A tristeza tem fim, mas a gente nem nota

Música terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Quando você presta atenção na letra de A Felicidade, de Tom e Vinícius, nota que eles falam de uma luta.

Se você estiver com preguiça de parar pra ouvir cada música, tem uma playlist aqui embaixo pra ouvir/ver/(sentir?).

De Classes? Política? Por sobrevivência? Por algo que eles viveram antes?

Quando essa canção foi lançada, em 1959, o Brasil era um país pós fascismo Getulista, que estava cheio de exaltação a pátria, Celi Campelo conquistava o país com seu Estúpido Cupido, JK criava uma latrina em formato de avião conhecida como Brasília, o militarismo escondido atrás da moita, e mal sabiam eles que dali uns anos ia ter que se falar de flores

Tendo esse contexto ou não, é uma música sobre uma luta que não tem fim, em busca da felicidade. Não vou me meter a filósofo, estou escrevendo sóbrio então não vou tentar definir o que é felicidade.

Ela fala de sofrer e amargar, pra ter apenas um pequeno momento de felicidade, como quem trabalha o ano todo pra ter 4 dias de felicidade com o carnaval. O toque de tamborim triste da interpretação original de Agostinho dos Santos só cria uma sensação mais opressora, e difícil de desconectar da ideia original, mas proponho uma outra visão, que já até mencionei em um post antigo numa rede social aí.

O fim da felicidade é visto de longe, “lá da ala 17” (que você não sabe onde fica, mas te garanto que é longe pra caralho se você estiver a pé), como eu e meu irmão de coração diríamos; como diz letra, é uma pluma levada pelo vento, que uma hora passa e ela cai. É simples e palpável a sensação dela indo embora, e como a pluma da letra, queremos mais vento, queremos que vente sem parar para que a pluma chamada felicidade não se vá embora. Ficamos impactados por essa visão, mas vou falar disso em breve.

No outro canto do ringue, pesando 16 toneladas, existe a tristeza sem fim, um mormaço seco em um calor de matar, um marasmo, uma sensação de falta até mesmo de inércia, nem deixando a vida te levar parece que as coisas saem do lugar. E essa sensação não passa.

Ou pelo menos parece que não passa.

Quando estamos tristes, perdemos a noção de tempo e espaço, a sensação ruim não passa, oprime, nega a percepção. Tudo o que dói é intenso, porque seu corpo tem que avisar seu cérebro que algo está errado. E a tristeza dói.

Mas quando estamos felizes essa sensação vai embora, de forma imediata. Não sentimos a alegria crescer dentro da gente, não dá pra ver ela vindo da esquina. A felicidade chega, sorri para você e você sorri de volta, sem nem mesmo perceber. Neste momento você atinge este estado de graça, os anjos cantam e essa sensação nunca tem fim, até que você veja, lá longe, bem longe, que o vento está parando novamente.

Se você chegou até aqui, já percebeu o movimento desse ciclo, a felicidade acaba e a tristeza não termina, até que você esteja feliz de novo. Aí eu te pergunto: isso é ruim? Se a felicidade fosse constante, você sentiria falta? Valorizaria?

Talvez o problema não seja a tristeza ter fim, ou a felicidade ter. Talvez o problema seja se preocupar demais ao ver que o vento vai parar.

O estado de graça da felicidade é o resultado de uma luta, nas palavras de Tom e Vinícius, do trabalho de um ano inteiro, que dura até a quarta-feira. No tempo deles não existia micareta, e o carnaval não começava em janeiro. A luta é real e necessária, porém, o fruto dela não tem uma validade tão curta e fatalista.

A felicidade pode vir de um livro, um texto, uma canção (ou várias, se você clicou nas palavras certas); pode vir dos amigos, do seu trabalho, do seu voluntariado. Mesmo quando é triste, a felicidade pode ser sentida sem esse peso opressor e claustrofóbico.

Felicidade pode ser como uma pluma, mas uma pluma é composta de várias partes (Cálamo, Raque, e barbas, que formam o vexilo (obrigado pelo Google Fu, editor)), e talvez, só talvez, se você procurar observar essa pluma por todas as suas partes, vai até preferir que não tenha vento, pra poder aproveitar mais e sentir só felicidade.

Era pra esse texto ter sido publicado muito antes, mas eu esqueci. O Gordo fez o favor de me lembrar que eu sou um safado não joguei ele no ar, depois de tanto trabalho que ele teve pra elaborar essa odisseia. E se você quer sua obra-prima publicada aqui, vamo-nos!

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