Agepê
Isso aqui vai despertar a memória de muitos churrascos de família, tios, pais, infância, tenho certeza. É assim comigo também, não se preocupem. O caso é que talvez muitos dos que já ouviram Agepê (A maioria acidentalmente, creio) não notou o grande artista que ele foi. Sendo assim, vamos em frente.
Antônio Gilson Porfírio nasceu no Rio de Janeiro em agosto de 1942 e foi um cantor brasileiro. Seu nome artístico veio do som das suas iniciais – AGP. Mas antes de deixar de ser Antônio e virar Agepê, ele trabalhou como técnico projetista da Telerj, a antiga empresa de telefonia do Rio. A carreira de cantor começou em 1975, com o lançamento do compacto com a música Moro Onde Não Mora Ninguém, seu primeiro sucesso, que foi inclusive regravado pelo Wando tempos depois.
Anos mais tarde, Agepê lançou aquele que seria seu maior sucesso: A música Deixa Eu Te Amar, contida no álbum Mistura Brasileira. A música esteve na trilha sonora da novela “Vereda Tropical” e o álbum foi o primeiro disco de samba a ultrapassar um milhão de cópias.
O jeito do samba de Agepê – romântico, sobre mulheres, casos amorosos e muito comercial – foi bastante criticado por ter sido mais ou menos uma influência para o péssimo pagode dos anos 90. Recebeu inclusive o apelido de “samba-jóia”. Mas, como bem se sabe, não se pode culpar um bom artista por outros que se inspiraram nele e acabaram fazendo merda. É como culpar os Ramones pelo hardcore melódico.
Agora, partindo pro campo pessoal, preciso dizer que o que me motivou a escrever este texto foi realmente uma certa nostalgia, que só agora, bem depois da adolescência eu posso aproveitar. Explico: Apesar de ter crescido ouvindo coisas como Agepê e Jovem Guarda, durante um certo período da minha vida, lá pelos quatorze e quinze anos, eu simplesmente achei que devia ignorar tais manifestações musicais. Na ânsia absurda de ser aceito no grupo social, por exemplo, um adolescente pode fazer idiotices assim.
O Sr. Antônio Gilson Porfírio fazia música boa, e isso é inegável. Mas naquele período imbecil, eu neguei. E o fiz porque achava que sabia alguma coisa. Pensava completamente diferente de hoje, e pra pior. Tudo isso, aliás, essas divagações, deveriam ser assunto do meu site pessoal, mas estão aqui no Bacon pelo seguinte: Sei que tem gente aí que está exatamente fazendo o que fiz. E a interwebs os incentiva. Em qualquer site desses que falam sobre música, o pré-adolescente acha coisas sobre os artistas da atualidade e fortalece cada vez mais sua noção de que o passado deve ser execrado, principalmente se não faz parte do seu pequeno grupo de bandas “aceitas” mesmo sendo antigas (Isso vale pros moleques que pensam sacar tudo de rock). Felizmente o Bacon não é só mais um desses sites.
Agora, quem já saiu desse lamaçal da pré-puberdade sabe do que estou falando. E se expandiu seu gosto musical, se simplesmente viu que a música é bem ampla e não é crime ouvir coisas completamente diferentes como, sei lá, Beatles e Agepê ou Elvis e Gonzagão, para você que entende isso, deixo meus parabéns. Como eu disse, finalmente posso ver a qualidade de artistas como o que trato hoje aqui e outros que um dia já achei que eram “coisa de velho” ou qualquer imbecilidade desse nível. Aliás, dentro em breve falarei mais sobre eles.
http://www.youtube.com/watch?v=1wATkrqSnlY
Agora voltando ao Agepê, ele infelizmente morreu em agosto de 1995, de cirrose, aos 53 anos de idade. É um destes que faz falta. Tenho aqui o LP Mistura Brasileira, a fita cassete de Me Leva e um cd de maiores sucessos. E assim, de maneira simples e com velhas mídias deixadas pra envelhecer pela casa, eu aproveito a nostalgia de infância que eu quase deixei passar.
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