Imagine um garoto.
Filho de um importante matemático do exército, tendo, portanto, que viajar por diversos países com sua família, onde seu pai serviria em diversos consulados e embaixadas.
Uma das fantasias masturbatórias deste garoto era, influenciado pelo seriado americano A Feiticeira, o poder mágico de congelar as pessoas dentro dos ginásios de Exercícios do Exército, onde as únicas pessoas que pudessem se mexer fossem ele mesmo e sua parceira escolhida (conquistada magicamente). Eles então faziam sexo loucamente, enquanto todos, incluindo sua mãe e irmão menor, permaneciam paralisados, ainda presos nas posições dos exercícios. continue lendo »
Minha defesa á Ficção Científica já deve estar cansativa, repetitiva até.
Como já disse: nada de espaçonaves ou heróis intergalácticos. Eu falo de gente comum. Como eu. Como você. Somente aí a ficção científica pode funcionar. Somente aí, como alguns diriam, o romance deixa de ser uma previsão desconfigurada do futuro, e torna-se um aditivo á própria realidade. Ao presente. Um presente exagerado, onde nossos defeitos, nossos problemas, e principalmente nossas neuroses tornam-se evidentes.
O real é surreal demais.
O Homem do Castelo Alto é assim. Um soco no seu estômago. Um tapa na sua cara.
O livro, escrito no começo dos anos 60, foge do padrão de Philip K. Dick. Ao contrário da maioria de seus contos e romances, a história passa-se também na década de 60. No presente. Mas em outra realidade.
O Eixo ganhou a Segunda Guerra. O mundo agora é dividido pela influência da Alemanha e do Japão, os novos senhores do planeta. Os próprios Estados Unidos não existem mais como país unificado, tornaram-se três estados separados: ao Oeste a região controlada pelos japoneses; ao Centro (chamado de Rocky Mountain States) uma área indepedente; e ao Leste, em nossa querida Nova York, uma região governada pelos nazistas.
Ah sim, os nazistas. Não se trata de simples fascismo, esse nazismo. Politicamente muito próximo, você aprende a considerar com um simples regime de direita. Mas não é esse o ponto em nosso livrinho. O ponto é a Megalomania, a Loucura da Raça Ariana. Os judeus estão praticamente extintos, os poucos sobreviventes escondem-se com sobrenomes falsos e operações plásticas. A Ífrica foi dizimada, fim dos negros. Os restantes são Escravos nas regiões controladas pelo Terceiro Reich. Já há tecnologia suficiente para ir a Marte, para se viajar de Berlim a São Francisco em Meia Hora. No entanto….não existe televisão. O mundo evoluiu de forma diferente, a Alemanha controla o lobby mundial de plástico e todos os seus derivados. Uma tecnologia megalomaníaca de plástico.
Nos é dado apenas um relance, um pequeno piscar de olhos, dessa nova realidade maluca. Através das pequenas histórias de diversos personagens comuns, entendemos aos poucos o Terror do dia-a-dia num mundo em que o Nazismo é a Regra.
Um judeu designer; o dono de uma loja de antigüidades americanas (linda ironia, os japoneses colecionam antigüidades da cultura americana exatamente da mesma forma como nos sentimos atraídos por espadas samurais em nosso mundo); um importante executivo japonês, chefe de departamento do governo nipônico; um suspeito mercador de borracha da Suécia; uma professora de judô. Todas essas histórias se entrelaçam, conectam-se de forma a criar uma rede de acontecimentos.
E, claro, o ponto alto do romance, a maestria de Philiph K. Dick: The Grasshopper Lies Heavy.
O romance dentro do romance. Um obscuro escritor de ficção científica lança um história, banida nas áreas de influência nazista, sobre uma realidade alternativa, em que os Aliados teriam vencido a Guerra…
Considerado um dos melhores romances de K. Dick, O Homem do Castelo Alto nos oferece uma obscura visão da realidade enquanto torna evidente a catástrofe, única possibilidade de resultado com uma união tão estranha: Uma cultura oriental milenar, influenciada constantemente pelo Taoísmo, Budismo e Xintoísmo…dividindo o mundo de forma “amigável” com o Terceiro Reich, a cultura da Supremacia Branca, a Megalomania, a Pura Maldade SS.
Isso Faz Sentido?
