Assassinos Profissionais
Em mais uma coluna temática porque eu tenho preguiça de pensar em algum assunto e acabo escolhendo de acordo com o calendário, teremos no próximo sábado o dia do trabalhador. No ano passado, como vocês provavelmente não lembram porque têm umas memórias de peixe dourado com Alzheimer, falei sobre a mais antiga profissão do mundo: trabalhadora liberal da área de copulação. A.k.a Puta. Esse ano falarei da segunda profissão mais popular em Hollywood. Aquela que sustenta diversas famílias ficcionais. Aquela que não é de Deus fora das telas. Aquela que qualquer pessoa com indecência o bastante pra ficar na torcida tem todo o meu respeito. São os facilitadores de encontros com São Pedro, digo, agricultores simpatizantes do adubo humano, digo, os produtores de presunto natural, DIGO, os assassinos profissionais.
A sétima arte tem uma quantidade exorbitante de assassinos. Pra minha sorte (e de vocês também, que estão lendo), a linha que divide os profissionais do simples psychos é tão pouco tênue que poderia ser facilmente confundida com uma parede de cofre de banco. Os profissionais matam porque é um trabalho, sem qualquer envolvimento emocional. Os psicóticos matam por… bom, por qualquer motivo. Então nem adianta dizer que o vampiro do mau do Queprúsculo é um ÓTIMO assassino e só faz isso da vida morte existência dele. Ele ganha dinheiro por pescoços chupados? Não. Fim. Veja se a carapuça serve e vamos ao que interessa.
Ken e Ray – Na mira do Chefe
(In Bruges, 2008)
Dois irlandeses são mandados a Bélgica pra acalmar os ânimos depois que um deles faz a merda de atirar numa criança durante um trabalho – e surta com isso. Parece drama? Nem de longe, é um senhor exemplo do mais fino humor inglês. Se isso, o sotaque irlandês, ou o fato de ter um ator anão rodando um filme de arte no local, ou porque fizeram o casting nos bastidores do Harry Potter (Brendan “Olho Tonto” Gleeson, Clémence “Fleur” Poésy e Ralph “Sem Nariz” Fiennes estão no elenco), veja porque é um dos raros filmes que OMFG o Théo elogiou.
Martin Q. Black – Matador em Conflito
(Grosse Pointe Black, 1997)
Com um título em português ainda pior do que o anterior, Matador em Conflito fala de um cara que não tá a fim de ir à reunião de 10 anos dos colegas de escola, mas acaba indo porque tem um trabalho a fazer na mesma cidade. O problema é a crise emocional, que poderia pender pro dramalhão forçado mas que, muito pelo contrário, resulta em préulas do humor negro como só os anos 90 fabricavam. Mesma época em que John Cusack tinha um agente mais atento.
Arthur Bishop – Assassino a Preço Fixo
(The Mechanic, 1972)
Sério, quem traduz esses títulos? O Clark Gable queimado, também conhecido como Charles Bronson, interpreta um cara sossegado, que ganhava a vida desonestamente, e que em um dado ponto resolve pegar um pupilo pra criar. Óbvio que isso dá merda. Bronson tinha uma cara de errado de dar medo e é por ele que esse virou um dos melhores filmes de suspense que gruda os olhos na tela que já vi. Um remake com o Jason Stathan deve sair até o fim do ano, dizem.
Jef Costello – O Samurai
(Le Samouraï, 1967)
Jef é um assassino do jeito que deveria ser: introvertido, sem família ou amigos, concentrado. Ele começa a nova tarefa roubando um carro e arrumando uma arma. Mata quem tem que matar e sai. Tudo perfeito, se não tivesse sido visto por uma pianista, a polícia já estivesse no encalço e os chefes se recusassem a pagar. Se virando até bem com os dois primeiros problemas, resta ir atrás da grana e do infeliz que o contratou. Feito na França em 67, com o eterno sex symbol Alain Delon (que, benzadeus, não ganhou o título por acaso), o filme é exatamente como o protagonista: satisfaria se fosse só o que é, mas nem por isso deixa de jogar o queixo dos espectadores no chão.
Léon – O Profissional
(Léon, 1994)
Luc Besson é curioso. E qualquer filme dele é válido exatamente por causa disso. Mathilda é uma menina que perde toda a família, morta por uma gangue porque o pai era um traficante enrolado. Sem rumo, vai pra casa do vizinho esquisitão e sem o menor talento pra ser pai. Logo que descobre que o cara é um assassino profissional, pede pra que ele a ensine no intuito de vingar a morte do irmão menor. Sem o menor jeito pra transmitir qualquer outra coisa, Léon concorda. E assim, aos 12 anos, Mathilda aprende a se vingar. Se a história do Besson não te atraiu, acho que é válido dizer que a menina é nada mais, nada menos, que a Natalie Portman, gatz desde pequena.
Ainda do Luc Besson, tem também a Nikita (1990). É muito bom, mas gosto mais do Léon, e a coluna é minha.
Matadores do Guy Ritchie
(1998 – 2008)
Eu bem que tentei escolher um, mas praticamente todos os filmes do Guy Ritchie envolvem um assassino profissional fodástico. No Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes tem o Big Chris, um cara que desce o cacete em todo mundo mas leva o filho pro “escritório” e não permite que o garoto fale palavrão. No Snatch tem tanta gente torta que eu nem sei quem é o profissional. No Revolver tem o Sorter, que (quase) nunca erra e tem a maior cara de nerd da história dos assassinos. O mesmo ator muda totalmente o jeito (e o cabelo) e vira o RocknRolla Archie, que dá tapas que são piores que tiros. A quantidade de gente errada nos filmes é tamanha pra que os matadores profissionais sejam flores. Guy Ritchie é o mestre da fineza do submundo. Você TEM que respeitar os assassinos dele.
Tinha ainda o Goodkat do Lucky Number Slevin e até mesmo o Jules e o Vince do Pulp Fiction, mas acho que já deu. E faça-me o favor: veja o nível de atuação que citei aqui antes de sequer LEMBRAR do Jason Bourne ou da mulher do Resident Evil. No mais, quem vocês acham que merece uma medalha amanhã por essa controversa profissão?
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