As Viagens de Alice #1
Em abril haverá o lançamento do tão esperado remake(?) “Alice no País das Maravilhas”, do grande Tim Burton. Porém, para falar sobre o filme, deixo isso com a Uiara, que entende mais do que eu…
Como minha praia são os livros, e esse filme foi baseado em um, é melhor falar da Alice descrita em algumas folhas de papel.
Eu disse um livro? Desculpe, eu quis dizer dois.
Acredito que assim como eu, a maioria do grande público que teve seu primeiro contato com essa pequena no clássico da Disney, imaginou que todas aquelas aventuras fizessem parte de apenas um livro. Ledo engano…
Alice foi protagonista de dois livros: Alice no País das Maravilhas e Alice no Outro Lado do Espelho. Ambas as obras foram escritas para entreter as suas versões de carne e osso, Alice Liddell, de 10 aninhos de idade, e Alice Raikes, outra pirralha de idade desconhecida (Pedofilia detected). E nem vou me arriscar a escrever sobre as duas obras de uma vez. Vamos com calma com esse andor.
Em Alice no País das Maravilhas, numa tarde sonolenta, um coelho apressado com um relógio na mão atrai a atenção de uma menina curiosa, que adentra a sua toca atrás dele, e nisso se depara com um mundo novo e fantasioso, o Mundo Subterrâneo. Tudo ali é diferente e como tal, muito atraente, tão diverso do mundo real, em que todas as coisas pareciam certinhas, postas exatamente em seu devido lugar. Seu ambiente é exagerado, fora de escala, dando uma impressão horas de grandiosidade e majestade, horas de pequenez, delicadeza e simplicidade.
E nada daquilo que é parece ser o que será. Isso começa com o ambiente, e avança para os personagens e a própria narrativa. Cada um deles é uma representação arquetípica que, por seu caráter altamente mutável, pode ser interpretado de diversas formas. Claro que muitas citações, jogos de palavras e referências contidas na obra são difíceis de compreender seu real caráter devido à datação da obra: A Era Vitoriana. Muitas brincadeiras são referenciadas por fatos, poemas daquela época. O que não dificulta em nada uma interpretação pessoal da obra. Aliás, é uma desculpa perfeita para que isso aconteça. Os livros de Carroll são um dos poucos livros que podem ser diversas vezes interpretados, de diferentes formas, sem perder noção ou essência. Mas, claro que é preciso moderação, até mesmo o non-sense tem um limite do tolerável e do ridiculo.
Ler Alice é um exercício de imaginação por si só. Quando li pela primeira vez, não pude curtir toda a loucura da obra e suas possíveis interpretações. Pensei apenas que os personagens eram todos viciados em LSD, e o Cheshire um apreciador da erva. E que o Lewis estava com certeza curtindo uma trip bem louca. Acho que era a pouca idade na época.
Mas quando reli, pude perceber que a história podia muito bem representar o ser humano em meio a humanidade e seu caos. Não há nada mais louco do que o ser humano, assim como nos diz Gato Risonho: Todos ali são loucos, a começar por ele próprio. Sempre tão cínico, com seu sorriso imutável, a zombar de quem tente encontrar lógica em um mundo regido pela surrealidade, e é como se ele zombasse de nós, pobres seres, jogados de repente nesse caótico jogo da vida.
Podemos ser como a Lebre de Março ou o Chapeleiro Maluco, presos a convenções sociais, representadas pelo eterno chá das seis, porque brigamos com o tempo em que tínhamos liberdade de pensar e existir. E mesmo assim, em toda nossa vida somos questionados, assim como Alice o foi, com enigmas lógicos, mas cujas respostas sempre são incoerentes.
E sempre que somos confrontados com a Lagarta Azul, essa monossilábica sibila dos tempos futuros, são nos apresentados dois caminhos: Crescer ou diminuir. E antes que possa parecer que a escolha está entre aprender ou não, vemos que ambas as escolhas levam a um aprendizado: Aprender a descobrir os caminhos sozinhos, aprender a crescer na hora certa, e a diminuir na hora correta.
E em meio a tanta loucura, como que para evitar que o leitor se perca em divagações, temos Alice como a nossa constante e âncora, sempre ponderando a loucura, buscando a racionalidade, numa representação da eterna busca da verdade por parte de todos nós. Mais do que uma simples personagem, é nossa guia pelo aquilo que desejamos compreender da obra e daquilo que a obra quer que compreendamos.
São tantas as interpretações possíveis, que bem renderia vários posts, varias linhas, e vários pensamentos. E mesmo assim, com tantas coisas a serem ditas desse livro, o mais interessante seria dizer que o poder de mudar conforme o leitor é o seu maior encanto. E isso poucos livros são capazes de fazer. Nada deve ser preto no branco, a literatura não pode ser assim, deve instigar nossa curiosidade e levar a novos horizontes. Ser capaz de manter-se atual, e trazer algo do passado, encaixando-se seja em uma obra 3D, seja naquele teatrinho da escola. Quase tudo é válido para essa obra.
E, termino aqui com as próprias palavras de Lewis Caroll: ”Comece pelo começo, siga até chegar ao fim e então, pare.” E ansiosa pela interpretação do Tim Burton dessa obra fantástica.
Alice No País das Maravilhas
Alice In Wonderland
Ano de Edição: 2005
Autor: Lewis Carroll
Número de Páginas: 118
Editora: Universo dos Livros
Leia mais em: Alice do Outro Lado do Espelho, Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll, Tim Burton