A assustadora literatura Cyberpunk

Livros segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Então, você é um daqueles caras que acha ficção científica uma coisa muito chata. Toda aquela babaquice de Jornada nas Estrelas, ou aquelas histórias toscas com armas lasers e E.T’s. Uma puta viagem escrota, certo? Há mais de 30 anos, um certo grupo de escritores pensou a mesma coisa.

Como diria Hunter Thompson, o Sonho Americano estava morto. E alguém tinha que aproveitar a chance. Alguns loucos começaram a produzir algo completamente novo, nunca visto antes. A Ficção Científica era pano de fundo para as idéias mais bizarras e lunáticas, uma desculpa e uma arma para atacar com toda a força a chata realidade pós-anos 60.

O termo inventado foi cyberpunk. As histórias giravam em torno, geralmente, de ratos de computador drogados com todo o tipo de substância psicodélica conhecida e/ou inventada, envolvendo-se em pirações no meio de um mundo maluco demais para ser possível. Isso sem contar as invenções mais doentias sobre Implantes, Terroristas e Sexo. Vocês já leram sobre Transmetropolitan por aqui. E o espírito é Exatamente esse.

Imaginem, por exemplo, um romance sobre a Fixação Mórbida e Sexual em Batidas de Carros. Era essa a trama que J.G. Ballard explorava em seu livro “porno-bizarre” Crash, lançado em 1973, aonde jatos de porra voavam enquanto seus personagens envolviam-se propositalmente em acidentes de trânsito. O metal dos carros penetrando-se, as fraturas expostas e os corpos fundindo-se com as latarias…tudo com um grande apelo erótico.

O Experimentalismo era a palavra de ordem. Com grande influência, mesmo que talvez inconsciente, das idéias lançadas pelo pensador/anarquista/instigador de confusões Hakim Bey em seu livro TAZ, nomes como William Burroughs (geração beat ou proto-cyberpunk? hmm), o próprio J.G. Ballard e William Gibson iniciam um desenfreado ataque á chatíssima Realidade.

No final da década de 80, a revista americana Semiotext(e), conhecida pelo seu conteúdo subversivo e, por que não?, Nocivo á Sociedade, lança uma edição especial dedicada á Ficção Científica. A idéia? Aceitar somente contos que tivessem sido Vetados em outras publicações, por seus conteúdo Subversivos, Obscenos e Doentios. O nome? Futuro Proibido.
Além de contar com textos do trio já citado, a edição especial ainda publica bizarrices de Denise Angela Shawl, Sol Yurick, Bruce Sterling e mais.
Destaque para os incríveis contos Relatório sobre uma Estação Espacial Não Identificada (Ballard), O Pênis Frankenstein (Ernest Hogan) e Êxtase no Espaço (Rudy Rucker).

Mas o “sub-gênero” ficaria realmente famoso através do lançamento de Neuromancer, em 1984, de nosso amigo William Gibson. O romance ganha os famosos Nebula Award, Philip K. Dick Award e Hugo Award e torna-se um símbolo da nova geração de sci-fi.
É inclusive na trama de Gibson que é inaugurada a idéia da Matrix, que inspiraria a trilogia de filmes homônimos. A obra abria a Trilogia Sprawl, que contava ainda com os títulos Count Zero e Mona Lisa Overdrive.

Mas por que falar de tudo isso? Por que ficar resgatando essas velharias de quase trinta anos de idade? Simplesmente porque algumas dessas maravilhas ainda são publicadas. Você ainda os encontra em Livrarias e Sebos e você Deveria, caso curta a idéia de explodir a Realidade em pedacinhos e colar tudo de novo totalmente fora de Ordem, correr atrás e dar uma lida. Futuro Proibido ainda é publicado pela Conrad, Crash pela Companhia das Letras e Neuromancer através da Aleph.
E para Sua sorte, a Rocco acaba de relançar o incrível Caçador de Andróides, de Philip K. Dick, o romance que deu origem ao maravilhoso filme Blade Runner.

Agora vai, levanta, começa a comprar.

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