A Identidade Bourne (The Bourne Identity)
Numa noite tempestuosa em alto-mar, um tripulante de um barco pesqueiro consegue ver um corpo boiando. Após o resgate, descobre-se que mesmo com dois tiros nas costas e o “banho forçado”, o cara está vivo. O que aconteceu? Quem atirou nele? Quem é ele? Essas perguntas são feitas tanto pelos espectadores quanto pelo pelo próprio protagonista, que está sofrendo de amnésia. Tudo o que sabemos é que ele fala várias línguas, sabe diversas técnicas de lutas e tem uma conta num banco da Suíça. Ele era a arma perfeita até se tornar o alvo. Um homem sem memória, fugindo de assassinos e tentando recuperar-se de sua amnésia. Ele não tem nenhum passado. E ele pode não ter nenhum futuro. A memória dele está vazia. Ele é Jason Bourne.
Pra mim foi muito difícil acreditar que Matt Damon poderia ser um bom herói de ação. Mas estamos falando de Hollywood e em Hollywood, nada é impossível. No inicio do filme, vemos um cara comum, interpretado por um ator mais comum ainda (Damon) e um filme pra lá de clichê. Mas aos poucos, com a desconstrução do personagem e as revelações que vem surgindo junto com a recuperação da sua memória perdida, a imagem que tínhamos do personagem, graças em parte a interpretação de Damon e também pela imagem que fazíamos do ator, nos leva a crer realmente no personagem.
Claro que A Identidade Bourne se esforça em fugir das situações comuns e extremamente forçadas presentes na maioria dos filmes de espionagem (Pois é, senhor Bond, estamos falando de você), mesmo no final terem colocado um sequência que quase pôs tudo a perder, quase estragando tudo. Todas as dificuldades que Bourne passa, seja tentando descobrir quem ele é ou enfrentando seus inimigos (Que na verdade fazem parte da mesma agência governamental que ele), tudo é bastante verossímil, e você certamente se identificará muito mais facilmente com o personagem do que se fosse o contrário.
O realismo do filme é um caso a parte. Bourne se esconde, pula, atira, bate, corre e dirige como ninguém. Ou melhor, durante seus feitos, dá pra pensar “é, com treinamento, até eu poderia fazer coisas assim”. Mas também tiramos o chapéu pro Bourne pela sua audácia e inteligência acima da média. Como na cena de perseguição de carros muito bem executada e intensa, tão foda que fez o filme ser comparado ao clássico Operação França. As outras cenas de ação e luta também são muito boas, e o filme cuida para não se basear totalmente nelas, mesmo Bourne possuindo habilidades provenientes de condicionamento que me fizeram relembrar o clássico Remo – Desarmado e Perigoso. A mocinha do filme (Afinal, filme de espionagem sem mulher não é a mesma coisa), Marie, é interpretada pela alemã Franka Potente (Corra Lola, Corra), e acaba se envolvendo com Bourne sem querer. Mas como em todo bom e velho clichê, eles acabam se apaixonando. Ainda bem que esse é um dos poucos clichês encontrados no filme.
Já tecnicamente falando, o filme se assemelha muito a todos os outros filmes de espionagem já rodados por ter sido filmado inteiramente na Europa. Mas com a ambientação totalmente diferente, com uma fotografia visualmente diferenciada no gênero. Vemos a Europa elegante de sempre, mas não com aquele foco no glamour de ser um agente secreto, como estamos acostumados a ver nos filmes de 007. São poucos os filmes de espionagem que não possuem aquele “ar” de Hollywood. Bourne anda por Paris, mas sem se ater a pontos turísticos famosos pra comprovar as locações na cidade. Talvez isso se dê pela direção competente de Doug Liman (Swingers, Vamos nessa), que deve ter lutado para amenizar os clichês. E foi somente depois desse filme que foi reconhecido o carisma de Matt Damon (Um Gênio Indomável, O Talentoso Ripley), pois antes de se tornar Bourne, Damon vinha em baixa em Hollywood e não estava mais conseguindo os papéis de destaque de antes. E claro, Franka Potente (Profissão de Risco, Corra Lola, Corra) ajuda bastante. O cenário e o clima de Guerra Fria tardio recheados de paranóia fazem o resto. A perseguição pelas ruas de Paris pode ser incluída facilmente numa das melhores do gênero. Só que não. Quem viu as cenas de perseguição das duas sequências sabe do que eu estou falando.
A Identidade Bourne
The Bourne Identity (119 minutos – Ação)
Lançamento: Alemanha, EUA, República Tcheca, 2002
Direção: Doug Liman
Roteiro: Tony Gilroy, baseado no livro homônimo de Robert Ludlum
Elenco: Matt Damon, Franka Potente, Chris Cooper, Clive Owen, Brian Cox, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Gabriel Mann
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