Os 7 Livros Mais Prejudiciais a Sua Mente

Livros sexta-feira, 08 de fevereiro de 2008 – 1 comentário

Ok, vocês têm um gosto pelo Bizarro. Isso é óbvio pela escolha do seu site de notícias preferido. Vocês Confiam na gente.
Mas o Bizarro não é nada, se não houver seletividade. Eu vos apresento o Bom & Bizarro. A Nata do Choque Mental da literatura.
Livros que possuem uma proposta estética e/ou de conteúdo tão diferente, tão estranha e tão forte, que vocês sentirão pequenos choques & estremecimentos em suas espinhas.
Porque, ao fim dessa lista, Ninguém sai ileso.

Reconhece? Diga adeus.

Pequenas críticas ás obras vão começar a surgir. Até a semana que vem, se vocês forem bons alunos, poderão acompanhar de perto o Nosso Crescente de estranheza.
Porque, meu amigo, isso Não É Um Top 10.

7. CAOS – Terrorismo Poético & Outros Crimes Exemplares (Hakim Bey)
6. Medo e Delírio em Las Vegas (Hunter S. Thompson)
5. Por Trás dos Vidros (Modesto Carone)
4. Boca do Inferno (Otto Lara Resende)
3. Não Há Nada Lá (Joca Reiners Terron)
2. Crash (J.G. Ballard)
1. Como uma Luva de Veludo moldada em Ferro (Daniel Clowes)

A assustadora literatura Cyberpunk

Livros segunda-feira, 21 de janeiro de 2008 – 2 comentários

Então, você é um daqueles caras que acha ficção científica uma coisa muito chata. Toda aquela babaquice de Jornada nas Estrelas, ou aquelas histórias toscas com armas lasers e E.T’s. Uma puta viagem escrota, certo? Há mais de 30 anos, um certo grupo de escritores pensou a mesma coisa.

Como diria Hunter Thompson, o Sonho Americano estava morto. E alguém tinha que aproveitar a chance. Alguns loucos começaram a produzir algo completamente novo, nunca visto antes. A Ficção Científica era pano de fundo para as idéias mais bizarras e lunáticas, uma desculpa e uma arma para atacar com toda a força a chata realidade pós-anos 60.

O termo inventado foi cyberpunk. As histórias giravam em torno, geralmente, de ratos de computador drogados com todo o tipo de substância psicodélica conhecida e/ou inventada, envolvendo-se em pirações no meio de um mundo maluco demais para ser possível. Isso sem contar as invenções mais doentias sobre Implantes, Terroristas e Sexo. Vocês já leram sobre Transmetropolitan por aqui. E o espírito é Exatamente esse.

Imaginem, por exemplo, um romance sobre a Fixação Mórbida e Sexual em Batidas de Carros. Era essa a trama que J.G. Ballard explorava em seu livro “porno-bizarre” Crash, lançado em 1973, aonde jatos de porra voavam enquanto seus personagens envolviam-se propositalmente em acidentes de trânsito. O metal dos carros penetrando-se, as fraturas expostas e os corpos fundindo-se com as latarias…tudo com um grande apelo erótico.

O Experimentalismo era a palavra de ordem. Com grande influência, mesmo que talvez inconsciente, das idéias lançadas pelo pensador/anarquista/instigador de confusões Hakim Bey em seu livro TAZ, nomes como William Burroughs (geração beat ou proto-cyberpunk? hmm), o próprio J.G. Ballard e William Gibson iniciam um desenfreado ataque á chatíssima Realidade.

No final da década de 80, a revista americana Semiotext(e), conhecida pelo seu conteúdo subversivo e, por que não?, Nocivo á Sociedade, lança uma edição especial dedicada á Ficção Científica. A idéia? Aceitar somente contos que tivessem sido Vetados em outras publicações, por seus conteúdo Subversivos, Obscenos e Doentios. O nome? Futuro Proibido.
Além de contar com textos do trio já citado, a edição especial ainda publica bizarrices de Denise Angela Shawl, Sol Yurick, Bruce Sterling e mais.
Destaque para os incríveis contos Relatório sobre uma Estação Espacial Não Identificada (Ballard), O Pênis Frankenstein (Ernest Hogan) e Êxtase no Espaço (Rudy Rucker).

Mas o “sub-gênero” ficaria realmente famoso através do lançamento de Neuromancer, em 1984, de nosso amigo William Gibson. O romance ganha os famosos Nebula Award, Philip K. Dick Award e Hugo Award e torna-se um símbolo da nova geração de sci-fi.
É inclusive na trama de Gibson que é inaugurada a idéia da Matrix, que inspiraria a trilogia de filmes homônimos. A obra abria a Trilogia Sprawl, que contava ainda com os títulos Count Zero e Mona Lisa Overdrive.

Mas por que falar de tudo isso? Por que ficar resgatando essas velharias de quase trinta anos de idade? Simplesmente porque algumas dessas maravilhas ainda são publicadas. Você ainda os encontra em Livrarias e Sebos e você Deveria, caso curta a idéia de explodir a Realidade em pedacinhos e colar tudo de novo totalmente fora de Ordem, correr atrás e dar uma lida. Futuro Proibido ainda é publicado pela Conrad, Crash pela Companhia das Letras e Neuromancer através da Aleph.
E para Sua sorte, a Rocco acaba de relançar o incrível Caçador de Andróides, de Philip K. Dick, o romance que deu origem ao maravilhoso filme Blade Runner.

Agora vai, levanta, começa a comprar.

