A Casa (André Vianco)
Uma viagem ao fundo do coração humano. Impossível o leitor não se emocionar com o drama vivido pelos atormentados protagonistas da obra.
Gentilmente uma senhora distribuiu xícaras cheias de um líquido que exalava um aroma adocicado e convidativo. Ela sentiu um arrepio percorrer o corpo. Quem a tinha chamado ali? Recebera apenas um cartão. Ismael também sentiu um arrepio cruzando a espinha. Que casa era aquela? Cada qual sorveu um pouco do líquido quente. Somente naquele instante notaram que cada par de cadeiras dava de frente para um par de portas. Quatro pessoas. Quatro portas. Cada um olhando fixamente para a porta a sua frente. No enredo de ‘A casa’, uma viagem surpreendente para os que buscam algo para mexer com a mente e o coração.
O André Vianco, até onde eu sei, é conhecido pelos livros de vampiro. Se você já está conosco faz tempo, deve se lembrar da resenha única do sr. Peashrek sobre o livro Os Sete. E se não lembra também foda-se, vai ler essa merda. Enfim, ele é conhecido por obras como Os Sete, Sétimo, Bento e outros de vampiro. Ou pelo menos eu só conhecia ele pelas obras vampirescas. A questão é que A Casa não é um livro de vampiros, apesar de tratar de um tema sobrenatural. E não, eu não esperava que fosse de vampiros, eu não sou tão estúpido assim. Sou estúpido, bastante. Mas não tanto [Apesar de que essa história de segunda chance casa bem com papo de chupador de sangue, sei não].
A história trata paralelamente de quatro vidas, Leonora, Rosana, Ismael e Hélio, todas relacionadas em maior ou menor grau ao seu relacionamento com o pai. As feministas de plantão já podem saltar da cadeira, apontar pro computador e berrar “AHÁ, PATRIARCADO”. Eu não ligo, só não façam fumaça ao queimar seus sutiãs. A questão é que são basicamente relacionamentos com o pai que deram merda. Na verdade os primeiros dois terços são com as histórias paralelas, mostrando quem são os personagens, o que fazem e os dissabores que escondem por trás de algum vício. Tá que remédio controlado não é bem vício, mas enfim, a parada é que cada um dos quatro usa alguma coisa pra esquecer a cagada relacionada à pai que fez.
Depois, as histórias se cruzam, e cada um tem, a seu momento [Mesmo que seja todo mundo ao mesmo tempo], uma chance de reparar sua cagada. Ou não necessariamente reparar, mas reviver e fazer melhor em sua situação, trazendo paz de espírito e blá blá blá. Mas não dá pra trazer os mortos de volta, então nem tente que você perde sua chance. Agora, se você não tentar, ela é dada de bandeja pra você. Ah, paputaquepariu, rapá. Apesar de algumas coisas surpreendentes, todo o livro é meio previsível, e olha que vocês estão lendo as palavras de alguém que costuma deixar passar coisas bem óbvias nas coisas.
Sabe, o que me incomodou realmente no livro não foram as descrições, longas e levemente desnecessárias. Eu sou o tipo de pessoa que gosta de descrever longamente as coisas, mesmo que não acrescente em nada ao assunto sendo tratado, como quando meu avô me levava, no alto de meus cinco anos, pra comer doce de leite, daqueles em barra, do tamanho de um pé de moleque, toda vez que eu ia na casa dele. E é por isso que eu sou levemente enjoado de doce de leite hoje em dia. Isso não é problema pra mim.
Mas essa parada de querer emocionar o leitor com sentimentalismo barato me incomodou. Coisa do tipo “Olha, se você não fizer as paradas certo, você nunca mais vai ser feliz, vai ser podre por dentro, vai criar um vício e vai ser consumido por ele até quase morrer, tendo essa quase morte relação direta ou indireta com o vício”. Caralho, mermão, já ouviu falar de causalidade? Efeito borboleta? Teoria do caos? Paradoxo temporal? Noção do perigo? Eu sei lá, até onde me consta são todos os pequenos atos do seu dia que resultam no que você é, não apenas um grande evento que com certeza marcou sua vida, mas não é responsável por tudo de ruim que te acontecer, inclusive suas escolhas pessoais. Mas é, tipo, só a minha opinião.
Sem contar que essas experiências espirituais, como o próprio autor descreve, são coisas totalmente pessoais. Eu, lendo sobre isso, tive uma impressão meio forçada, como se tivesse recebido um sermão religioso. O que é péssimo se você é ateu e cético, ou seja, desacredita essas porra tudo. Se bem que no Brasil o sincretismo permite que um católico faça simpatias, despachos, descarregos e ainda assim vá na missa domingo. Você acreditar no que quiser ok, só não espere que eu engula a falta de coerência. E como eu não tenho esse lado espiritual ativo, foi um tiro no pé. Mas se você é daquelas senhoras que leem Sidney Sheldon, provavelmente vai gostar da parada toda.
Resumindo pra você que tem preguiça de ler [E não deveria estar lendo sobre um livro]: Não é sobre vampiros. É previsível. É praticamente panfletagem do Chico Xavier.
A Casa
Ano de Edição: 2002
Autor: André Vianco
Número de Páginas: 227
Editora: Novo Século Editora
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