A putaria já deu tudo que tinha pra dar

Cinema, Livros quarta-feira, 22 de junho de 2016

Eu fui num sebo. Vendi umas paradas, comprei outras e saí de lá antes que me expulsassem suspeitando de uma invasão do MST, mas o que importa não é nada disso: Eu fui num sebo e nesse sebo tinha uma sessão seção de putaria. Vocês sabem do que eu tô falando.

 Dica: Nunca pesquise “sebo pornô” e nem “pornô cassete”.

Quem se amarrava em sebos era o Santhyago, eu sempre fui mais limpo fresco, preferindo livros novos e sem pó, mas à bem da verdade o que importa mesmo é o conteúdo, e o conteúdo de uma revista de putaria é o mesmo desde sempre, que é o mesmo que os dos filmes pornôs e que é o mesmo que você, jovem desesperado e na seca, encontra aqui. Mas o negócio é comer cu e buceta que sebos são lugares legais: Cê não só encontra um monte de coisa que não tem em banca e livraria como também os preços costumam ser mais baixos. Isso pra não falar da “experiência” do sebo em si.

E é aí que entra (Sim, este post inteiro será recheado de porra piadas infames) o belo e eterno mundo da putaria: Claro que tem gente nesse mundo que coleciona Playboys, gente que tem todos os filmes da Jenna Jameson, e ainda quem jure por deus que, um dia, vai vender por bastante dinheiro os displays em tamanho real do Ron Jeremy, mas na maior parte do tempo todo o material pornográfico termina assim: Num canto, em caixas e prateleiras, cheio de pó, lentamente deteriorando.

Particularmente, no sebo que fui o troço tava bem organizado por categorias e até as revistas estavam individualmente embaladas, com o pedido para não abrir o plástico, caso contrário terá de comprar. Isso é meio suspeito porque eu, assim como (Espero) todo mundo, iria querer ver se as páginas não estão grudadas, mas também porque de tudo mais que tinha por lá, de revistas, livros, enciclopédias, CDs, LPs, brinquedos e quinquilharias, a putaria era a única que recebia tal cuidado. Acontece que não adianta.

https://www.youtube.com/watch?v=atVNDwWtcjYQue atire a primeira pedra quem nunca achou uma música legal num filme qualquer.

Vai lá, me diz aqui o que acontece com o VSH de Experimentação Anal 8 depois que ele já foi visto dezenas de vezes por quem comprou? Ou com a Sexy de novembro de 2003 que também já foi usada vista inúmeras vezes? Porque tudo que tinha naquele sebo, tudo que vai ter em qualquer sebo, é de uma época em que arranjar pornografia era difícil: Esses negócios passavam pela mão (heh) de meia dúzia de pessoas, sendo emprestadas, trocadas, mostradas pros amiguinhos na escola, usado pra fazer poster em boteco e oficina mecânica pra depois serem descartadas. O que não foi pro lixo foi o que foi pouco usado ou, quando muito, ficou largado num canto até o dono juntar vergonha na cara e resolver se desfazer daquilo tudo. E um sebo é o lugar pra isso, considerando que a coisa toda não está nem gosmenta e nem em péssimas condições.

Mas essa “segunda vida” desse material todo simplesmente não tem futuro. Quem compra fita cassete hoje em dia? Porra, quem compra DVD?! DVD é um bagulho tão banal hoje que a galera compra de baciada no camelô, assiste, troca com os vizinhos, assiste de novo e depois, se não jogar fora, leva de volta pro camelô pra trocar por outros mais novos. Vira e mexe, depois de muita procura, cê encontra uma Playboy mais rara que custa uns 50 mangos e cê bota na sua coleção, e aí cê vê uma VIP qualquer que você lembra quando saiu mas não lembra se os bicos dos peitos são rosas ou não e já que você já tá alí, leva também. E é isso. Ou o troço vai das caixas e prateleiras do sebo pra caixas e prateleiras na tua casa ou vai pro lixo.

 Outra dica: Nunca procure “porn garbage”.

E sejamos sinceros, não há outra opção. Porque tem um limite pra essa de compartilhar pornografia, ao passo que um livro, um filme, uma série, enfim, qualquer outro tipo de produção de conteúdo tem esse fator de reaproveitamento. Independente de sucesso, qualidade, ano de produção, material, independente de qualquer coisa, qualquer obra de entretenimento pode ser apreciada e “utilizada” indefinidamente. Há os limites físicos, claro, afinal se o produto físico deteriora não há muito o que fazer, mas apesar de o conteúdo de qualquer material pornográfico também ser perpetuamente válido (Deixando de lado a trilha sonora e os estilos capilares superiores e inferiores), este não tem a mesma vida útil que qualquer outra obra de qualquer outro tipo teria.

Dá pra meter entrar em todo o aspecto de “o ser humano acha sexo algo sujo” ou ainda do já falado fato de que tem gente que acha que lambuzar uma foto ajuda no orgasmo, mas em nível mais básico ainda, apesar de o sexo em si não ter mudado absolutamente nada nos últimos milhares de anos, a pornografia é, no fim das contas, pessoal. Pessoal ao ponto de ser íntimo, do mesmo jeito que limpar a bunda no banheiro é íntimo. Do mesmo jeito que as calçolas da tua tia no varal deveriam ser íntimas.

