É uma demonstração de humildade e companheirismo, principalmente se você assume o papel de copiloto e vai atrás de walkthroughts, dicas, códigos e todas aquelas porcarias que, há tantos anos atrás, acabavam com a tinta da impressora sem você contar pros seus pais. Com o tempo, essa coisa de “assistir outras pessoas jogando uma parada” só se intensificou, passando de uma consequência das limitações dos jogos pra um programa de entretenimento por si só… O que é meio estranho mas faz total sentido.

 Se você acha que stock images são ruins saiba que há stock GIFS!

Tem uma briga do caralho se videogame é esporte, ou melhor, se eSports são esportes, com um lado dizendo que é, outro lado dizendo que não, e mais um lado que ri disso tudo porque afinal de contas ainda é um bando de gente olhando pra uma TV pra ver bonequinho pular. Seja como for, competições entre videogames não são novidade nenhuma, afinal quem nunca participou dum campeonato de Street Fighter ou Winning Eleven quando era pirralho? Nos primórdios, quem via essas paradas, quem era espectador nessa bagunça, era quem tinha perdido (Ou seja, ainda assim um participante do bagulho), mas foi questão de milésimos de segundo até aparecer um irmão mais novo, um pai mais ligado nas tecnologias ou até mesmo aquele vizinho que sempre queria jogar mas ninguém deixava porque ele era muito mala… Em suma, qualquer atividade que junte pessoas, junta pessoas, mesmo que seja só pra olhar.

Porque na real a alma da coisa não é se é esporte ou não, mas sim se é entretenimento ou não, e a resposta, ao menos nesse caso, é obviamente sim: Junta uma galera que você supostamente gosta, fazendo uma coisa que você gosta, e se divertindo com isso e o resultado é um programa de entretenimento. Tem a ver com o comportamento social da nossa querida espécie e mais ainda com a nossa necessidade de fazer parte de uma sociedade? Claro, mas quem liga? O importante não é o desenvolvimento de uma comunidade, e sim que tem – por consequência – menos gente espiando a vizinha tomando banho.

Foi nos últimos, sei lá, quinze anos (Isso é 2003, só pra constar) que a parada ganhou força, afinal demorou um bom tempo para que os videogames se tornassem realmente uma atividade social: Pergunta pra qualquer um com mais de 20 anos e essa pessoa vai te responder que, ainda que você jogasse com seus amigos, a grande maioria da atividade era sozinho. Os MMOs e co-ops precisaram de muito, muito tempo para tornar os videogames uma atividade social de verdade. O que mais se fazia era falar sobre videogame com os outros, jogar mesmo precisava da logística de ir na casa de outra pessoa, usar a internet discada, ir na rodoviária e comprar ficha, e isso tudo tomava tempo e dinheiro que, quando criança você não tem… Aliás, tantas e tantas vezes nem como adolescente ou adulto você tem.

Com o crescimento da internet e o desenvolvimento de plataformas que prezavam pelo multiplayer (E estou sim me referindo, quase exclusivamente, à Nintendo) é que jogar videogame com o outro ficou fácil, do mesmo jeito que ficou fácil gravar um jogo que você jogue sozinho e botar pra outras pessoas verem… Eu tô aqui falando de videogame, mas quer plot twist maior que esse monte de série de partida de RPG na internet? Porra, a galera apontou uma câmera prum jogo totalmente analógico, que tantas vezes preza por não usar nenhuma tecnologia moderna (Cara, a lapiseira é de 1822!), e não só deu certo como virou modelo de negócio!

Mas precisou dessa modificação quanto à mídia: Enquanto os jogos limitavam os jogadores, assistir era consequência, e quando enfim foi possível colocar milhões e milhões de pessoas no mesmo jogo foi também possível tirar as mãos do controle e só assistir… Pode parecer contraditório, mas não é: Antes a limitação existia, agora é uma questão de escolha. E essa escolha existe simplesmente porque tem gente melhor que você, porque você tá cansado e só quer uma distração, porque você não tem o jogo em questão mas quer ver como é do mesmo jeito. E, claro, não há diferença nenhuma entre assistir uma partida de Dota e uma partida de vôlei.

 Cês lembram dessa relíquia?

No fim das contas, a atividade é a mesma, ainda que o programa não seja (E eis aí um dos grandes argumentos de que entretenimento e arte são coisas bem diferentes). Porque seja assistir um campeonato de videogame ou de futebol cê ainda vai ter que aturar propagandas de patrocinadores, comentaristas irritantes, jogos ruins, draminha desnecessário… É a mesma coisa, tem os mesmos defeitos… Ou cê acha que, tal qual as competições de esportes as de videogame também não tem jogo marcado, trapaça, rivalidade e jogador sendo babaca e fazendo merda por se achar estrela? Tem doping do mesmo jeito e tem gente ganhando dinheiro pra caralho do mesmo jeito. E, ao menos pro público, nada disso importa porque o público não está fazendo nada disso: A grande vantagem de ser só espectador e não ter trabalho nenhum…

O que nos leva de volta pro começo: Os tempos de ajudar quem tava jogando já foram. Felizmente a história de comprar revista de códigos, fazer lista de easter eggs e procurar qual a melhor alternativa na internet, enquanto outra pessoa joga, foi há muito tempo. É uma daquelas coisas que existem em decorrência de seu tempo, e que quando as coisas mudam, vão-se embora… É uma parte da cultura perdida sim, mas o que há de se fazer? Foi legal; acabou. Atualmente ou você joga ou você não joga, e você pode muito bem fazer os dois, mas aquele meio termo não existe mais… Cê vai ter que arranjar outro jeito de mostrar que é um bom amigo.

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