Homem do Castelo Alto, O
Título original: Man In The High Castle, The Ano de Edição: 2007 Autor: Dick, Philip K. Número de Páginas: 304 Editora:Editora Aleph
Pois é, meus caros, essa é quentíssima.
A obra de Jorge Amado, que vinha até então sendo publicada pela Editora Record, está sendo relançada (neste exato momento, aliás) pela Companhia das Letras.
Os livros terão direito a todo um novo projeto gráfico e posfácios escritos por críticos e escritores da atualidade. Fazendo parte do time, conta-se com a ajuda de Milton Hatoum, escritor brasileiro do momento e também publicado pela Companhia das Letras.
O autor “posfaciou” nada mais nada menos que uma das obras mais famosas de Amado: Capitães da Areia.
As novas edições estão sendo Agora (sim, Agora) mesmo distribuídas e enviadas ao mercado das Livrarias. Além disso, para comemorar a aquisição dos direitos, a Cia das Letras realizou hoje uma aula-apresentação ao lançamento, tendo como tema a pequena novela A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua, do autor em questão. Quem administrou a aula? Novamente nosso caro amazonense Hatoum.
Regado a café, chocolate quente, sucos de abacaxi e acerola, sanduíches de metro e docinhos em geral, o encontro ainda apresentou aos convidados representantes do mercado varejista paulista parte dos novos projetos da editora, além de os presentear com um exemplar de órfãos do Eldorado, novo livro de Milton Hatoum, lançado dia 03 de março. É…esses malditos vendedores de livros foram mimados hoje.
Apesar de uma reedição não significar muita coisa, ao menos estão dando mais atenção a um autor tão rico quanto Jorge Amado. Um autor que, infelizmente, acabou sendo Desprezado pelo cânone crítico do eixo USP, sendo reduzido á injusta posição de escritor menor.
Este texto faz parte de uma lista que, definitivamente, não é um top 10. Veja o índice aqui.
Eu menti para vocês.
Menti quando disse que seriam sete livros. Essa obra maravilhosa, meus amigos, é uma revista em quadrinhos. Isso mesmo, eu vou falar de uma “Graphic Novel” no Primeiro Lugar dessa lista. E, podem apostar, esse negócio Merece.
Já falei aqui anteriormente sobre o que penso de quadrinhos e como os considero Literatura também. Não só isso, trata-se de uma nova possibilidade de literatura, já que trabalha as imagens em conjunto com a Palavra. Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro não é diferente. É uma incrível demonstração do poder artístico dos Quadrinhos e, podem acreditar, é a obra perfeita para nosso Primeiro Lugar.
Clay é um fracassado. Desde que sua última namorada o deixou sem nenhuma explicação, ele fica se arrastando por aí como um depressivo babaca. Resolve até ir num daqueles Cinemas de Filme Pornô (se você mora em São Paulo e já passou pelo centro, sabe exatamente que tipo de cinema é). Entre os vários curtas nojentos e mal-feitos que são exibidos, um deles chama sua atenção: “Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro”. Não há sexo, não há nudez. Há somente uma mulher com roupa e máscara de couro, espancando um homem, e dois outros velhos Bizarros. No fim do curta a cabeça dos velhos surge decepada em cima de um tapete e a mulher tira a máscara de couro. Para surpresa de Clay, é sua ex-namorada.
A partir daí você pode esquecer a realidade. Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro é quase um totem de Adoração ao Caos e ao Non Sense. Daniel Clowes mistura Lendas Urbanas americanas, partes da filosofia do serial killer Charles Manson e mais uma porrada de Imagens Chocantes vindas de sua Mente Doentia. Enquanto Clay viaja para a cidadezinha de Gooseneck Hollow (após ter se consultado com um guru que atende dentro do banheiro do cinema pornô e pedido o carro emprestado ao seu amigo, que agora possui lagostas no lugar dos olhos), em busca de pistas sobre a produtora do filme e o paradeiro de sua ex-namorada, ele passará por: Cães sem Orifícios; Putas com Três Olhos; Teorias da Conspiração envolvendo carismáticos bonequinhos de chapéu e narigão; Policiais Corruptos que espancam seus prisioneiros e lhes tatuam, com um canivete, a silhueta do mesmo bonequinho estranho; Seitas Terroristas de religiosos fanáticos; Deficientes Físicos no formato de Batatas Gigantes; e, pode acreditar, coisas bem piores…
Escrito e desenhado pelo promissor Daniel Clowes em 2000, Como uma Luva… impressiona em todos os aspectos. Cada frase, cada diálogo, cada quadro, tudo é feito de modo a esconder uma referência, um ironia ou uma brincadeira nas entrelinhas. Daniel Clowes, através de um verdadeiro Pesadelo em Quadrinhos, traduz todo o vazio existencial do final do século XX, começo do século XXI.
