Com suas primeiras edições lançadas em 1982, V de Vingança foi um dos primeiros – e um dos melhores, na minha humilde opinião de bucaneiro – trabalhos da carreira de Alan Moore. A série de dez capítulos começou a ser lançada em preto e branco na revista Warrior, mas a revista foi cancelada em 1985, quando V de Vingança, dividida internamente em três livros, estava no fim de seu segundo.
A história se passa numa inglaterra futurista – pra época, pelo menos – governada pela Nórdica Chama (Norsefire, no original), um partido fascista que chegou ao poder após uma catástrofe mundial causada por uma guerra nuclear, da qual o Reino Unido foi poupado graças á derrota dos conservadores em 1983 (o próprio Alan Moore depois se declarou ingênuo por acreditar numa óbvia derrota de Thatcher, na época). Londres é constantemente vigiada por um sistema policial dividido em departamentos com tarefas específicas: O Olho vigia a cidade através de inúmeras câmeras, a Boca é responsável pela propaganda e comunicação (aparentemente unilateral) entre o partido e o povo, o Nariz é o departamento de investigação, o Dedo se encarrega das prisões e execuções e a Cabeça administra e coordena os outros departamentos. Todo o aparato policial e político se baseia em Destino, um supercomputador ligado a todos os órgãos do partido, e teoricamente capaz de avaliar qualquer situação e encontrar a solução adequada.
Em 5 de novembro de 1997, um terrorista fantasiado de Guy Fawkes explode as casas do parlamento inglês. É o início de uma elaborada vingança contra abusos provocados em nome da ordem. Durante a noite das explosões, o criminoso, que passa a ser conhecido simplesmente pela inicial V, encontra Evey Hammond, uma órfã desesperada, abatida e inexperiente que tenta, sem sucesso, entrar para a prostituição. A garota acaba se insinuando, sem saber, para um dos homens do Dedo, e é salva por V e levada por ele para a Galeria Sombria, onde o terrorista guarda toda a arte que ele conseguiu juntar antes que fosse destruída ou censurada pelo governo.
A HQ traz o conflito entre a Anarquia, a paixão de V – destaque para o diálogo entre V e a Madame Justiça -, e o fascismo, tendo Adam Susan, chefe da Cabeça, como seu representante máximo. Um ponto interessante é que Moore nunca chega a apresentar heróis ou vilões. V, sendo ou não bem-intencionado, é um terrorista e um lunático, matando quem quer que se ponha no caminho de sua vendeta; e Susan é um homem afogado em seu desespero solitário, incapaz de interagir socialmente, que acredita estar sozinho no mundo com seu ‘deus’, Destino. Sem conhecer a ternura humana, o ditador anseia pelo amor frio e, segundo ele, perfeito, de sua máquina.
A idéia é aplicar a anarquia na própria HQ, deixando o leitor pensar por si próprio e decidir se dá razão á ordem restritiva da Nórdica Chama ou ao caos libertário de V. Somos levados a ver a história através dos olhos confusos de vários personagens secundários, como a própria Evey, que vai gradualmente se transformando em algo diferente; Rose Almond, viúva do falecido Derek (ex-chefe do Dedo), que percebe que era amparada apenas pela alta posição de seu marido, e se torna completamente desprezada e largada após a sua morte; e Eric Finch, investigador do Nariz, que vê V como um monstro, mas, sendo obrigado a tentar pensar como o terrorista para pegá-lo, começa a questionar sua própria conduta, tendo aceitado e se tornado parte de um sistema fascista do qual ele discorda. Ao contrário da versão cinematográfica, Finch nunca chega a admirar V ou o que ele faz: ele o considera um monstro até o último momento. A humanidade de cada personagem é outro traço marcante da HQ.
V de Vingança é o tipo de HQ que se torna um clássico pra quem lê. E foi a HQ que me fez ver que histórias fechadas geralmente tem potencial pra ser muito melhores do que as inacabáveis histórias de super-heróis.
Recomendo que a HQ e o filme sejam vistos como duas obras separadas. Os dois foram feitos em épocas diferentes, e enquanto a Graphic Novel era uma resposta ao Thatcherismo inglês dos anos 80, o filme tentou se adaptar á briga entre conservadores e liberais e á guerra ao terrorismo americana. Isso, claro, sem contar que o filme não foi nem um pouco encorajado por Moore, que já tinha ficado insatisfeito com outras adaptações, como A Liga Extraordinária.
Ave atque vale, marujos!
V de Vingança
V for Vendetta Lançamento: 1982/1988 Arte: David Lloyd Roteiro: Alan Moore Número de Páginas: Varia Editora:Vertigo (EUA), Quality Comics (Reino Unido)
Senãooras e senãoores, bem vindos ao Música para se ouvir no convés. Essa semana, é com grande prazer que eu os apresento aquela velha banda do Texas: ZZ Top. It’s fiesta time.
Primeiro as apresentações, claro. O ZZ Top é – e sempre foi – formado pelo guitarrista Billy Gibbons, o baixista Dusty Hill e Frank Beard na bateria. Os caras já tão aí desde 1969, e continuam tocando em shows e gravando música até hoje. Não preciso dizer que eles são bons, imagino. Mesmo porque isso já tá implícito em qualquer texto que apareça nesse quadro.
A banda começou quando Gibbons chamou Frank pra formar um trio de blues rock. Beard, por sua vez, chamou Hill, que tocava com o baterista na banda American Blues. O nome da banda é uma homenagem a BB King. Por muito tempo, se pensou que fosse uma homenagem a ZZ Hill, ou que Gibbons tinha visto as duas palavras num letreiro quebrado, ou alguma das várias teorias malucas que fizeram. Segundo o livro de Gibbons, Rock + Roll Gearhead, eles queriam se chamar “ZZ King”, mas ia soar parecido até demais com o rei do blues. Trocaram “king” por “top” e pronto. Agora chega de enrolação. Eu sei que vocês querem é um pouco do som dos caras. Com vocês, Blue Jeans Blues:
Em 1977, os caras resolveram dar um pequeno tempo. Durante ele, o produtor e empresário da banda, Bill Ham, conseguiu negociar com a gravadora antiga e manter o controle de seus álbuns anteriores, distribuindo-os pela Warner Bros Records. Mesmo porque todo mundo gosta de bufunfa. Foi só depois de dois anos e meio que os caras voltaram, trazendo, além de música do cacete, o visual que se tornaria marca registrada da banda. Barbas, rapaz! Billy Gibbons e Dusty Hill, sem o conhecimento um do outro, começaram a deixar suas lendárias barbas crescerem.
Tá vendo o cara sem barba ali no fundo? Exatamente, aquele é Frank Beard.
