Anti-Heróis da Telinha

Sit.Com terça-feira, 17 de março de 2009

Após a explosão mundial nos 90, no reconhecimento das séries televisivas americanas, (antes denominadas pejorativamente de “enlatados”) principalmente, por buscar uma qualidade cinematográfica e tramas mais inteligentes e/ou dramáticas, vide o reconhecimento de séries como Arquivo X, Friends, ER e Seinfield, notadamente nos anos 2000 ocorreu uma evolução. Notem como houve uma valorização por personagens mais complexos, nem tão heróicos e muito menos vilões novelescos, mas sim, personagens mais humanos com suas qualidades e defeitos, verdadeiros anti-heróis.

O conceito de anti-herói surgiu após vários autores modernos de Literatura e Cinema apresentarem vilões complexos, com características que criam empatia com o leitor ou espectador. São personagens não inerentemente maus e que, às vezes, até praticam atos moralmente aprováveis. Contudo, algumas vezes é difícil traçar a linha que separa o anti-herói do vilão; no entanto, note-se que o anti-herói, diferente do vilão, sempre obtém aprovação, seja através de seu carisma, seja por meio de seus objetivos muitas vezes justos ou ao menos compreensíveis, o que jamais os torna lícitos, pelo menos seus atos.

O fenômeno, primeiramente, ocorreu na televisão a cabo americana, obviamente, um lugar que experimenta narrativas e personagens sem grandes responsabilidades com o retorno em audiência, como na tevê aberta. Duas recentes séries retratam esta busca por personagens conflitantes e, ao mesmo tempo, carismáticos: The Sopranos, com o retrato do mafioso contemporâneo Tony Soprano (interpretado pelo megapremiado James  Gandolfini), às voltas com negócios escusos, outros mafiosos, policiais e, principalmente, sua família, num retrato nu e cru do homem moderno que podeia ser seu vizinho com uma, a princípio, profissão diferente da sua, mafioso; já em The Shield, o detetive Vic Mackey extrapola os limites da moral e ética para tirar vantagem (leia-se, dinheiro) do mercado negro e do submundo que investiga junto a sua equipe, no entanto, protege sua família com “unhas e dentes” e como encara criminosos e assassinos perigosos, acabamos desculpando alguns dos seus atos (mesmo assim, o personagem mais equilibrado para vilão do que para mocinho da coluna de hoje).

Atualmente, os melhores personagens televisivos são os anti-heróis, é inegável o poder de dramaticidade (mesmo que alguns consigam acrescentar humor no personagem) e riqueza de detalhes das atuações dos atores que os personificam. O mais heróico deles, porém o mais trágico, é Jack Bauer (imortalizado pelo face e voz de Kiefer Sutherland), em 24 Horas, a sete temporadas defendo os Eua dos terroristas utilizando de todos os meios possíveis e impossíveis para fazê-lo. Claro que vale a discussão sobre o papel da tortura física, afinal de contas, sabemos da índole de Jack, porém, no mundo real fica difícil defendê-la aleatoriamente.

De longe o mais doentio dentre estes anti-heróis, Dexter Morgan (brilhante atuação e narração em off de Michael C. Hall), de Dexter, é um psicopata assumido, somente para ele e seu pai, que o criou sob um forte código moral para garantir sua sobrevivência frente ao seus instintos assassinos. Neste código, Dexter sacia sua “sede” de morte em criminosos que fugiram da Lei. Claro que, como perito forense da policia de Miami seu acesso aos crimes é facilitado. E é óbvio que, tendo um protagonista tão “vilão”, a série acaba por humanizar (principalmente, pela sua relação com Rita) o assassino e a cada temporada cria um vilão para enfrentar Dexter, assim assumindo o papel que meio de herói.

Mesmo não sendo O protagonista da série é muito difícil pensar em anti-herói na série Lost e não pensar em James “Sawyer” Ford. De indivíduo egoísta que pega pra si até mesmo os medicamentos da queda do voo 815, para trocar por favores com demais sobreviventes do voo, Sawyer, seu nome mais conhecido da ilha, acabou evoluindo como pessoa (não esquecendo que ele era um golpista e, inclusive, matou uma pessoa com as próprias mãos na Ilha) com o passar do tempo e frente as dificuldades enfrentados por todos e os sentimentos que lhe tocaram na misteriosa Ilha, quem acompanha a série junto aos Eua já pode observar este efeito no ótimo episódio LaFleur (s05e08).

Dos maiores destaques , só falta citar talvez o personagem mais rico da dramaturgia atual, Dr. Gregory House, por House. O texto dos roteiristas da série junto ao trabalho espetacular do ator Hugh Laurie (anteriormente, mais conhecido como o pai de Stuart Little, aquele filme do ratinho), consegue, mesmo na quinta temporada,  acrescentar nuances e particularidades ao viciado doutor em meio ao seu irreverente humor negro e ao caráter “pouco se importando” de House. Mesmo parecendo somente se importar com o diagnóstico das improváveis doenças de seus pacientes, que ele nem se importa em conhecer, afinal, “todos mentem”, como ele sempre diz, House já foi capaz de quase morrer para salvar a namorada de seu amigo Wilson. Na verdade, os instintos e o comportamento rude do personagem continuam sendo o grande trunfo da série.


Nota do Editor: Tema sugerido pelo DJ Raphael Mendes, o cara que manda no Bobagento.

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