Caótico, Brilhante, Doentio, Surreal e Amedrontador, foi trazido ao Brasil pela Conrad em 2002 e ainda pode ser encontrado nas melhores livrarias.
Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro
Título original Like a Velvet Glove Cast in Iron Ano de Edição: 2002 Arte: Daniel Clowes Roteiro: Daniel Clowes Número de Páginas: 144 Editora:Conrad
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Eu já cheguei a comentar algo sobre essa grande maravilha aqui, mas Crash ainda não ganhou Sua devida atenção.
Lembram-se daquela matéria sobre Ficção Científica Cyberpunk? Apologia a drogas e tecnologias doentias? Pois bem, nosso amigo Ballard é um dos grandes escritores dessa galera.
Não só isso, é considerado por muitos como o Maior Escritor Vivo da Inglaterra. Seu último livro por exemplo, Terroristas do Milênio, conta sobre uma bizarra e violenta Revolução da Classe Média Inglesa. Extremamente irônico e, ao mesmo tempo, faz todo o sentido.
Mas enfim: Crash! Um romance de perversões sexuais e violência acima do Limite de Velocidade. A história de James Ballard (personagem homônimo ao autor do livro), narrando seu envolvimento com um estranho grupo de aficcionados sexuais a Acidentes de Carros.
Sim, Acidentes de Carros & Sexo na mesma frase.
A impressão do relevo dos controles na pele; o símbolo da fabricante no centro do peito; a conjunção dos ângulos retorcidos das colunas do pára-brisa, refletidos pela ainda acesa luz do painel, com a posição dos cortes e contusões…Prazer Indescritível.
Hmmm….tesão!
Girando em torno de Vaughan, ex-cientista do trânsito e profeta do Caos Tecnológico, Crash Com Certeza não é de leitura fácil. A idéia da Violência amoral, o pan-sexualismo entre os personagens e a criação de novas Possibilidades Eróticas é, na maioria das vezes, Chocante e Revoltante. Isso se você tiver pulado nossa maravilhosa lista, é claro.
Se você chegou até aqui seguindo a ordem direitinho, já vai estar preparado…
A descrição das cenas é incrível. A mistura dos fluídos corporais do sexo com os reflexos das latarias; os detalhes das posições das putas no banco traseiro dos carros, de modo a imitar a forma como os corpos foram encontrados no último acidente observado por Vaughan e Ballard; a fixação de nosso narrador pelas cicatrizes, coletes ortopédicos e “novas superfícies sexuais” de Gabrielle, a deficiente física que utiliza seus aparelhos como Perversões Eróticas; tudo isso de forma a, quase subliminarmente, tecer um quadro Psicopatológico de Nossa Era da Velocidade.
“”After having … been constantly bombarded by road-safety propaganda, it was almost a relief to find myself in a real accident.”
Escrito em 1973 (publicado novamente em 2007 no Brasil), ganhando inclusive uma adaptação em filme, em 1996, pelo incrível Cronenberg, Crash choca. E não apenas o choque pelo choque, simples descarga elétrica no cérebro. Ele choca pela quebra de padrões, pela abertura de possibilidades, pela Perversidade e, principalmente, porque por diversas vezes você acaba pensando “Ok, isso é simplesmente Louco…mas…Faz Sentido. Realmente Soa Erótico!” Quero dizer, já pararam pra pensar em como realmente uma batida de frente, dois desconhecidos que nunca haviam se visto antes entrando repentinamente e violentamente em comunhão entre eles e entre seus carros…parece um ato sexual?
Crash
Título original Crash Ano de Edição: 2007 Autor: Ballard, J.G. Número de Páginas: 240 Editora:Companhia das Letras
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O Grande Crescente de Loucura aproxima-se do seu pico máximo. E nada melhor para comemorar do que Literatura Metalinguística.
Você sabe, romances, contos, crônicas ou poemas que referem diretamente ao universo de romances, contos, crônicas ou poemas.
E obviamente que eu não deixaria vocês somente com metalinguagem barata. Não.