Foi nos anos 80 que a popularidade da banda deu um salto. Eliminator, de 1983, é o disco de maior sucesso da banda. Tanto Eliminator quanto o álbum seguinte, Afterburner, trazem o som de sintetizadores misturados á forte pegada de blues rock. Isso, tendo tornado o som mais moderno, pode ter contribuído pro sucesso dos álbuns. Apesar disso, nos trabalhos seguintes os sintetizadores foram diminuindo cada vez mais, passando a aparecer só ocasionalmente. Como exemplos dos clássicos dos caras nos anos 80, podem ser citados Legs e Sharp Dressed Man, que você confere no vídeo aí em baixo:
Como já foi dito ali em cima, o visual do ZZ Top sempre fez tanto sucesso quanto o próprio som. Alguns dos carros e motos de Gibbons, como o coupé Eliminator e o CadZZilla – junto com HogZZilla, as duas Harley Davidson que acompanham o cadilaque -, ficaram famosos, aparecendo em clipes da banda. Além dos carros, as barbas dos músicos também já deram o que falar. Em 1984, a Gilette ofereceu um milhão de dólares pros caras raparem a barba num comercial. Um milhão de dólares, porra! E o que os dois malucos dizem? “Não vai rolar, rapaz, nós somos muito feios sem ela”. Depois de recusar uma bolada dessas eu tenho até medo de ver os caras por trás da barba. Porque porra, até o Shane MacGowan tem coragem de aparecer sem barba.
Em 2000, a banda teve alguns dos compromissos cancelados quando Dusty Hill contraiu Hepatite C. Pro bem da banda e dos ouvintes da boa música, o cara se recuperou. O CD mais recente dos caras é Mescalero, de 2003, mas Dusty Hill chegou a dizer em 2007 que eles já tão se coçando pra gravar mais. Eu e mais uma porrada de gente esperamos que eles o façam.
Passada toda a enrolação, chega a única parte que vocês realmente vêem desses textos: Os melhores sons dos caras, em minha piratesca e humilde opinião. Pois bem, não tinha como ser de outro jeito. É claro que eu vou recomendar a vocês os clássicos La Grange e Tush:
É bem provável que vocês todos já saibam sobre o Festival de Filmes Curtíssimos, que aconteceu aqui em Brasília na última sexta, dia 2. Depois de todos os curtas, chegou a hora da muito esperada estréia de A Capital dos Mortos, que não é um curta e estava fora da competição do festival. Completamente do caralho, o filme. Mas antes de começar a resenha, nada mais justo do que apresentar um dos curtas (provavelmente o melhor, na minha opinião):
Puuuuxa!
Tem um quê de Comichão e Coçadinha, não? Hã, certo, voltemos ao assunto. Ah, claro. Eu vou usar de spoilers sem dó nem piedade, caso me dê vontade. Assim sendo, se você é uma bichona que se incomoda com esse tipo de coisa, azar o seu.
A profecia de Dom Bosco abre o filme, já preparando o espectador para o desespero que está por vir. As palavras do padre, além de falar sobre a criação de Brasília, alertam sobre o fim dos tempos. Três gerações, contadas a partir do dia de sua morte, seriam o tempo para a chegada do apocalipse. Logo após o terrível aviso, somos transportados para um dia aparentemente comum de nossa querida capital federal. Na cena, duas garotas: uma mostrando á outra a cidade. E é justamente no meio do passeio romântico que tudo começa: Uma das moças é atacada por um morto-vivo enquanto tira fotos de si mesma – uma cena genial, aliás. É aí que entra também a DEVICE, dando um ar ainda mais gore pras cenas de sanguinolência com seu Black Metal na trilha sonora. Ah, claro. Eu cheguei a mencionar o beijo lésbico antes do ataque? Acho que citar esse tipo de coisa acaba fazendo mais gente ver o filme.
Logo depois, somos apresentados aos heróis da história. Cristofer (Yan Klier) é o primeiro do grupo a confrontar os mortos-vivos ao atropelar um deles. Depois de tentar buscar sua namorada e vê-la ser devorada pelos mortos, ele vai ao encontro de Lucas (Gustavo Serrate), que, assim como Cris, é fã de zumbis; André (Pablo Peixoto), o chato do grupo; e Pâmela (Laura Moreira), irmã de Lucas. O grupo é completo pouco depois, com a heróica aparição do misterioso Tio (Jean Carlo), responsável por equipar o grupo com armas e munição. Dentro do carro e sempre em movimento, o grupo tenta então bolar um plano para sobreviver á catástrofe zumbi, usando clássicos do gênero como base para as estratégias (como a própria idéia de se manter em movimento, que é sustentada pelo clipe de Thriller, onde a mocinha corre pra dentro de uma casa, ao invés de fugir pra qualquer outro lado, e acaba tomando no toba).
Os heróis
Além de elementos de terror, o filme traz excelentes cenas de humor, muitas delas satirizando os próprios clichês de filmes de zumbi. A melhor delas, na minha opinião, é a que ironiza a clássica cena do zumbi saindo da tumba. O humor do filme é bem variado, indo desde a sátira ao humor ácido, como o funcionário do necrotério tentando tirar o atraso com uma cadáver jeitosinha e sendo devorado pela mesma. Mais um ponto interessante é que o filme não ignora toda a cultura zumbi que existe no mundo hoje em dia. Os personagens tem uma noção do que está acontecendo e já pararam pra pensar no que fariam num caso desses.
Os personagens são bem carismáticos – e isso inclui o sujeito do pescoço quebrado cujo nome eu não consigo lembrar agora – e o enredo bem bolado. A própria falta de verba para realizar algo maior no filme não o impediu de ser ótimo. A criatividade do diretor e dos produtores da Capital foram suficientes pra transformar cenas do cotidiano de brasília na imagem perfeita de um apocalipse zumbi. E contar com a aparição de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, ajuda ainda mais.
Talvez os moradores do DF acabem se identificando mais que o resto do Brasil com algumas das piadas e frases tipicamente brasilienses (“Uma porra dessa nunca ia acontecer aqui em Brasília. Aqui só tem churrasco!”), e isso acaba dando um toque bem candango á obra. Outro ponto comum aos filmes brasileiros é o estilo da narração, com pausas onde o personagem principal diz o que pensa a respeito de uma determinada situação ou personagem.
Mas eu não vou mentir pra vocês, meus caros leitores. O grande responsável pelo sucesso absoluto de A Capital dos Mortos é um certo zumbi cabeludo extremamente charmoso que aparece em só duas cenas. Dizem que o brilhante ator, que agora é o novo detentor do recorde mundial de orgasmos femininos simultâneos causados pela aparição de um morto-vivo numa exibição de cinema, escreve pra um certo site aí e faz tiras sobre piratas. E também entrevistou o diretor do filme, Tiago Belotti.
Meu conselho é que vocês vejam o filme. Comprem o DVD, porque vale á pena pra caralho. Vocês precisam ver esse filme! Ces vão todos morrer, seus macacos!
A Capital dos Mortos
A Capital dos Mortos (90 minutos – Terror/Zumbis) Lançamento: 2008 Direção: Tiago Belotti Roteiro: Mikael Bissoni e Tiago Belotti Elenco: Yan Klier, Pablo Peixoto, Jean Carlo, Gustavo Serrate, Laura Moreira
Filmes independentes são o tipo de coisa que não recebem muito apoio no Brasil. Menos ainda sendo filme de terror, e em Brasília. Mas as dificuldades não impediram Tiago Belotti e Rodrigo Luiz Martins de produzir A Capital dos Mortos, que já é bastante aguardado pelos fãs brasilienses (e por muita gente de fora da cidade também). Em entrevista para o Ato ou Efeito, os dois falaram um pouco sobre o projeto.