Não importa se uma revista ou filme ou fotografia pornográfica foi comprada com a mais elevada das intenções, mantida longe de todo e qualquer fluído corporal e, exibida atrás de vidro de proteção: É seu, e apenas seu, e por mais que você tenha mostrado pro Joaquim e pra Mariazinha, aquela cópia do bagulho será eternamente sua. Quando deixar de ser, será lixo.

 Crássico.

Mais que qualquer outra coisa, mais que qualquer outro produto de entretenimento, a pornografia é a que mais faz sentido ser completamente digital. Assim não tem plástico pra gastar, nem papel, tinta, fita magnética, CD, capa, moldura. Mais que o seu banco te dizendo que cê não precisa do seu extrato impresso, você não precisa do novo ensaio da eliminada do BBB impresso. Digitalmente você tem uma conta num site qualquer, assiste o tanto de material que quiser, seja pagando seja de graça, e depois pode ir fazer um miojo. Sem guardar em estante, sem botar debaixo do colchão, sem devolver pro colega da firma. Você pode consumir pornografia no computador, tablet, celular, até mesmo no relógio, contando com facilidade de não ter que carregar nada pra lugar nenhum, sem ter que manter coisa alguma e, principalmente, sem ter que jogar nada fora quando você já enjoar do mesmo. Isso, é claro, se você resolver usar a internet do jeito que usaria uma assinatura de jornal: Você jamais teria fisicamente o tanto que pode ter digitalmente.

Quer algo que me deixa puto? Gente dizendo que não baixa putaria. Por que? Porque eu sou da época que cê tinha que baixar pra poder ver, pra poder guardar pra depois, porque era lento e difícil. Não é uma questão de facilidade, também não baixo mais nada, mas sim que essa de “eu não baixo putaria” dá um tapa de pica na minha cara e me diz exatamente o quão velho eu já sou. Todo trabalho que eu já tive digitalmente com a pornografia sequer existe mais. E nunca chegou aos pés do que era antes: Eu, em toda minha vida, nunca comprei uma Playboy.

Não tem mais porque comprar DVD de sexo. Não tem porque comprar ensaio fotográfico de famosa nenhuma. Todo o mercado do entretenimento adulto tem que se acostumar com a noção de que, em uns anos, o que continuar existindo de físico não será o que é exibido, mas apenas o que é usado: Vibradores e companhia continuação duros firmes e fortes, a prostituição também, mas filme? Foto? Muito mais que os filmes de super herói, singles pop, campeonato de esportes, desfiles de moda, muito mais que qualquer outra coisa que não lide com sexo, a pornografia avançou na “era digital”. E não tem volta: Vai me dizer que dá pra pensar em não ter mais gifs? Ou ainda um show particular com alguém na webcam do outro lado do mundo?

O mercado do sexo vai muito bem, e ainda que mude, jamais deixará de ser importante, uma vez que no fim das contas o que importa é o que você fez e não seu avatar, mas o entretenimento adulto já mudou em níveis além de todas as expectativas e vai continuar assim. Nadar contra a corrente não só é burrice como também é pedir pra se afogar. E isso vale tanto pra produtores quanto consumidores.

 Lembrem-se, crianças: A vergonha do sex shop é menor que a vergonha do hospital.

Eu não nego que é divertido chegar, por exemplo, no sebo e ver um monte de fita cassete ao lado de revistas que cê sempre ouviu falar e ver que esse tipo de coisa não é boataria do teu primo mais velho: Eu nunca consumi diretamente nada daquilo, mas obviamente conheço e faz parte da história que todos já sabemos de como a tecnologia evoluiu… E é isso. Eu sei que estou vendo sexo e peitos e tudo mais, mas aquilo tudo serve pra te fazer dar aquele sorriso tosco de “eu tô nessa seção” e seguir em frente: Eu não vou comprar nada daquilo, não ligo a mínima pra todas as pessoas que as fizeram (Até porque a parte que não morreu já se aposentou faz tempo pra caralho), e sei que o que sair daquelas prateleiras não acabará num museu ou biblioteca ou num leilão, mas sim no lixo. O sebo é só uma parada nesse caminho inevitável. Claro, pornografia ainda é pornografia e vai cumprir seu papel como entretenimento se você folhear os papéis e assistir os vídeos, acontece que você não tem mais motivo nenhum pra abrir uma revista ou rebobinar uma fita.

Pornografia é, no fim, descartável. Mais que um romance sobre vampiros, que um rap mexicano, que outro My Little Pony, que mais um Call of Duty. Pornografia é a camisinha que cê usa uma vez, lava, usa do outro lado e depois joga fora. E justamente por isso é muito mais fácil usar o digital, onde você não tem que se preocupar com o que sobra no mundo real. O mercado chama isso de “crise” e você vai ouvir infinitos discursos sobre como a pirataria é a culpada, mas a real é uma só, e inevitável: Pornografia não afeta o mundo real, e o que não afeta o real não tem motivo pra ir além do digital. Pague ou não pelo digital, mas gerar lixo é algo do passado para a putaria, e muito em breve será para todo o resto também.

É só falar de sexo que sai textão néah

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