Estou falando de uma metalinguagem que vai além. Que desafia a própria realidade da Literatura e, por que não?, do Mundo.
Joca Reiners Terron é nascido no Mato Grosso e, nas horas vagas de seus inúmeros empregos como editor e designer, escreve. Dentro de suas obras estão o bizarro Hotel Hell, que cria um hotel alucinativo povoado das mais estranhas criaturas; o sombrio Sonho interrompido por Guilhotina, que retrabalha os temas da Literatura e da própria Palavra em si; e Curva de Rio Sujo, uma coletânea de contos que mistura invencionices Fantasiosas com relatos reais de sua infância; além de inúmeros contos, como o incrível Estação de Caça aos Helicópteros. E claro. Não Há Nada Lá.
Não Há Nada Lá passa-se em diferentes épocas, cada capítulo centrado em um dos diferentes personagens, todos escritores. O romance gira em torno de uma série de encontros entre esses autores e outras personalidades famosas, todos possíveis mas nunca realizados.
O que aconteceria, por exemplo, se Rimbaud tivesse conseguido sair vivo da Ífrica e fugido para a América? Talvez encontrado Billy The Kid e fumado haxixe. E se Fernando Pessoa tivesse conseguido seu encontro com Aleister Crowley em Portugal? Talvez a noite acabasse em uma orgia satânica dentro de um quarto de hotel, envolvendo homens com seis mamilos. E Roussel, o surrealista francês, entupido de barbitúricos. O Papa Pio XI realmente mandou uma carta querendo conhecê-lo. Poderia terminar em sexo dentro de uma banheira, a silhueta do Papa estranhamente feminina e barriguda. A calcinha rosa deixada para trás com uma marca de sangue em formato de Livro Aberto. Ducasse roubou As Flores do Mal dentro de um trem durante suas viagens. Seria Baudelaire aquela silhueta hostil na estação? Torquato Neto, poeta e ator brasileiro, chegou a conhecer pessoalmente Jimmy Hendrix em suas viagens pela Inglaterra. Seria o guitarrista um profeta do fim do Mundo?
Tudo isso enquanto William Burroughs, já perto de sua morte, enxerga um gigantesco hipercubo de luz rodando vertiginosamente no céu do deserto, com um gigantesco Livro de Sete Selos aberto em seu interior. E aí fica a pergunta: ”por que Nossa Senhora de Fátima escolheu, em primeiríssimo lugar, mostrar o Inferno para aquelas crianças na sua primeira aparição em Portugal, no ano de 1917?”
Não Há Nada Lá gira em torno da máxima “a Palavra Cria o Mundo”, trabalhando os Sete escritores/personagens principais como os Sete Cavaleiros do Apocalipse. A abertura dos Sete Selos do Livro representa o fim dos livros no mundo.
E não é como se a idéia fosse nova: isso já foi e ainda é tema das principais raízes religiosas de todo o mundo. Apresento-lhes João 14:14 – “No Princípio havio o Verbo. E o Verbo estava com Deus. E o Verbo era Deus.”
Não Há Nada Lá foi lançado em 2001 pela Ciência do Acidente e infelizmente já se encontra com publicação esgotada. Mas você ainda pode peneirar por aí em Sebos ou ter a sorte de encontrar essa maravilha nas bibliotecas de sua cidade e/ou faculdade.
Como presente, um link autorizado com alguns de seus contos:
http://www.germinaliteratura.com.br/jrterron.htm
Não Há Nada Lá
Ano de Edição: 2001 Autor: Terron, Joca Reiners Número de Páginas: 168 Editora:Ciência do Acidente
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Pois bem, e eu lhes apresento outro simpático velhinho.
Otto Lara Resende foi um famoso jornalista mineiro, atuante na capital do Rio de Janeiro. Durante meados da década de 50, ele possuía seu próprio espaço para entrevistas televisivas, chegando a entrevistar personalidades como Nelson Rodrigues.
Filho de um professor mineiro e quarto de uma série de vinte (sim, vinte!) irmãos, teve uma rígida educação católica. Era conhecido pela simpatia e pela receptividade dos amigos em sua casa, estando sempre aberto a reuniões e conversas.
Mas em 1957 nosso sorridente jornalista publica seu segundo livro de contos, A Boca do Inferno. A partir daí, Otto começa a ser visto como alguma espécie de doente mental pervertido pela família, pelos amigos e pela sociedade carioca em geral.