Fã do sub-gênero, Tiago sempre se interessou por zumbis. Seu primeiro contato com os mortos vivos foi o clipe Thriller, do Michael Jackson, que, segundo o diretor, realmente o assustava quando pequeno. Além do clipe, os clássicos do gênero – como os filmes de George A. Romero – também serviram de inspiração pro cara. Filmar um longa-metragem de zumbis sempre foi uma vontade de Tiago, e, em 2006, ele e Rodrigo resolveram tentar produzir o filme de vez. Compraram uma câmera e o dinheiro do próprio bolso e começaram a dar vida ás suas idéias. Na cara e na coragem, mesmo.
Nem o congresso está a salvo.
Apesar da falta de verba e de apoio de empresas, A Capital dos Mortos não pretende de modo algum ser um filme trash. Tanto Tiago quanto Rodrigo garantem que o filme, desde o início, tem sido feito com todo o cuidado possível, e que eles tem usado a criatividade pra contornar a falta de verba. “Numa cena onde a gente precisava de um atropelamento ou numa decapitação, por exemplo, a gente não desistia por falta de verba”, diz Tiago. “A gente pensava ‘como dá pra fazer isso com o que a gente tem?’, e arrumava um jeito”.
Além da criatividade, boa parte da produção do filme se deve á ajuda e boa vontade de várias pessoas. Atores, músicos e maquiadores trabalharam de graça, bem como uma legião de zumbis empolgados com a idéia. Como disseram os próprios produtores, “A equipe de A Capital dos Mortos na verdade é gigante. Eu e o Rodrigo organizamos tudo, mas a produção se deve em grande parte também ás várias pessoas que deram apoio pra gente”.
A Capital é um filme aberto pra quem quiser ajudar. Isso foi bom tanto pros caras, que com isso conseguiram tanto ajuda na produção quanto na publicidade do filme. “Todo mundo aqui provavelmente conhece alguém que foi zumbi”, disse Rodrigo. “Muito do marketing do filme foi espalhado pela boca do povo, mesmo. Uma porção de gente convidou os amigos e até parentes pra participar das filmagens. É o contrário do que acontece em outras produções, onde se exige de quem quiser ser zumbi que mande um e-mail com foto pra que eles analisem se o cara pode exercer o papel ou não. Na Capital não foi assim. Quem quisesse ser zumbi só precisava aparecer nas gravações. Toda ajuda foi e ainda é muito bem-vinda”.
Miooolosss!
Perguntados sobre os outros filmes do gênero sendo produzidos no Brasil, os caras citam o média mineiro Era dos Mortos, de Rodrigo Brandão, uma produção muito bacana, segundo eles; e Mangue Negro, do Espírito Santo, que começou a ser produzido poucos meses depois que a Capital, e parece extremamente bem feito, além de ter tem uma idéia original.
A história do filme parte da profecia do padre Dom Bosco, que em 1883 teria profetizado a construção de Brasília. á profecia do padre foi adicionado pelos produtores que ele teria visto que o apocalipse começaria a acontecer aqui. O filme gira em torno de um grupo de amigos, dos quais alguns são fãs de zumbis que várias vezes se imaginaram nessa situação, pensando no que fariam caso uma infestação de mortos-vivos realmente acontecesse. “A gente tentou dar um realismo maior pros personagens. Você não vai ver aquele negócio da mocinha ouvir um barulho sinistro e entrar no quarto pra descobrir o que é, enquanto ela poderia simplesmente sair da casa. No filme, os personagens são sobreviventes, não estúpidos“. A história é bem equilibrada, segundo Tiago, tendo boas cenas de drama, ação, alguns momentos de comédia e outros de neutralidade. E gore, claro. Sustos, gore e nudez o suficiente pra agradar os fãs, mas não em exagero a ponto de estragar o filme. Aliás, a nudez do filme é justificada, não é gratuita.
Os heróis. Ou vítimas, se preferir.
Como o filme é independente, os dois produtores puderam ajeitar cada detalhe exatamente como queriam, como uma das capas escolhidas para o DVD – que tem uma cara de folheto de cordel-, criticada por alguns dos fãs do filme. A idéia foi dar uma cara mais brasileira pro filme, fugindo dos clichês das capas comuns de filmes do gênero.
Tiago diz que quer, se possível, transformar o filme numa trilogia. “Meu sonho mesmo como produtor é lançar um box com os três filmes. Ou quatro, sendo um só de material extra. O dia em que eu conseguir isso eu posso até me aposentar”. O roteiro para o segundo filme já foi iniciado, e o diretor espera conseguir dinheiro suficiente com a venda dos DVDs pra começar a produção da continuação. “Não dá pra achar que todo mundo vai comprar o filme, claro. Eu tenho alguns desafetos que tão só esperando o filme ser lançado pra disponibilizar ele por torrent. Muita gente vai baixar o filme na net, isso é inevitável, mas eu acredito que também há quem queira prestigiar o trabalho comprando o DVD, que terá muito material extra”.
O filme, agora já pronto, será exibido no começo de abril (ou talvez ainda no final de março, segundo a comunidade do filme no orkut), tendo algumas das exibições já confirmadas. Os caras só esperam a confirmação de mais locais pra divulgar as datas. Isso pra evitar que só se espalhe a notícia de uma exibição e no dia apareçam 300, 400 pessoas em uma sala que comporta 70 ou 80. Quanto ás reclamações sobre a demora para o lançamento do filme, Tiago pede paciência. A idéia é dar prioridade á qualidade do filme, evitando os problemas de um lançamento apressado e sem o devido planejamento.
A trilha sonora do filme foi toda composta por Renan Fersy, e conta também com o som da banda local DEVICE, além de duas canções de MPB interpretadas pelas artistas Ingrid Mara e Lorena Lira, compostas exclusivamente pro filme, uma por Brioni Capri e a outra por Vithor Hugo.
A Capital dos Mortos, na minha opinião, é uma excelente aposta entre os filmes independentes. Com certeza eu recomendo a todos que comprem os DVDs, porque a idéia merece uma continuação. Palavra de zumbi.
Mais informações sobre o filme podem ser vistas na comunidade de A Capital dos Mortos no Orkut.
Tripas! Sangue! Gore!
CONFIRMADA A DATA DE ESTRÉIA!
Dia: Sexta Feira, 2 de maio
Local: Cine Brasília! EQS 106/107 (Asa Sul)
20:00h – Abertura do festival: Seleção internacional… parte 1
21:00h – Competição Nacional e local (filmes brasilienses)
*22:00h – Sessão Maldita (Hors Concours)… A CAPITAL DOS MORTOS
(Hors Concours é um termo francês e significa fora do concurso, ou seja, A Capital dos Mortos não está competindo no festival.)
Agora vamos tentar levar o filme para mais cidades! Saiba aqui como.
