Animais Noturnos (Nocturnal Animals)

Primeira Fila segunda-feira, 02 de janeiro de 2017

2017 nem começou pra valer e lá estava eu, na primeira sessão de Animais Noturnos do dia. Esse é o nível de tesão que eu estava para assistir ao thriller protagonizado por Jake Gyllenhaal e Amy Adams, que encarnam o ex-casal Edward e Susan, reconectados após quase 20 anos graças a um livro escrito pelo protagonista.

Baseado no romance Tony e Susan, de Austin Wright, o longa dirigido por Tom Ford tem um formato interessante, contando duas histórias em uma, entrelaçando passado e presente através da perturbadora trama de Animais Noturnos, obra de Edward enviada à ex, após anos de silêncio. Nele, a família Hastings é encurralada por criminosos em uma estrada do Texas e Tony (Gyllenhaal) é obrigado a observar, impotente, sua esposa (Isla Fisher) e filha (Ellie Bamber) serem sequestradas pelo bando. Encontradas estupradas e mortas, o homem é perseguido pela necessidade de justiça e pela culpa, sentindo-se responsável por não impedir a tragédia.

Entre os trechos do livro, vemos Susan – no presente – vivendo a base de aparências, em um casamento infeliz e um trabalho que tinha tudo para adorar, mas odeia. Solitária em sua mansão, cercada por obras de arte, mergulha incessantemente nos escritos de Edward e nas lembranças da relação que tiveram. Desde o acidental encontro em Nova York, duas décadas antes, à separação, como a mesma define, brutal, que colocou um ponto final em tudo o que haviam construído enquanto casal.

Apesar de aparecerem juntos em flashbacks e se dizerem apaixonados, eles não parecem realmente conectados. Os motivos que levam ao divórcio não têm a ver com amor, mas com a ambição da esposa em oposição ao olhar romântico e sonhador de Edward sobre a vida. Quando ela decide que não podem continuar juntos, porque o julga um homem fraco, ele sabiamente avisa que “Quando se ama alguém, você precisa ser cuidadoso porque talvez nunca sinta isso novamente”. Uma bela frase que, no filme, parece apenas cuspida da boca de Gyllenhaal, já que a história do casal é tratada como coadjuvante por Tom Ford. Um grande erro. Se, por um lado, mergulhamos com Susan no drama da família Hastings, gradativamente deixamos de nos importar com a vida real, o que prejudica o ponto crucial do longa: O que há de Edward em Tony e qual é a mensagem que pretende transmitir à ex-mulher após tantos anos com um livro tão violento dedicado a ela? É possível fazer paralelos e inferir, mas seria muito mais relevante se os conhecêssemos melhor.

A história dentro da história é o único fôlego do longa. Com personagens interessantes, como o policial Bobby Andes (Michael Shannon), poderia tranquilamente ser uma trama independente. Mas é o apêndice de um núcleo central insosso. Apesar de algumas boas escolhas narrativas, como o fato de o livro ser o único fio condutor que resta entre Susan e Edward no presente e, ainda assim, parecer mais latente e intenso do que quando estavam efetivamente juntos, a vida real é, apenas, tediosa. Para o romance Animais Noturnos, eu daria nota 8. Para o filme, nota 2. Como correm paralelamente, tiramos a média. Infelizmente não sobra muita coisa.

Animais Noturnos

Nocturnal Animals (116 minutos – Suspense)
Lançamento: EUA, 2016
Direção: Tom Ford
Roteiro: Tom Ford
Elenco: Jake Gyllenhaal, Amy Adams

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