A Boca do Inferno possui um tema Difícil. Difícil de ser aceito para a época em que foi lançado e Difícil de ser digerido pelo leitor. Trata-se de sete contos ambientados no universo infantil, com impressionante unidade temática e estilística. Todos os contos, Todos sem exceção, trabalham o universo infantil de forma Trágica, Problemática e, por que não?, Perversa.
Além disso, grande parte das histórias envolve conflitos entre a realidade da infância e a idealização da educação católica rígida. O melhor exemplo é o conto Dois Irmãos, onde a criança, atacada pela culpa da morte de seu irmão e com a cabeça rodando pelo catecismo, acaba por Cortar fora o próprio Pau dentro do banheiro de sua casa, numa forma Doentia e Desesperada de extirpar os pecados de seu corpo.
A Perturbação fica ainda maior quando lemos O Porão, terceiro conto do livro. A forma como a Crueldade Infantil é trabalhada, em contraste com uma bela e sóbria narração do espaço, cria um profundo arrepio na espinha, enquanto lemos o Psicótico assassinato a sangue frio de Rudá por seu amigo Floriano, dentro de um porão. A canivetadas.
O trabalho estético é primoroso: a escuridão do porão é trabalhada como coisa viva, como uma Entidade de Liberdade que permite ao garoto todos os tipos de experimentações Violentas.
Conheço pessoas que tiveram pesadelos com esse porão…heh.
Continuando a Morbidez, em Três Pares de Patins conhecemos a violência da brincadeira sexual com que um garoto oprime sua própria irmã e um de seus amigos. Dentro de um cemitério.
Como triunfo final e Perverso dos instintos animais e desesperados das crianças sobre a educação falha e problemática da Igreja Católica, vemos, em O Moinho, o suicídio Brutal do menino Chico, que se joga nas engrenagens de um Moinho em movimento após perceber que não poderia escapar de seu cruel e violento Padrinho.
Por fim: a beleza da unidade do livro. O primeiro conto, chamado Filho do Padre, mostra Trindade, garoto que havia sido adotado por um padre, envenenando o velho vigário e se escondendo uma pequena gruta local, apelidada carinhosamente pelos habitantes da cidadezinha de…A Boca do Inferno.
Boca do Inferno, após passar quase meio século com suas publicações esgotadas, volta a ser impresso pela Companhia das Letras em 1998, bem como outras obras do mesmo autor. Otto Lara escreve de forma límpida e poética que, em conjunto com seus temas Perversos & Mórbidos, funciona como um Chute no Olho. E na Mente.
Boca do Inferno, A
Ano de Edição: 1998 Autor: Resende, Otto Lara Número de Páginas: 104 Editora:Companhia das Letras
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Agora a coisa começa a ficar Séria. Já falamos sobre subversão e sobre drogas, mas o Choque Mental começa de verdade a partir da quinta posição.
Vocês conhecem Kafka? Franz Kafka? O autor de A Metamorfose e O Processo, por exemplo. Dono de um estilo narrativo que aproxima a história de um pesadelo. Paranóia, Loucura & Claustrofobia. Isso é Kafka.
Mas, a menos que você leia no original em Alemão, para conhecer Kafka você teve que passar por esse senhorzinho: Modesto Carone. O Tradutor oficial de Kafka no Brasil. O simpático velhinho já está próximo de traduzir a obra completa do escritor judeu e não mede palavras pra descrever sua fascinação pela obra do cara.
Mas não acaba aí – Modesto Carone Também escreve. Escreve de forma Bizarra, Louca e leva ao extremo toda a paranóia e falta de sentido que encontramos em Kafka.
A linha é a mesma: o irreal é tão gritante que as personagens são obrigadas a Se Acostumar com a situação para não enlouquecer ou perder a cabeça. Os contos seguem um foco extremamente obsessivo, e a narração em forma de Pesadelo contrasta violentamente com as reações e falas dos envolvidos.
Acabei escolhendo Por Trás dos Vidros por se tratar de uma compilação de contos dos principais livros do autor. Só assim eu poderia colocar lado a lado o bizarro Dias Melhores com o confuso e instigante Jogo das Partes.