Qualquer especial sobre zumbis ficaria incompleto se não se falasse um pouco sobre Rob Zombie. O cara, fã de bandas como Ramones, Misfits e Black Sabbath, teve a idéia de montar uma banda com Sean Yseult, sua namorada, nos meados de 1985. Chamando Peter Landau para tocar a bateria, Sean no baixo e Ena Kostabi na guitarra, Rob formou o White Zombie. O nome veio do filme de 1932 de mesmo nome, estrelado por Bela Lugosi. Com letras fortemente influenciadas por filmes de horror, sempre sobre fantasias de terror insanas, a banda sempre manteve um som pesado com distorções macabras. É difícil não se empolgar com o som dos caras, a não ser que você seja um zumbi. O vocal carregado de Rob e os riffs viciantes provavelmente vão te fazer gritar por miolos enquanto ataca seus familiares. Claro, nada melhor pra mostrar a evolução da banda do que começar mostrando pra vocês King of Souls, do primeiro EP do White Zombie, Gods on the Voodoo Moon. Da época em que a banda não era mais que um bocado de punks sujos de Nova Iorque. Empolgante, agressivo e sujo pra carái!
Em 86, Tim Jeffs substituiu Kostabi e Ivan de Prume entrou no lugar de Landau. O segundo EP dos caras, Pig Heaven, foi lançado no mesmo ano. Com apenas duas músicas – duas a menos que o anterior -, a banda ainda continuava com o mesmo som. Jeffs foi demitido depois de poucos shows, e Tom Guay entrou em seu lugar. O terceiro EP, Psycho-Head Blowout, saiu pouco tempo depois, mas foi só em 1987 que o primeiro álbum completo, Soul-Crusher, foi lançado. Foi nesse álbum que apareceram pela primeira vez partes do som de filmes nas músicas da banda. Coisa que virou não só costume, mas marca registrada dos caras. Depois de assinar contrato com a Caroline Records, a banda ganhou mais reconhecimento, passando a tocar fora de NY também. Pouco depois do lançamento de Soul-Crusher, mais uma mudança na banda: John Ricci entra no lugar de Tom Guay.
Em 1989, foi lançado o segundo LP da banda: Make Them Die Slowly. O álbum marcou uma transformação no som da banda, que deixou de ser voltado pro punk, ficando mais encorpado, se aproximando mais do Heavy Metal. O vocal de Rob também mudou bastante, se transformando na voz conhecida de hoje. Me lembra bastante o James Hetfield, aliás. ó lá como a coisa mudou:
A última substituição na guitarra do White Zombie aconteceu quando Ricci foi gravemente prejudicado pela Síndrome do Túnel Carpal, que afetou bastante sua capacidade de tocar guitarra. Jay Yuenger assumiu a guitarra, puxando a banda um pouco mais pro lado do groove e do metal. Coisa que dá pra reparar bastante em Thunder Kiss ’65, do terceiro LP dos caras, La Sexorcisto: Devil Music, Vol. 1. A música você provavelmente já ouviu em Guitar Hero, mas o clipe é simplesmente sensacional demais pra ser deixado de fora. Zumbis, groove e mulé rebolando, véi! Foi “La Sexorcisto” que arrastou o White Zombie pra fora do underground e trouxe bastante popularidade pros caras. Pra começar, na turnê do álbum – que durou dois anos e meio – os caras conseguiram um verdadeiro culto de fãs alucinados. Além disso, os clipes da banda começaram a ganhar reviews em Beavis and Butthead. Pra ilustrar essa fase dos caras, nada melhor do que Black Sunshine:
O último álbum original dos caras, Astro Creep: 2000 – Songs of Love, Destruction and Other Synthetic Delusions of the Electric Head, foi bastante aguardado, graças ao sucesso do Sexorcisto. Em 1996 foi lançado o Super Sexy Swingin’ Sounds, que não passava de um remix do Astro Creep. Um ano antes do lançamento do álbum – que saiu em 1995 -, Rob e Sean haviam rompido o namoro, sem que isso tirasse a moça do baixo da banda. O álbum se aproximava mais do thrash metal, uma maravilha. Tanto o som quanto as letras da banda ficaram mais sombrios, falando ainda mais sobre assassinatos, mortos-vivos, blasfêmia, satanismo, sanguinolência e mais dessas coisas que o povo gosta. Completamente empolgante. E, claro, os clipes bizarros continuaram. Dá uma sacada em Electric Head pt 2 (The Ecstasy), por exemplo:
Empolgante pra carái. Mas como tudo o que é bom dura pouco, o White Zombie não passou de 1998. Rob continuou na música, claro, com uma carreira solo de bastante sucesso, sendo provavelmente o zumbi mais famoso do roquenrôu. Quanto ao White Zombie, o que nos resta é aproveitar os riffs completamente pirantes que os caras deixaram pra trás antes da banda morrer… cara, Black Sunshine é viciante pra cacete!
Terceiro dos cinco filmes da série de George A. Romero, Dia dos Mortos, lançado em 1985, é provavelmente o mais sangrento deles. Sendo o preferido do próprio diretor, que o define como seu “épico zumbi”, o filme parece se passar algum tempo depois de seu predecessor, Despertar dos Mortos (o Dawn of the Dead original). A infestação zumbi já não é mais o centro do filme – o mundo já foi infestado e a idéia de conter o avanço da “epidemia” zumbi simplesmente não faz mais nenhum sentido. O cenário é uma base militar em algum lugar na Flórida, onde algumas pessoas tentam ainda sobreviver no meio do caos que o mundo virou. Um grupo de militares, comandado pelo autoritário e abusivo Capitão Rhodes (interpretado por Joseph Pilato, que participou da versão estendida de Despertar dos Mortos), é encarregado de cuidar da segurança de uma equipe de cientistas que tentam arrumar uma solução para a catástrofe que atingiu o mundo. O desespero e a tensão crescem a cada dia, e as diferenças entre as três equipes – os militares, os cientistas e o terceiro “grupo”, formado por dois civis – tornam a vida na base complicada. Enquanto Rhodes quer um jeito rápido de eliminar os zumbis, mesmo sabendo que não há recursos para tal na base, cientistas como Dr. Logan, conhecido como Frankenstein pelos sobreviventes e Sarah, personagem principal do filme, tentam descobrir mais sobre os zumbis. Sarah quer descobrir o que causou o problema, enquanto o Dr. Frankenstein procura um meio de socializar os mortos-vivos, partindo da teoria de que eles ainda podem ser o que eram em vida. Os civis, formado pelo piloto de helicóptero John e seu amigo, William, acreditam que é perda de tempo fazer as tais pesquisas, e que o que eles devem fazer é aproveitar o pouco de vida que ainda resta pra se aproveitar.
