A Censura nos quadrinhos

Nona Arte quarta-feira, 08 de outubro de 2008

A censura foi algo que sempre esteve presente em todos os tipos de mídia que conhecemos, obviamente, os gibis não poderiam ficar de fora dessa. A censura nos gibis começa em 1938 com o ditador italiano Benito Mussolini. Ele baniu as histórias em quadrinhos na Itália porque, segundo ele, as histórias prejudicavam a formação dos jovens. A França fez o mesmo em 1949, e em 1954 o psicólogo Frederick Wertham criou o livro A Sedução dos Inocentes, onde afirmava que os quadrinhos incentivam o homossexualismo e a delinqüência. Inclusive, foi o próprio Frederick que começou com o boato de que Batman e Robin eram gays.

Nos Estados Unidos, por causa de toda essa baboseira, criaram o Comics Code, que estabelecia regras de ética para os quadrinhos. A censura atingiu seu auge, impondo regras radicais aos quadrinhos. Nessa época ficou proibida expressão de terror, canibalismo, vampiros, lobisomens. Atos criminosos não poderiam ser simpáticos, um bandido era obrigado a ser um mau caráter e todas as autoridades eram boas pessoas. A censura também tinha problemas com sensualidade, chegando a cortar braços musculosos porque os mesmos lembravam coxas femininas. Os gibis que se encaixavam em todas essas regras recebiam um selo de aprovação.
Hoje o selo de ética já não é tão usado e as HQs já são um pouco mais livres.

Basicamente, essa seria a história resumida da censura, mas ledo engano achar que estamos livres dela. A prova disso são os recentes casos que vieram à tona com a grande dose de ética e moral da DC censurando Superman e Batman nas revistas Action Comics e All Star Batman & Robin.
A revista Action Comics 869 tinha uma capa com um típico relacionamento norte-americano de pai e filho bebendo cerveja, no caso pai e filho seriam Superman e Jonathan Kent. O que aconteceu? A DC achou impróprio o azulão tomar cerveja e editou a capa botando uma soda no lugar da cerveja.

Já All Star Batman & Robin foi censurada duas vezes. Primeiro porque um problema de impressão fez as famosas tarjas pretas deixarem legível a palavra FUCK, muito pronunciada pela Batgirl e bandidos. Outra coisa censurada foi o golpe que a Batgirl aplica no saco dos inimigos.

As duas foram sem explicações plausíveis. Aparentemente o azulão precisa manter sua pose de escoteiro, mas a revista do Batman foi modificada por pura ignorância, levando em conta que Batman já nem tem um público infantil e que também o autor do All Star é Frank Miller. Porra, chamar o cara pra depois censurá-lo é foda.

A Marvel também vem apanhando pra censura quando se fala em nudez, ou melhor, Frank Cho vem apanhando pra censura. O desenhista teve duas capas censuradas só porque expôs a bunda da Mary Jane e da Feiticeira Escarlate.

A reimpressão do material Drácula também foi censurado, tirando apenas a nudez.

Pulando pro mundo oriental também temos a censura, como vista na edição do Naruto onde seus gestos são modificados. Mangás sofrem MUITA censura quando são adaptados para animes ou quando são adaptados para o Brasil.

Fora a censura que nem chega a ser descoberta pelos fãs, aquela que é cortada antes mesmo do desenho/texto estar pronto. Ou você nunca viu alguma situação muito ridícula em uma HQ que fica bem notável que isso ali foi só pra tapar um buraco? Certamente ali houve uma censura.

O que fica claro é que a censura gira muito em torno da nudez e de ofensas (sejam gestuais ou escritas), e também que na maioria dos casos ela é desnecessária e até mesmo ofende o leitor.
Obras destinadas ao publico infantil até deveriam ficar sujeitas à censura, mas a maioria dos cortes acontece em obras para o público jovem e adulto. Uma tentativa são os selos adultos, onde a liberdade de expressão é realmente livre, sendo muito incomum uma censura nos mesmos.

O mais chato é que são as próprias editoras que se censuram, não são mães desesparadas com o comportamento dos seus filhos, não são igrejas protestantes ou terceiros. Elas mesmas se constroem e se destroem, como a própria DC. All Star Batman & Robin é uma obra do caralho, obviamente a idéia do Frank Miller é fazer um Batman mais sombrio que o próprio Cavaleiro das Trevas, com um contexto muito mais adulto, contando com os espetaculares desenhos de Jim Lee, e a DC censura a obra dos dois. Aliás, os casos recentes da DC foram tão idiotas que se não fossem censurados não teriam a tamanha repercussão que tiveram no mundo dos quadrinhos.
Algumas editoras ainda não se deram conta de que seu material já não é mais para o público infantil e de que o povo gosta de nudez, violência e baixaria.

Mas de onde vem essa censura?

De nós mesmos, nós nos censuramos mais a cada dia graças aos falsos discursos que vomitamos todos os dias sobre moral e ética. A censura só vê os ideais de educação e bondade em falsas opiniões e não enxerga a realidade, que crianças hoje em dia já manjam de nudez e palavrão, e que tirar o xingamento de um gibi não vai mudar a educação do joãozinho. Assim, a censura vem censurando para cumprir com falsos ideais compostos pela sociedade que, além de não cumpri-los, ainda discorda dos mesmos.

Irônico, né? Ainda bem que isso não atinge o Lobo.

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