Algumas coisas que não gosto em Assis
Infelizmente não é um texto turístico sobre Assis, essa pequena cidade italiana. E também não é sobre o Chiquinho. O Assis a que me refiro é o Machado. Queria fazer um trocadilho infame agora, mas perdi essa aula na faculdade.
E deixemos de enrolação.
Quando me propuseram escrever sobre Machado de Assis, pensei: “Merda!” (E não foi no sentido utilizado no teatro) e isso por 3 motivos: não gosto dele, é complicado e… Não gosto dele.
Não que o deteste como pessoa, sou indiferente a isso, não suporto é o “eu” escritor dele. Tá que o cara era um megaboga autodidata, fundador da Academia Brasileira de Letras, político e etc. Porém, mesmo sendo aclamado como um dos expoentes da literatura brasileira, reconhecido internacionalmente como um grande romancista, seu estilo não me agrada, principalmente ao meu lado feminista.
Alguns estudiosos machadianos consideram suas “heroínas” como grandes representações da alma feminina. Isso me leva a crer que o Machadinho só conheceu 3 tipos de mulheres: as apáticas, as interesseiras e as vadias. Como, por exemplo, Helena, do romance homônimo, uma heroína tão fraca e apática, incapaz de lutar pelo ser amado, mesmo após a revelação do seu não-parentesco com o rapaz, único impedimento até então para o casamento dos pombinhos (Isso porque o autor não queria escandalizar as moçoilas que liam seus romances). Mas o que a garota fez? Morreu (Literalmente) de tanta felicidade! Que coisa ridícula! Machado não deve ter conseguido continuar com a historia ou não sabia mais como conduzir a personagem e o romance, preferindo assim matá-la a dar-lhe a chance de lutar.
Em relação às interesseiras, temos Guiomar, de A mão e a Luva, protagonista sem sal e sem tempero, cuja meta de vida é ascender socialmente através do casamento. Os críticos dizem que ela é dona de uma personalidade complexa. Já vi gatos com personalidades mais complexas do que ela, aliás gatos têm personalidade complexa. No fundo não passou de uma garota mimada, que optou por um bom casamento. E essa característica interesseira se completa em outra personagem, Mrs Oswald, uma mulher muito astuta. Sei que poderão me dizer: “Mas naquela época era assim mesmo, as mulheres não tinham muitas opções, ou faziam isso ou sofriam.” Caramba, eu sei disso, e na verdade até entendo, mas ele bem que podia ter tentado descrever essas mulheres de uma forma mais profunda, como Alencar, por exemplo.
Agora se tem uma coisa que parece não faltar na obra de Machado de Assis é uma mulher vadia. Seja em seus contos, como A Cartomante, onde temos uma mulher infeliz no casamento, que acaba por ter um amante e é morta pelo marido corno. Acredito que seja uma tendência dos escritores a não gostarem de mulheres que traem, pois a maioria ou morre ou fica sem nada. Machado não foi o primeiro a tratar sobre o assunto de traição feminina, e nem será o último, mas sua visão sobre isso é preconceituosa em relação às damas. Claro que é uma opinião condicionada pelo meio social em que se está inserido, e critico isso não apenas nele, mas em todos os escritores que tratam o assunto assim, só considerei interessante citar isso em minhas críticas.
E já que entramos na parte da cornitude, vamos ao romance mor do assunto, Dom Casmurro, livro esse em que ele conseguiu alcançar o objetivo maior de seus escritos, não terem um final compreensível! Ele me escreve um livro inteiro sobre um cara com mania de perseguição, que crê que todos o traem, todos o odeiam, e no final nem tem a capacidade de saber se a mulher que ele mais amou, e que deveria confiar, o traiu ou não. Falta de comunicação acaba com os relacionamentos… Se o Bentinho fosse homem o suficiente para perguntar para a Capitu, metade do livro não seria escrito. E acho que isso resume bem todo o livro: um homem frouxo e uma mulher considerada vadia. Ou você acredita que naquela época, Capitu foi considerada uma grande mulher?
Outra coisa que Dom me lembra é a incompetência de Machado em fazer finais. Ou alguém morre e resolve o conflito proposto na historia, ou não tem um final coerente. É como se a resolução de um conflito, principalmente na fase realista do escritor, não combinasse com coerência. Muitas vezes você termina o livro com as mesmas dúvidas do começo. Claro que aquele professor de literatura chato, e muitas vezes desprovido de vida social, dirá que o autor quis construir seus enredos assim para levar os leitores a pensarem, a refletirem… Mas quem me garante que foi isso mesmo? Ele pode muito bem não ter dado conta de escrever um final decente (Falta de inspiração pode resultar nisso) e deixou por isso mesmo. Deve ter pensando consigo: “Não consigo escrever mais essa budega, acho que vou parar por aqui, as pessoas vão ler e não entenderão nada, mas como sou um escritor famoso, nem vão questionar e serei um gênio!” (Risada de cientista maluco e egocêntrico). Isso reflete bem meu desafeto por finais inconclusivos. De inconclusivo basta a vida real. E isso me leva a um outro ponto que não gosto nos livros de Machado, a sua filosofia de botequim (Se bem que acho que ele nunca freqüentou um).
Para ilustrar isso invoco evoco sua obra surrealista e morta (No bom sentido), Memórias Póstumas de Brás Cubas e seu desdobramento, Quincas Borbas. A obra em si é uma das poucas que gosto do autor, porque gosto de realismo fantástico. Porém, suas pérolas de filosofia barata demonstram a fragilidade do humor negro do autor. São pérolas de sabedoria simples, mas julgadas como se fossem obras de um pensamento superior, um elevação da filosofia moral carioca do império. Se bem que prefiro isso ao que figura hoje em dia como moral carioca (Vide os funks da vida). Mas mesmo assim, essas tentativas de filosofar me deixam entediada, um sentimento que Machado sabe despertar muito bem em mim. Principalmente com o seu “ode ao tédio”, Quincas Borbas. Foi o único livro até hoje que me fez dormir antes de chegar à vigésima pagina. Quincas Borbas foi escrito de uma maneira muito lenta, rebuscada e chata. A trama se arrasta por infindáveis linhas, não se sentindo o andar do enredo mesmo quando se descreve alguma ação. Considero chato até não querer mais. É um longo discurso com o nome do personagem principal, que até hoje não descobri se era o falecido ou o cachorro, e uma tentativa de dar uma maior profundidade a frasefilosofiadevida : “Ao vencedor as batatas.”
Não que as obras de Machado de Assis sejam totalmente repulsivas para mim, ou as odeie totalmente, apenas existem certos pontos que me desagradam, e tentei explicá-los. Cada obra literária tem seus pontos positivos e negativos, nenhuma é inteiramente perfeita, e mesmo naquelas que amo, tem coisas que também odeio. Sou apenas uma pessoa contra uma multidão de estudiosos do assunto, não me julgo conhecer mais do que eles, mas isso não quer dizer também que não possa expressar meu desagrado. Fica ai o meu discurso político eleitoral literário nonsense contra Machado de Assis. E até a próxima, se eu não for linchada em praça publica.
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