A Primeira Vez

Nona Arte quarta-feira, 03 de novembro de 2010

Eu não sei vocês, mas eu aprendi a ler antes dos quatro anos de idade. Atribuo isso a meus pais, outras duas traças que, querendo me tornar semelhante a eles, me ensinaram a ler e “escrever” (Minhas letras cursivas são sofríveis até hoje) bem antes de entrar para a alfabetização, ou seja lá como chamam isso hoje.

Aos oito anos de idade, já tinha lido todo o Sítio do Picapau Amarelo, a meia dúzia de livros infantis de Érico Veríssimo e começava a olhar, cobiçoso, para uma coleção d’O Tesouro da Juventude, encadernada em couro vermelho, que repousava nas estantes da biblioteca de casa. Inquietos com a minha sede por leitura, de certo modo já perigosa (Sim, perigosa. Não foram poucas as vezes em que fugi das aulas ou do intervalo para invadir a biblioteca e ler o que diabos houvesse lá), meus pais resolveram prestar mais atenção ao monstro que haviam criado. Resolvidos a não ser mais chamados pela diretora da escola devido ao meu “mau comportamento”, fizeram a assinatura daquilo que, na época, era algo no nível de epicidade de ter um Super Nintendo, ou SNES (Eu ainda tenho o meu!) ou um Mega Drive/Sega Genesis: as revistas da Turma da Mônica.

Chegando na minha casa semanalmente, elas ajudavam a manter a mim e minha sede de leitura controlados. Por um tempo, também tive o privilégio de assinar as revistas da Disney, mas minha mãe, devido a tendências socialistas advindas de seu tempo como militante da UNE, resolveu cancelar as assinaturas das revistas do Mickey & Cia., devido ao seu ranço anti-EUA.

Eu não saberia dizer qual história, edição ou revista foi o meu chute inicial no mundo dos quadrinhos. Eu só me importava em ler. E, meus caros, eu li e reli aquelas revistas intensamente até meus 11 anos. A partir daí, provido com uma biblioteca maior e melhor (Mudei de escola), e devido ao fato de que eu estava crescendo, cancelei a assinatura da Turma da Mônica. Algo triste, mas que precisava ser feito. A partir daí, meu hábito de leitura de HQs foi diminuindo aos poucos. Conheci novos autores, personagens e séries (Júlio Verne, Malba Tahan, Luís Fernando Veríssimo, a saudosa Coleção Vaga-Lume…), e fui deixando os quadrinhos de lado. Aos 15 anos, juntei todos os meus gibis, e, junto com meu pai, os doei a umas cinco creches. A partir desse ponto, meus contatos com quadrinhos se resumiriam a uma ou outra revista do Tio Patinhas (A Saga do Tio Patinhas e mais umas seis revistas com histórias de Don Rosa), ou revistas aleatórias nos consultórios mundo afora (Que, convenhamos, é melhor que ler Caras ou Quem).

Uns dois anos atrás, estava eu fuçando pela internet, quando descubro, através do Morróida, um blog/site chamado Ato ou Efeito. Me interessei pelo site, adicionei aos meus favoritos, a vida seguiu em frente. Uns meses depois, surgiu a chance: o AoE estava contratando estagiários. Interessado, pesquisei por um assunto sobre o qual escrever, e vi, num blog, o assunto perfeito: Um rumor sobre o filme de Preacher. Li a notícia no site, vi uma pequena resenha, me interessei pela HQ. Baixei em scan, li, gostei e escrevi aquele que seria minha chave de entrada no AoE: Este texto.

Uma vez introduzido ao insano mundo da OLOLCO Corp., théo, na época nosso feitor, me dá as novas: Eu sou o responsável por colunas de HQs. Meu pensamento no momento: FERROU! VOU SER DEMITIDO POR ENTREGAR MATERIAL PORCO, E AINDA POR CIMA EM POUCA QUANTIDADE. Como eu estou aqui, abrindo minha vida como um livro para vocês, nota-se que isso ainda não aconteceu. Nunca debizei nesses anos de AoE/Naftalina/Bacon Frito, e, se entreguei uma dúzia de textos ruins, só posso bradar o clichê (Verdadeiro, mas clichê) de que ninguém é perfeito.

Desde que redescobri as HQs, soube de muitas boas obras e autores que me ajudaram a entulhar ainda mais meu cérebro com coisas inúteis. Neil Gaiman, Alan Moore, Grant Morrisson, Frank Miller, Sandman, Preacher, Transmetropolitan, Do Inferno… Tudo isso me ajudou a me tornar um nerd melhor.

Abri meu coração arquivo para vocês, mesmo que um pouco. Agora, é a sua vez, caro leitor: Com quem foi sua primeira vez, qual a sua relação atual com as HQs?

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