Só assim vocês poderiam sentir a porrada no cérebro de contos como O Espantalho, onde o narrador inicia o conto declarando que, após ter encontrado o Cadáver do Enforcado dentro de seu armário, passou a prestar mais atenção na forma de se vestir. E aí segue-se uma longa pormenorização das diferentes combinações de roupas e as horas gastas em frente ao espelho. Fim.
Mas há Dias Melhores, em que o narrador começa explicando que Não Sabe a razão pela qual há, todas as madrugadas, um atirador escondido numa moita em frente á sua casa, disparando com uma carabina incessantemente. A situação é tão sem sentido, e ao mesmo tempo, tão rotineira, que nosso querido personagem acaba por incluir o belo som dos tiros, o gesso das paredes voando, dentro de seu ritmo de trabalho, enquanto permanece deitado no chão para não morrer.
E o que dizer de O Cúmplice, onde nosso narrador declara que “Ele” sente atração por seu dente podre? E quem é “Ele”? Não se sabe, mas “Ele” surge inesperadamente assim que o dente começa a doer…
Publicado em 2007, Por Trás dos Vidros reúne os principais contos de As Marcas do Real, Dias Melhores e Aos Pés de Matilda, todos de autoria de Carone. Com uma prosa calma, meticulosa e até científica, os contos assustam pelo paradoxo com seu conteúdo surreal e paranóico. Os contos assustam com o mesmo tom de Terror Impossível que o aparecimento daquele cara vestido de Urso no meio do filme O Iluminado.
E, ao fim, você já estará pronto para pegar sua lupa e vigiar constantemente o crescimento dos pêlos de seu corpo. São…As Faces do Inimigo.
Por Trás dos Vidros
Ano de Edição: 2007 Autor: Carone, Modesto Número de Páginas: 201 Editora:Companhia das Letras
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Funciona da seguinte forma: você é chamado de Los Angeles para cobrir uma das mais famosas corridas de motos em Las Vegas. E você, como jornalista respeitável que é, Aceita. O que você faz?
Obviamente, pega seu advogado, Todo o dinheiro fornecido pela revista que te contratou e gasta da seguinte forma: um gigantesco conversível vermelho & alugado, gentilmente apelidado de Tubarão, e as mais variadas Drogas & Entorpecentes possíveis. Ácido, Pó, Haxixe, Éter, Mescalina, Adrenocromo e o que mais sua mente Doentia pensar.
A corrida de motos? Foda-se, é poeira no deserto. A grande caçada é O Sonho Americano.
É essa a proposta de Medo & Delírio em Las Vegas, um dos livros mais famosos de Hunter S. Thompson, o jornalista criador do estilo gonzo. Porque, sim, isso Ainda é jornalismo, e dos mais assustadores.
Entre viagens especialmente fortes com as drogas, cenas bizarras dentro de luxuosos cassinos (yeah! credenciais de imprensa!), fugas espetaculares de hotéis luxuosos e o constante medo da polícia (sim, Las Vegas pode parecer o paraíso de tudo que é ilegal e degradante, mas você pode ser preso por anos simplesmente por fumar maconha); Hunter discorre sobre a grande decadência do século americano, o fim do sonho de liberdade de uma geração inteira de beatniks e hippies, e a entrada em uma espécie de “torpor nihil” por parte de toda uma nação.
Não há mais futuro para a Grande América. Woodstock acabou. Nas palavras do Grande Gonzo, “ainda dá pra ver a marca de arrebentação da grande Onda em que viajamos”. Mas a onda arrebentou…
No entanto, a mensagem é clara: o Sonho pode ter morrido, mas Drogas ainda podem ser legais. Especialmente misturadas com cassinos, macacos, toranjas, reuniões policiais sobre narcóticos, conversíveis, credenciais, facas de caça, samoanos, desertos, fotógrafos portugueses, menores de idade parecidas com buldogues e ataques de morcegos gigantes.
Medo & Delírio em Las Vegas, bem como grande parte de toda a obra de Hunter S. Thompson, foi publicado pela Conrad no Brasil e ainda pode ser encontrado nas melhores livrarias (nossa última edição é de 2007). Além disso, o livro ganhou uma adaptação para cinema na década de 90, com ninguém menos do que Johnny Depp no papel de nosso querido gonzo. Com certeza, vale a pena dar uma espiada naquela loucura visual.
Pois bem, até agora foi divertido. Você aprendeu que meninos de 12 anos nus e se masturbando podem ser lindos, e que Mescalina é uma ótima forma de fritar seu cérebro.