A sanguinolência de verdade só acontece no fim do filme, e não durante toda a história, como nas outras obras de Romero, mas mesmo assim, Dia dos Mortos consegue ser o mais sangrento deles. O mago da maquiagem, Tom Savini, fez um trabalho genial com os zumbis, as tripas, o sangue e os desmembramentos. Cenas como o desmembramento do capitão Rhodes ou os experimentos do dr. Frankenstein – especialmente o corpo do antigo comandante dos militares e a cabeça zumbi – são o tipo de coisa que deixa um filme marcado pra sempre. O curioso é que o excesso de violência foi justamente um dos maiores motivos de briga na produção do filme. O orçamento inicial era de sete milhões de dólares, e o roteiro, claro, bem mais ambicioso, mas os produtores queriam que boa parte da MOEÇÃO fosse cortada, pra que a classificação da censura diminuísse e os adolescentes fossem ao cinema, aumentando a bilheteria e dando mais dinheiro. Mas tripas são tripas, e nenhum dinheiro compra a sangreira de Romero. Ou pelo menos não comprava, na época. O cara bateu o pé e disseram que diminuiriam o orçamento pra 3,5 milhões. Provavelmente foi o sangue mais caro da história dos filmes. Pode ter “custado” metade da verba, mas cada glóbulo vermelho e cada pedaço de tripa vale o sacrifício. Dia dos Mortos não seria a mesma coisa sem as tripas. E vocês sabem do que eu tô falando: Terra dos Mortos seria uma verdadeira obra de arte com algumas mutilações a mais.
Romero soube trabalhar muito bem com a crescente tensão entre os sobreviventes, também. O estresse de Rhodes, a loucura de Miguel Salazar e a crescente euforia dos soldados – especialmente Steel, braço direito de Rhodes – com a presença de Sarah como única mulher no complexo, bem como os constantes pesadelos da própria cientista, retratam bem o estado de desespero dos sobreviventes. Também é feita pela primeira vez uma análise mais amigável dos mortos-vivos. Eles estão ficando mais inteligentes, reaprendendo as coisas. O destaque do filme vai pra Bub – grandiosamente interpretado por Howard Sherman-, o zumbi mais carismático que já passou pelo cinema, e provavelmente um dos personagens mais agradáveis do filme, se não o mais. É impossível não simpatizar com esse ex-militar camarada, que é um marco na história dos zumbis. Bub é o primeiro zumbi a ganhar uma fala (“Olá, tia Alicia”) nos filmes de Romero, por exemplo. É também o primeiro zumbi a usar uma arma, e talvez seja o primeiro a ser retratado como mocinho, com direito a um “duelo final” com o bandido – Rhodes -, inclusive. Em Terra dos Mortos, a demonstração de inteligência se repete, tendo como “protagonista zumbi” o frentista que arma o ataque á cidade dos vivos.
O Dia dos Mortos foi o filme da série “dos mortos” que menos arrecadou nas bilheterias, provavelmente por causa da censura. Apesar de não ter vendido bem nos cinemas, os fãs de Romero geralmente consideram esse um de seus maiores filmes, dando geralmente mais destaque para A Noite dos Mortos-Vivos, por seu status de clássico, sendo o pioneiro dos filmes de “apocalipse zumbi”. Vale lembrar que o primeiro filme de zumbis é White Zombie, dos anos 40. A Noite dos Mortos-Vivos é o filme que iniciou a onda dos filmes com hordas de zumbis dominando a cidade, o estado ou o mundo. Um remake do filme foi lançado esse ano, sem passar pelas telonas. Não cheguei a botar as mãos nele, mas não duvido que tenham aboiolado o filme todo. O jeito é torcer pra que mantenham as tripas no lugar. Ou melhor, fora dele.
Se o que você quer ver são tripas, mutilações, desmembramentos e toda aquela nojeira que os filmes de FRANGO de hoje em dia não tem colhões de mostrar, O Dia dos Mortos é o filme. E eu, pessoalmente, concordo com a opinião do diretor: é o melhor de todos os cinco da série.
O Dia dos Mortos
Day of the Dead (102 minutos – Terror) Lançamento: 1985 Direção: George A. Romero Roteiro: George A. Romero Elenco: Lori Cardille, Joe Pilato, Terry Alexander, Gary Klar, Ralph Marerro, Howard Sherman, Richard Liberty.
Que George A. Romero é o grande nome dos filmes de zumbis, acho que todo mundo aqui já sabe. O que talvez poucos saibam é que em 2004, pouco antes de transformar sua trilogia em uma quadrilogia (com o filme Terra dos Mortos, de 2005), o cara resolveu se aventurar no mundo das HQs. Foi assim que nasceu Toe Tags, série em 6 capítulos lançada pela DC.
Seguindo os filmes do próprio Romero, a história provavelmente se desenrola durante os acontecimentos de Dia dos Mortos ou depois. O estado de apodrecimento dos zumbis e o próprio estado completamente devastado do mundo aponta pra isso. Apesar de ser ótimo pros fãs dos filmes de Romero, que ganham mais um pedaço da história, isso acaba sendo um dos pontos fracos da HQ. Um leitor casual sentiria a falta de informações, já que o apocalipse zumbi já tomou conta desde o início da história. A coisa faz um pouco mais de sentido se os acontecimentos da revista forem encaixados no mesmo universo dos filmes. Por exemplo, a inteligência crescente dos zumbis (alguns certamente pensam mais do que os montes de carne sem cérebro de A Noite dos Mortos-Vivos ou de Despertar dos Mortos) parece dar continuidade á idéia – iniciada em Dia dos Mortos com o carismático Bub e aprofundado em Terra dos Mortos com Big Daddy, o frentista – de que os zumbis também aprendem as coisas.
[Botem alguma imagem aqui, cães imundos]
Um ponto interessante de Toe Tags é que a história é mostrada pelo ponto de vista dos mortos-vivos pela primeira vez. De um lado, acompanhamos o protagonista Damien, que, após ser mordido, se tornou um zumbi consciente, e quer entender o motivo. A explicação parece estar nas mãos do Professor Hoffman (talvez uma referência a Os Contos de Hoffman, um dos filmes favoritos de Romero), que desenvolveu uma vacina que age nos zumbis. De outro, está Atila, the Hungry (eu PRECISAVA manter o original em inglês pra manter o trocadilho ridículo), um zumbi com capacidade de se comunicar, que lidera uma legião de mortos-vivos prontos para devorar tudo que estiver vivo pela frente. Como um terceiro ponto de vista, temos o exército, mostrado aqui como um grupo autoritário liderado por um homem ainda mais ditatorial, e, por fim, grupos de humanos sobreviventes, que se recusam a se unir ao exército, sabendo que vai terminar em merda. Toe Tags, como as outras obras de Romero, mostra a humanidade como a principal inimiga de si mesma, se destruindo em disputas pessoais enquanto os zumbis devoram a todos. A mesquinhez humana parece fazer com que os vivos fiquem cada vez mais estúpidos, contrastando ironicamente com a união dos mortos-vivos e a habilidade de aprender.
Talvez, para os críticos, o maior erro da HQ seja a falta de personagens que sejam realmente carismáticos. As pessoas geralmente esperam encontrar nas histórias personagens que atraiam o leitor a ponto deste desejar sua sobrevivência. A grande impressão que se tem ao ler a história é que Romero está completamente do lado dos mortos-vivos. O que pra mim não tem problema nenhum, claro, mas é o alvo da crítica de muitos leitores. De qualquer jeito, mesmo não sendo o melhor trabalho do diretor, nem sendo a melhor HQ existente sobre zumbis (eu sugeriria The Walking Dead), acho que vale á pena dar uma olhada em Toe Tags.
