A Pedra do Sapato (Deborah Pimenta)

Livros quarta-feira, 30 de julho de 2014

Sabe, eu não sou de ficar comprando livros. Ou lendo livros de contos. Pra mim, contos são entidades individuais que não deveriam ser agrupadas, mas sim lidas sozinhas, em suas individualidades. Mas essa não é a questão, afinal por que raios eu falaria de um livro de contos que eu não tivesse lido? Eu sou babaca, mas não a esse ponto. Ainda.

Mas o mais estranho não é eu ter um livro de contos, não senhor. O mais estranho é eu ter um livro de contos autografado. Sim, autografado. Acho que foi a primeira coisa referente a literatura que eu já tive autografada [A primeira coisa autografada em todas as categorias foi um LP do Atchim e Espirro, mas não fui eu quem adquiriu, então eu considero meu ingresso do Motörhead a primeira porcaria autografada já coletada pela minha pessoa], e ainda assim não é a coisa mais interessante do livro, pra mim.

Cara, você já conheceu um autor de livros? Mas conhecer de verdade, não ir lá, ficar duas horas numa fila e pegar um autógrafo e tirar uma foto. Tou falando de ter convivido com a pessoa antes mesmo de saber que tal pessoa tinha escrito um livro, ou até mesmo antes dela ter escrito o tal livro. Isso é muito louco, cara. Não só porque isso mostra que autores são pessoas normais como eu ou você [E que o meu sonho de publicar algo que preste não está tão longe, eu só preciso escrever algo que preste], mas porque, a partir do momento em que você conhece o autor minimamente, isso afeta o modo como você lê aquele livro. Numa narrativa, por exemplo, é bem provável que você, tendo associado a pessoa à obra, vai imaginar que o narrador [Ou narradora] tem a voz e os trejeitos da fala do seu amigo. As vezes, associar personagens e situações com pessoas e acontecimentos os quais você tem conhecimento ou mesmo presenciou, e isso é um modo de imersão muito mais poderoso do que qualquer outra ferramenta que eu já tenha visto em um livro. Quer dizer, desde que o narrado seja aquele ente incorpóreo que não afeta o enredo, apenas descrevendo-o, ou sendo muito parecido com a criatura que você conhece.

Pois bem, eu ouso dizer que sou amigo da senhorita Deborah Pimenta. Ou não, vai saber. Mas depois de muito insistir pra ganhar uma cópia de presente [Ei, você não pode culpar um homem por tentar], ante as negativas, eu tirei o escorpião do bolso e comprei o boneco. Digo, o livro. E antes de ler fui lá pentelhar ela pra autografar pra mim. E rapaz, pra quem não gosta de contos, eu acho que o livro é bem competente, com uma variedade imensa de temas, ideias e execuções. Não que o autógrafo faça diferença. Mas, ao contrário de uma narrativa, não há uma onipresença da autora como narradora [Pelo menos pra mim, pra vocês não vai ter nunca, rá]. E isso é uma coisa boa, já que parte disso se dá pela ambientação dos contos, em que uma hora ela é Deborah, a mocinha que tá na livraria procurando algo mas é muito baixa pra alcançar as prateleiras de cima sozinha, e por isso pede ajuda pra um cara alto [Eu me identifiquei porque é legal zoar as pessoas desprovidas de verticalidade]. Mas no conto seguinte [Não conte com uma ordem acertada, li o livro faz mais de um ano e só tou resenhando agora, porque sim] o narrador é um soldado enfiado até o joelho na merda. Aquela merda chamada guerra. Quão atual, não?

Acho que o grande defeito, além da já apontada falta de continuidade que um conjunto de contos tem [Ao contrário de uma narrativa completa, que acredito eu seria muito mais instigante, e prenderia de uma forma tal que eu pelo menos teria problemas pra baixar o livro, pra ir mijar, por exemplo], é a pequena quantidade de páginas do livro. Fica uma espécie de gostinho de quero mais, misturado com a vontade de praticar bullying pelo livro ser tão fino. Será que é uma relação direta com a falta de altura da autora? Bom, eu espero que não, porque eu quero ver ela crescer. Metaforicamente falando, claro.

A Pedra do Sapato


Ano de Edição: 2011
Autora: Deborah Pimenta
Número de Páginas: 126
Editora: Navilouca

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