Mas…que tal começar a ficar um pouco mais sério? Daqui pra frente, é o Pavor, meu amigo.
Medo e Delírio em Las Vegas
Título original: Fear and Loathing in Las Vegas Ano de Edição: 2007 Autor: Thompson, Hunter S. Número de Páginas: 224 Editora: Conrad
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Ok. O nome é Hakim Bey, uma das maiores incógnitas do fim do século XX.
Nunca fotografado, nunca entrevistado, o Profeta do Anarquismo Ontológico ataca violentamente as bases da sociedade moderna.
Este livro não vai te deixar louco – este livro vai te deixar com Vontade de ser louco. De Conhecer a loucura de perto. De ir mais além, de transgredir, de subverter. Porque, sim, CAOS é um livro Subversivo.
Considerado um “estudo sociológico” (falicitação na catalogação, claro), CAOS – Terrorismo Poético & Outros Crimes Exemplares discorre sobre o Levante. Inventado por Hakim Bey, o Anarquismo Ontológico não procura soluções “salvacionistas” para a “Ordem Mundial”, não se trata de “política revolucionária”. Nada de “Morte á Burguesia”. É o Presente em si mesmo. A busca pela Liberdade Individual & Instantânea através de Ações que desafiam a Ordem.
O livro começa com uma série de “Lendas” a respeito de Caos. Não como um sinônimo de desordem, mas como um conceito que engloba tudo. “Caos são todas as Ordens ao mesmo tempo”. É o começo dos tempos. O Uno. A Divindade.
Afinal de contas, “Caos é Hun Tun, Imperador do Centro. Um dia, O Mar do Sul, Imperador Shu, & o Mar do Norte, Imperador Hu (shu hu = relâmpago), visitaram Hun Tun, que sempre os recebeu bem. Desejando retribuir sua gentileza, eles disseram: ‘Todos os seres têm sete orifícios para ver, ouvir, comer cagar etc. – mas o pobre velho Hun Tun não tem nenhum! Vamos perfurar alguns nele!’ E assim fizeram – um orifício por dia – até que, no sétimo dia, o Caos morreu.”
Só aí, a mistura de lendas orientais, conceitos islâmicos e muita droga na cabeça do Hakim Bey já é incrível.
Mas ele vai além.
Algumas idéias Poético-Terroristas que ainda Continuam em Triste Languidez no Reino da “Arte Conceitual”:
1. Entre na área dos caixas eletrônicos do Citibank ou do Chembank numa hora de muito movimento, cague no chão & vá embora.
(…)
3. Cole em lugares públicos um cartaz xerocado com a foto de um lindo garoto de 12 anos, nu & se masturbando, com o título bem á vista: A FACE DE DEUS.
Claro, isso sem esquecer de sugerir o envio de macumbas e magias negras muçulmanas (que invocam o Djim Negro, de acordo com o autor) a “instituições malignas”, como o New York Times e afins. Ou por que não uma ameaça falsa de Antrax dentro da Bolsa de Valores ás seis da tarde? O importante é a desordem, quebrar o fluxo, instituir o Caos novamente como situação primordial. Uma volta ao início do universo na figura de um Morteiro sendo lançado contra a vitrine das Casas Bahia.
E o melhor: Dá Vontade!
CAOS – Terrorismo Poético & Outros Crimes Exemplares foi novamente publicado no Brasil pela Conrad em 2003 e continua em constante impressão. É considerado, junto com TAZ – Zona Autônoma Temporária, o marco de uma nova forma de revolta. Sem esperanças á revolução, sem heroísmos, sem exaltação da pobreza ou demonização do dinheiro – pura Desordem, Liberdade e, principalmente, Diversão. Sem Leis.
“Se a rebelião provar-se impossível, pelo menos algum tipo de guerra santa clandestina deve ser iniciada. Que ela siga as bandeiras de guerra do dragão negro anarquista, Tiamat, Hun Tun.
O Caos nunca morreu.”
E, claro, começamos trabalhando seu espírito de rebeldia. O próximo passo é desenvolver seu gosto pela Alucinação. Drogas Pesadas, meu caro, na sexta posição.
CAOS – Terrorismo Poético & Outros Crimes Exemplares
Título original Chaos Ano de Edição: 2003 Autor: Bey, Hakim Número de Páginas: 117 Editora:Conrad