Toe Tags
Toe Tags featuring George A. Romero Lançamento: 2004 Arte: Tommy Castillo Roteiro: George Romero Número de Páginas: 22 Editora:DC Comics
O nome já diz tudo. Rage Against the Machine é pura fúria. O melhor do punk, do funk, do heavy metal e do hip hop misturados, como um molotov na cara da política. O vocal raivoso de Zack de la Rocha junto aos efeitos sensacionais da guitarra de Tom Morello, o baixo marcante de Tim Commerford e a bateria furiosa de Brad Wilk funcionam muito bem com as letras revolucionárias e políticas da banda. É a prova irrefutável de que a revolução raivosa pode ser bem mais do que aqueles “odeie o sistema” vazios que se ouve em tudo o que é buraco por aí. É a fúria sonora mirando no coração da política do controle de massas. Uma bota na cara dos porcos no poder. E um som do caralho! Come wit it now, motherfuckers!
Bulls on Parade, do segundo disco dos caras, Evil Empire
Vou lhes contar como tudo começou. Em meados de 1991, lá estava Morello, pouco depois de sair de sua banda, Lock Up, ouvindo um chicano louco pirar tudo no rap freestyle. Depois de dar uma olhada nas letras do cara, Morello pensou “maluco! é ISSO que eu tava procurando!”, e chamou o cidadão pra formar uma banda. Esse era Zack de la Rocha, que havia começado com o freestyle depois que sua antiga banda de hardcore punk, Inside Out, terminou.
Zack passou por uma vida complicada, se irritando primeiro com seu pai, Roberto, um fanático religioso que sofreu um colapso nervoso, levando seu fanatismo ao extremo. O cara resolveu que devia destruir toda a arte que tinha feito, e quando o filho o visitava, o fazia ficar de jejum, sentado, com portas e janelas fechadas pelo fim de semana todo, destruindo quadros. Piração total pra cabeça de qualquer um, mas se mudar com sua mãe para Irvine não ajudou em muito. Lá, no meio de um monte de brancos racistas, Zack sentiu na pele o preconceito. E foi cantando que o cara conseguiu expulsar toda a sua raiva. E, convenhamos, o cara sabe encaminhar sua raiva melhor do que muitos dos furiosos mais ilustres que já se viu, como G.G. Allin, por exemplo.
Pra completar a coisa toda, Zack convenceu Tim Commerford, seu amigo de infância, a tocar baixo, enquanto Morello trouxe Brad Wilk, que tinha tentado ser baterista da Lock Up, sem sucesso. A combinação dos caras deu tão bem que a banda só teve uma formação. E eles conseguiram chamar a atenção das gravadoras bem rápido. Foi com a Epic Records que os caras assinaram contrato, e, pra felicidade de muita gente hoje em dia, os caras da gravadora não podaram em absolutamente nada a banda. Com liberdade total pra chutar o balde, os caras mandaram ver e fizeram esse som do caralho que todo mundo conhece hoje. E desde o começo os caras já caíram matando com as letras revolucionárias, como você confere no clássico Killing in the Name, do primeiro álbum dos malucos:
No segundo disco, Evil Empire, a Fúria aumentou ainda mais, bem como as peculiaridades do som do Rage. Morello mudou completamente seu estilo na guitarra, passando dos tappings e palhetadas rápidas pros efeitos completamente bizarrões conhecidos no RatM. Scratches lembrando o trabalho de DJs e sons mais do que completamente distorcidos sempre marcaram os solos do RatM, e fizeram de tom Morello um guitarrista realmente único. O som dos caras continuou assim, empolgante e misturado pra cacete, no terceiro álbum da banda, The Battle of Los Angeles.
“Me queimo mesmo, maluco! Tô puto!”
A polêmica, sempre presente em toda a história da banda, certamente continuou. Por exemplo, a apresentação de duas músicas da banda no Saturday Night Live, em abril de 1996, foi reduzida a uma, graças á “homenagem” ao candidato Republicano á presidência, Steve Forbes, que foi o anfitrião do show naquela noite: Bandeiras americanas penduradas de cabeça pra baixo nos amplificadores do Rage. Em 97, a banda abriu os shows da turnê do U2, e todo o lucro dos caras foi mandado pra organizações como a Women Alive e o EZLN. Várias vezes a polícia quis, sem sucesso, cancelar os shows da turnê do RatM com o Wu-Tang Clan. Rally ‘round the family, pocket full of shells. Mas eu creio que seja bom dar um destaque á gravação do clipe de Sleep Now in the Fire, dirigida por Michael Moore e feita na frente da Bolsa de Valores de Nova York, que fez com que as portas da Bolsa fossem fechadas no meio da tarde. Moore sofreu uma ameaça de prisão e o RatM foi retirado do local por seguranças. Agora, presta atenção nos funcionários da bolsa pirando no som dos caras:
A banda se separou em 2000, pouco antes do lançamento de Renegades, um álbum de covers da banda, com músicas de gente como Bob Dylan, Minor Threat, Rolling Stones e Cypress Hill. A separação aconteceu porque o RatM não vinha conseguindo trabalhar em grupo, segundo Zack. Em suas próprias palavras: “Sinto que é necessário abandonar os Rage pois não estamos a conseguir tomar decisões em conjunto. “Já não funcionamos como um grupo e eu acredito que esta situação está a destruir os nossos ideais políticos e artísticos. Estou muito orgulhoso do nosso trabalho, quer como activistas quer como músicos, e também grato a cada pessoa que expressou solidariedade e partilhou esta incrível experiência conosco”. E assim os caras se separaram, sem ressentimentos, nem brigas espalhafatosas. Os covers dos caras realmente ficaram empolgantes. Claro que você vai conferir não só um, mas DOIS exemplos logo abaixo:
Renegades of Funk, de Afrika Bambaataa & the Soulsonic Force
How I Could Just Kill a Man, do Cypress Hill.
Você provavelmente já sabe que todos da banda, exceto Zack, formaram o Audioslave, com Chris Cornell, saído do Soundgarden, no vocal. A banda ficou boa, até. Cochise é muito bacana, mas Rage é Rage. Do outro lado, Zack passou a trabalhar em projetos solo por algum tempo, mas eu realmente não saberia falar muito sobre isso pra vocês.
No fim das contas, você pensa “puxa vida, esse pirata imundo só me recomenda coisa que eu já não posso mais ver”. Terrível engano, caro leitor. A banda se reuniu em 2007, no festival Coachella, pouco antes de Cornell largar o Audioslave. Claro que os fãs já começaram a ficar espertos, aguardando uma possível volta do RatM. Segundo os músicos da banda, a reunião aconteceu porque o som do Rage aparentemente foi feito para o momento. Os caras ficaram muito putos com o governo de George W. Bush, aparentemente. E com a Fúria de volta, talvez não seja esperar demais que os caras resolvam voltar de vez a tocar.
