A Inacreditável marca dos 11 Oscars
Na última coluna falei sobre um seleto trio na história do Oscar: Aconteceu Naquela Noite, Um Estranho no Ninho e Silêncio dos Inocentes, todos vencedores do “grand slam cinematográfico” (melhor filme, diretor, ator, atriz e roteiro). Aproveitando o tema, hoje resolvi falar sobre outro seleto trio – aqueles três, que em 81 anos da premiação, conseguiram atingir a marca dos 11 carecas dourados. Para se ter idéia do que isso significa, vamos dar uma olhada na lista atual de prêmios concedidos pela academia.
1. Melhor filme
2. Melhor diretor
3. Melhor ator
4. Melhor atriz
5. Melhor ator coadjuvante
6. Melhor atriz coadjuvante
7. Melhor filme de animação
8. Melhor filme em língua estrangeira
9. Melhor roteiro original
10. Melhor roteiro adaptado
11. Melhor direção de arte
12. Melhor fotografia
13. Melhor mixagem de som
14. Melhor edição de som
15. Melhor trilha sonora original
16. Melhor canção original
17. Melhor figurino
18. Melhor documentário de longa-metragem
19. Melhor documentário de curta-metragem
20. Melhor edição
21. Melhores efeitos especiais
22. Melhor maquiagem
23. Melhor animação de curta-metragem
24. Melhor curta-metragem
(Desconsiderandos Oscars especiais de inovação técnica ou de competência artística)
Ou seja 24 categorias, sendo quatro delas restritas a curtas e documentários, duas “especiais” (melhor filme de animação e estrangeiro) – que se restringem, no máximo, a algumas poucas indicações e duas categorias que dividem um prêmio (o de roteiro), totalizando 17 prêmios possíveis. Isso significa que os filmes que abordarei hoje conseguiram mais de 75% dos prêmios possíveis – um verdadeiro monopólio de carecas dourados. Mas deixemos as apresentações de lado e vamos conhecer um pouco desses “monstros”.
Ben-Hur
(Ben-Hur, William Wyler, 1959)
Indicações (prêmios em negrito):
* Melhor Filme
* Melhor Diretor (William Wyler)
* Melhor Direção de Arte a Cores
* Melhor Ator (Charlton Heston)
* Melhor Ator Coadjuvante (Hugh Griffith)
* Melhor Fotografia
* Melhor Figurino a Cores
* Melhores Efeitos Especiais
* Melhor Montagem
* Melhor Trilha Sonora
* Melhor Som
* Melhor Roteiro Adaptado
O épico de William Wyler foi o único filme a sustentar essa (até então) inatingível marca durante mais de 30 anos. O que é particularmente irônico, já que apenas dois anos depois o musical Amor, Sublime Amor chegou a marca das dez estatuetas. E vamos ser justos: a obra mereceu inaugurar esse patamar. Com mais de 3 horas de filme, a obra que passa no século I, consegue criar uma atmosfera que poucos filmes alcançaram. Além da beleza do figurino e da fotografia, os efeitos especiais – mesmo datados, ainda funcionam e não comprometem em nada o épico – o que me faz pensar no próprio padrão da indústria cinematográfica atual. Será que com o passar do tempo ficamos menos exigente e nos conformamos apenas com efeitos de última geração? Veja o exemplo de blockbusters como Tróia, que poderiam aproveitar a chance de fazer um filme tão grandioso quanto Ben-Hur e ainda contar com efeitos especiais absurdos. Basta ver que 50 atrás, sem nenhuma destas “facilidades” os estúdios foram capaz de produzir uma cena monumental como essa:
Titanic
(Titanic, James Cameron, 1997)
Indicações (prêmios em negrito):
* Melhor Filme
* Melhor Diretor (James Cameron)
* Melhor Direção Artística
* Melhor Fotografia
* Melhores Efeitos Sonoros
* Melhor Figurino
* Melhor Edição de Som
* Melhores Efeitos Especiais
* Melhor Montagem
* Melhor Trilha Sonora
* Melhor Canção Original (My Heart Will Go On)
* Melhor Atriz (Kate Winslet)
* Melhor Atriz Coadjuvante (Gloria Stuart)
* Melhor Maquiagem
Várias décadas depois, seria ninguém menos que o “blockbuster maker” James Cameron (Alien, True Lies e Exterminador do Futuro 1 e 2) que chegaria a essa marca lendária. Mais do que isso, o filme sobre o navio “que nem deus afunda” igualou a marca das 14 indicações de A Malvada (que levou 6). E são esses motivos que fazem de Cameron um dos diretores mais fodões da história do cinema – quem mais teria a competência de dirigir um filme orçado em 200 milhões de dólares (o suficiente para construir um novo Titanic)? O homem que “faz um filme a cada 10 anos” conseguiu – e de bônus atingiu a maior bilheteria da 7a arte. Meros US$1,842,879,955. ‘Nough said!
Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei
(Lord of the Rings: The Return of the King, Peter Jackson, 2003)
Indicações (prêmios em negrito):
* Melhor Filme
* Melhor Diretor (Peter Jackson)
* Melhores Efeitos Especiais
* Melhor Direção de Arte
* Melhor Montagem
* Melhor Figurino
* Melhores Efeitos Sonoros
* Melhor Som
* Melhor Fotografia
* Melhor Trilha Sonora
* Melhor Canção Original (Into the West)
E quem pensava que levariam décadas para que outro filme atingisse essa marca, Peter Jackson, com uma ajudinha da academia, “rapou” as premiações de 2003, inclusive sendo o único dos três com “100% de aproveitamento”. Não que o reconhecimento não tenha sido merecido, mas ficou claríssima a atitude da academia em compensar os prêmios não ganhos pelos dois primeiros filmes da trilogia (que juntos “só” tinha levados 6 Oscars). E sejamos sinceros – apesar das injustiças cometidas com outros filmes que concorreram esse ano, foi uma forma de premiar o trabalho majestoso (independente de você achar entendiante ou não conseguir gravar o nome de ninguém, é impossível não ficar de boca aberta com o tamanho da produção).
Tendências
Como ficou perceptível na análise desses clássicos do cinema, as produções que atingiram essa marca “onírica” contam com algumas semelhanças, que apontam algumas tendências. São elas o tamanho épico de sua produção (e consequentemente o grande orçamento gasto na parte técnica – que garantem a maior partes dos prêmios) em detrimento de aspectos artísticos: embora todos tenham levado o Oscar de direção, apenas um levou o de artista e nenhum, o de roteiro. Será que isso é uma evidência do poder do dinheiro nessa indústria? E afinal – o que tem mais apelo para vocês: um filme que leve 11 Oscars ou que ganhe as cinco categorias que representam o “grand slam“?
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