Ah, claro!Dizem os boatos que o RatM vai fazer turnê pela américa do sul ainda esse ano, e, possivelmente, virá para o Brasil. O que seria muito do caralho, eu devo dizer.
Por fim, acho qu o melhor modo de me despedir dessa vez é com mais um vídeo. Dessa vez, vocês ficam com o clipe genial de Testify, também dirigido por Michael Moore. A sacada dos caras foi simplesmente do caralho! Now testify!
Agora, o que realmente me deixa puto é saber que vocês deixam uma maravilha dessa passar batida e ainda tentam me dizer que veados como esse é que são parte do “cenário alternativo hardcore de protesto do roquenrôu”. Tá bom. Vocês são punks, e eu sou o Barba Negra. Frangos.
Quando a bateria de Alex começa a tocar, você espera, atencioso. O ritmo é bacana, envolvente. Sem perceber, você já começou a batucar na mesa, na parede, no seu crânio ou onde quer que seja. E, claro, a expectativa é grande. Dá pra sentir o que vem por aí. Você ouve os pratos, como uma serpente te avisando do bote. É então que, num golpe direto e fulminante, a coisa toda acontece. A guitarra de Eddie já entra matando. É impossível não se empolgar com o começo do maldito tapping. Simplesmente impossível. Ah, você ainda duvida? Pois bem, é DISSO que eu tô falando:
I got it bad, got it bad, got it baaaaad!
Van Halen, corja de ratos imundos! Isso sim é rock’n’roll! Não preciso nem dizer que a introdução abre espaço pro riff sincopado e completamente assassino de entrada. Nem que esse abre espaço pro maldito do riff principal da música, que começa calminho pra depois cair matando, e… bom, isso é só Hot for Teacher. Claro que já devia ser o bastante pra você entender o que eu quero dizer, mas vocês todos sabem que eu sou um bom capitão e não vou deixar vocês só com essa pequena degustação do som dos caras. Se preparem pra PIRAR, marujos.
Os irmãos Alex e Eddie Van Halen começaram cedo na música. Seu pai tocava clarinete, e os dois irmãos entraram pro mundo da música ainda crianças, tocando piano. Mas, como já disse o próprio Eddie, “Quem quer se sentar na frente dum piano? É chato!”. Foi então que Alexander Van Halen pegou a guitarra e Edward, a bateria. Te soa estranho? É, pros caras também soou. Principalmente pro Eddie, quando ele percebeu que seu irmão era melhor na bateria do que ele próprio. Trocaram os papéis, então. E deu certo. Aliás, deu certo pra caralho!
Em 1971, os caras montaram a primeira banda deles: Trojan Rubber Company. Pouco depois, em 1972, eles viraram Mammoth, com Eddie como guitarrista/vocalista, Alex como baterista e, no baixo, Mark Stone. Em 1974, um tal David Lee Roth, que já tinha feito um teste pra entrar na banda, mas sem sucesso, alugou seu sistema de som pros caras. Ao invés de pagar, eles aceitaram que o cidadão entrasse na banda como vocalista. Mark Stone foi depois substituído por Mark Anthony, que não só virou baixista, mas também fazia os backing vocals. Maravilha, agora era só pegar os instrumentos e gravar, certo? Não. Faltava ainda acertar um último detalhe. O nome “Mammoth” já era usado por outra banda. David então convenceu o grupo a trocar o nome pra Van Halen. Agora sim, tudo certo.
Depois de tocar por vários cantos de Hollywood, sempre deixando fliers em colégios pra aumentar o próprio público, os caras conseguiram gravar sua primeira fita demo, financiados por ninguém menos que Gene Simmons (do Kiss, bichonas). Mas foram os caras da Warner Bros. Records que piraram tanto com os caras que ofereceram pra eles o contrato pra gravar em uma semana. O álbum, Van Halen, foi sucesso absoluto, atingindo o décimo segundo lugar na Billboard. Pois é, isso no álbum de ESTRÉIA dos malucos. Também, com músicas como Ain’t Talkin’ ‘Bout Love e o cover de You Really Got Me (dos Kinks), não se podia esperar menos. Ah, claro, e o grande clássico, Eruption. Na minha humilde opinião de pirata, I’m The One é a melhor música do CD. Pra vocês terem uma idéia, tá aí um vídeo de You Really Got Me tocado pelo VH. Se vocês quiserem, ces podem comparar com a versão original:
Yeah, you really got me now! You got me so I can’t sleep at night!
Claro, isso foi só o começo. Van Halen atingiu proporções absurdas. Os caras eram o rock’n’roll puro. O hard rock. Eram a encarnação do espírito rebelde da juventude, e isso garantiu a eles uma popularidade imensa entre os adolescentes. Não demorou muito pra que a banda virasse uma das bandas de maior influência e sucesso no mundo inteiro. E, como muita gente já sabe, começaram também os desentendimentos. Eddie Van Halen e David Lee Roth discordavam quanto ao som do Van Halen. Eddie queria um som mais complexo, enquanto David preferia manter uma linha mais popular. E a tensão entre os dois foi aumentando, a ponto de incomodar também os outros membros da banda. David reclamava por Eddie tocar fora do Van Halen, Eddie reclamava do exibicionismo de David. E foi pouco mais de um ano depois do lançamento álbum 1984, de 1984, que a coisa explodiu de vez. Em primeiro de abril de 1985, David Lee Roth deixou o Van Halen. Não poderiam escolher data melhor, aliás, pra deixar os fãs agoniados esperando por um “Rááá, pegadinha do Malandro!”. Não era mentira, pra infelicidade de muita gente, mas pelo menos os caras deixaram um bocado de sons do cacete antes de se separarem. Hot for Teacher vocês já viram lá em cima, então aproveitem Panama, também do 1984.
Sammy Hagar entrou pro grupo no lugar de David como vocalista principal e guitarra base, e o som mudou consideravelmente. Por um lado, o Van Halen cresceu ainda mais, atingindo pela primeira vez o primeiro lugar na Billboard (Por álbum. Por música eles fizeram isso pela primeira e única vez com Jump, do 1984) com o disco 5150 – nome do estúdio de gravação de Eddie -, posição atingida por todos os quatro álbuns da “era Hagar”. O público do Van Halen cresceu, mas isso não impediu que os fãs mais “xiitas” da banda se enfurecessem. Ninguém contou direito a história sobre como e por que David Lee Roth saiu da banda, mas isso simplesmente não importava. Pra esses caras, era como se tivessem arrancado o pâncreas de uma pessoa e dissessem “tudo bem, ninguém precisa de um desses, a gente pode botar um rim reserva no lugar”. O povo queria sangue. Sangue! Não queriam esse “Van Hagar” com músicas de mais de cinco minutos de duração. Queriam o Van Halen de David Lee Roth. O Van Halen de Eruption! O Van Halen de Mean Street!
ESSE Van Halen.
Eddie dizia que estava mais feliz com Sammy no grupo, e que Roth não voltaria ao Van Halen. Tudo ia bem, e nada ia atrapalhar a nova formação do grupo, que ainda duraria vários anos antes que os problemas começassem a realmente aparecer. Foi só em 1996 que o cu da égua pegou fogo de novo. Durante as gravações para o filme Twister, houve o choque entre os irmãos Van Halen e Sammy Hagar, que não gostava muito da idéia de fazer trilhas sonoras para filmes porque o acesso a elas por parte dos fãs ficaria mais difícil. Hagar também brigou com Ray Daniels, empresário da banda, pois também não gostava da idéia de lançar uma coletânea. No fim das contas, a coisa foi, mais uma vez, enrolada. Hagar disse que foi demitido, os Van Halen disseram que ele se demitiu, e os fãs, claro, ficaram na expectativa, querendo saber quem ocuparia o buraco deixado na banda. Terminando a “era Hagen”, nada mais justo do que um vídeo dela. Why Can’t This be Love pra vocês. ó lá:
Depois disso, a banda passou por uma porrada de mudanças em pouco tempo. Em 1996,Mitch Malloy pegou a vaga de vocalista, mas logo acabou cedendo a mesma pra ninguém menos que… David Lee Roth, que disse ao público que tinha voltado pra banda. Pois bem, eles tocaram um show, e mais nada. Roth alegou que tinha sido tudo uma jogada de marketing dos irmãos Van Halen e de Ray Daniels. Os Van Halen disseram que só chamaram o cara pro show e nunca tinham falado pra ele que ele seria o próximo vocalista. Mais briga, mais uma separação. Gary Cherone foi o próximo nome, ainda em 96, e esse durou até 1999. Foi lançado um álbum, o Van Halen III, e outro começou a ser gravado, mas Cherone saiu da banda antes do fim do projeto. Pelo menos dessa vez não teve briga nenhuma.
A banda então ficou parada por um bom tempo. Eles ainda fizeram uma turnê com Hagar em 2004. Apesar da turnê ter saído e funcionado, a coisa não durou muito tempo. Hagar voltou para a sua banda assim que a turnê terminou, alegando estar cheio de Van Halen.
Aparentemente, era o fim da linha pros caras. Mas em 2006, o que parecia possível apenas para os fãs mais devotados da banda aconteceu: David Lee Roth mais uma vez se juntou aos Van Halen. Só que dessa vez, quem não voltou foi Mark Anthony, que foi substituído por Wolfgang Van Halen, filho de Eddie, que agora tem 16 anos. Dezesseis anos, e tá tocando com o Van Halen. Enquanto eu tô aqui nesse buraco escrevendo pra vocês. Ahrr!
Hã… como eu dizia, Wolfgang assumiu o baixo e, em 2007, a banda fez mais uma turnê. Há rumores sobre um álbum novo saindo esse ano, mas, até onde eu sei, nada confirmado ainda. E acho que eu já enrolei vocês o bastante, já que eu sei que vocês só vieram aqui atrás de Eruption. Que, aliás, tá longe de ser a minha preferida deles. Bom, pra evitar que vocês me desmembrem e me arranquem os órgãos, Eruption tá aí em baixo pra vocês. Divirtam-se.
Provavelmente a obra-prima de Grant Morrison, Os Invisíveis age como uma pedrada na nuca, estilhaçando sua cabeça como uma vidraça velha. Infestada de contra-cultura e rebeldia por todos os lados, a HQ ataca a falta de vida da sociedade morna dos dias de hoje. Agora, oito anos após o fim de sua publicação, a idéia parece fazer ainda mais sentido do que quando essa maravilha foi lançada.
Pois bem, vamos á sinopse. Começamos conhecendo a vida de Dane McGowan (isso simplesmente não pode ser coincidência), um hooligan de liverpool com o espírito cheio da genuína rebeldia adolescente. Após incendiar sua escola e espancar seu professor, o garoto é levado para a Casa da Harmonia, uma instituição de correção de menores, preocupada em transformar garotos rebeldes em verdadeiros zumbis sociais que aceitam a ordem sem graça do mundo. A coisa toda soa como uma bela referência á Laranja Mecânica de Anthony Burgess, aliás. Especialmente a sala da “realidade virtual”.
É King Mob quem salva Dane da cruel transformação em “zumbi”. E é aí que a HQ começa a mostrar suas garras, e vemos que a coisa toda é muito maior que uma simples ode á rebeldia. É uma ode do caralho á rebeldia, ao Caos e á sensação de se estar realmente vivo. Aos poucos, somos libertos das amarras do mundo cinza, junto com o próprio Dane, que descobre um mundo completamente novo, acima desse mundo de prédios e fumaça e cidades. Um mundo de simbolismos e mitologias. De Loucura e de magia. E, mesmo assim, um mundo Verdadeiro. Idéias sobre a realidade, sonhos, metafísica e aquele bla bla bla todo são lançadas através da revista como tiros tentando destruir a casca que criamos e deixar o nosso “self” escapar. Ou qualquer porcaria assim.
Provavelmente a coisa toda vai te soar quase como Matrix lá pelo terceiro ou quarto volume, com todo aquele negócio do Tom sobre abrir os olhos e ver o mundo e pular de prédios. Bom, surpresa, você acaba de encontrar uma das grandes “inspirações” pros irmãos Wachowski. A idéia tá toda lá. Pelo menos a idéia interessante, a do primeiro filme, antes da coisa virar só aquela porcaria de robôs atirando em robôs. E… bom, deixa Matrix pra lá.
Ce tá de olho na loiraça carioca ali do meio, né? Bichona!
O centro das atenções é uma célula da Universidade Invisível formada por Dane McGowan (que ganha o apelido de Jack Frost ao ingressar na bagaça); King Mob, o líder careca, sarcástico e bon-vivant da equipe; Lord Fanny, um xamã transsexual carioca; Menino, uma ex-policial do departamento de polícia de Nova York e Ragged Robin, uma feiticeira. Se você esperava os X-Men, talvez se desaponte.
Definir os Invisíveis seria um bocado complicado. Eles estão por aí, invisíveis para todos aqueles que não querem ver, participando de uma longa e secreta guerra contra a opressão, não só física quanto mental. Você vai ver cabeças proféticas decepadas, a vida através dos olhos de pombos, conversas entre deuses mortos e deuses inventados, granadas, perversão sexual e a mais pura violência. Acho que o próprio Morrison ficou realmente puto quando começaram a censurar alguns pedaços da HQ. E, claro, do outro lado estão… não, melhor deixar você descobrir sozinho.
Só lendo essa pérola das HQs você pode ter uma noção da grandiosidade da coisa toda. Infelizmente, nosso editor-chefe e resmungão oficial nos proíbe de passar links ilegais por aqui. Assim sendo, eu espero que vocês acabem encontrando o caminho. Vocês saberão que seguem a trilha certa se passarem por um bocado de Vertigem. Sobre a HQ, acho que a única coisa que eu posso realmente dizer é bota pra foder!
Título da HQ
Título original: The Invisibles Lançamento: 1994 Arte: Vários, um para cada arco da HQ Roteiro: Grant Morrison Número de Páginas: 24 Editora:Vertigo