A Sombra do Vento (Carlos Ruiz Zafón)

Livros sexta-feira, 18 de janeiro de 2008 – 5 comentários

Eu confesso que tenho um tremendo pé atrás com essa nova literatura baseada no Oriente Médio ou em Segunda Guerra Mundial, sempre sendo bem-vendida nas livrarias, com as senhorinhas se emocionando enquanto lêem. Os Catadores de Concha é coisa do passado, nada é mais dramático do que O Caçador de Pipas.
De repente veio esse surto de novos escritores, falando sobre nazismo e/ou desgraças na Arábia. E isso tudo é muito chato e muito melodramático. Esse Caçador de Pipas é um dos livros mais Desgracentos que li na vida.

Mas aí começaram a me falar dA Sombra do Vento. Li a primeira página, enquanto esperava as 22 horas pra tomar cerveja e comecei a me interessar. Adoro essas Literaturas que falam sobre Literaturas. Livros falando sobre livros, brincadeiras entre linguagens e isso tudo. Putz, fiquei curioso, peguei o livro emprestado e levei pra casa. Quatro dias depois…

A Sombra do Vento é um livro sobre um livro chamado A Sombra do Vento. Confuso? Na Barcelona pós-Guerra Civil, Daniel acorda ás vésperas de seu aniversário de 11 anos gritando ao perceber que não consegue mais lembrar o rosto de sua mãe morta. Ao acudí-lo, o pai o leva naquela fria manhã, no meio daquela neblina de carvão característica de Barcelona em 1945, ao Cemitério dos Livros Esquecidos. O lugar é uma gigantesca biblioteca, escondida em um casarão, que abriga todos os volumes esquecidos pelo resto do tempo. Livros Mortos.

Ao passear pelos labirintos de prateleiras gigantescas, o garoto instintivamente pousa aos mãos sobre A Sombra do Vento, um esquecido volume do desconhecido autor Julián Carax. A partir daí, começa toda a trama da tentativa de Daniel de desenterrar o passado de Carax e recuperar uma história que começa em 1900…

O mais interessante em A Sombra do Vento é a narrativa. Intrincada, com novos elementos sendo colocados na história o tempo todo, vai e volta no tempo, recuperando aos poucos o passado, a infância e o sumiço de Julián Carax. Numa mistura de gêneros típica do Bacanal do século XXI, o autor brinca com uma cidade cheia de cicatrizes deixadas pela Guerra Civil e a própria idéia de Livros dentro de Livros. Uma passagem em que Daniel descreve A Sombra do Vento parece servir perfeitamente para a obra física:

á medida que avançava, a estrutura do relato fez-me lembrar daquelas bonecas russas que contêm em si mesmas inúmeras miniaturas. Passo a passo, a narrativa se estilhaçava em mil histórias, como se o relato penetrasse numa galeria de espelhos, e sua identidade produzisse dezenas de reflexos díspares e ao mesmo tempo um só.

Sem sentir, enquanto cresce e investiga por conta própria certos passados proibidos, Daniel envolve-se com um ex-anarquista, um Inspetor psicopata e com a estranha figura de Alain Coubert, o homem sem rosto que fuma cigarros feitos com folhas de livros e dedica sua vida a perseguir todos as obras de Julián Carax e queimá-las.
O detalhe? Alain Coubert é o nome de um dos personagens do romance A Sombra do Vento de Carax. O personagem que representa o demônio.

Escrito por Carlos Ruiz Zafón, espanhol nascido em 1964 que vive atualmente em Los Angeles contribuindo para jornais, A Sombra do Vento é um romance de Reconhecimento, Auto-Conhecimento e Conhecimento dos Livros. Porque, no fim, tudo leva ao Rosto da Mãe.

Crítica – Como Me Tornei Estúpido

Livros sexta-feira, 11 de janeiro de 2008 – 1 comentário

Nossa cara, isso é muito bom!
Hah…livro de estréia no Brasil do francês Martin Page, Como Me Tornei Estúpido narra a tentativa de Antoine, um “intelectual” com vida social fracassada, de alcançar o status de ignorante. Para o personagem, a inteligência é um mal para sua existência. Ela o deprime, lhe dá a necessidade de análise constante da realidade, incompatível com a vida Alegre & Bela que ele deseja viver.
Em outras palavras: sei falar Aramaico, sou Comunista & Revoltado, mas eu adoraria ser “burro” pra ser “feliz”.

O romance começa engraçado. É… Não aquele engraçado que faz você pensar “cara, isso é incrível”, mas aquele engraçado em que você dá um sorrisinho de canto de boca e pensa “heheh…”.
De qualquer forma, para alcançar a felicidade, Antoine não optou diretamente pela estupidez. Primeiro houve a tentativa de se tornar alcóoltra (numa das passagens verdadeiramente mais engraçadas do livro) e a vontade de se matar, com direito a aulas de um Bizarro Curso Semanal de Suicídio.
Após perceber que tem o fígado do tamanho de um feijão (coma alcóolico com meia caneca de cerveja?) e que quer sim continuar vivendo, Antoine começa a tomar Felizac, um psico-ativo que o deixa… Abobado & Despreocupado.

A obra é escrita em estilo solto e simples, e chega a ser divertida até mais ou menos a metade, até se tornar declaradamente um hino á nerdice e á misantropia. Isso mesmo: saber falar Aramaico, ser Comunista & Revoltado é Legal! Seja pobre e feliz com seus amigos fracassados. Afinal, uma coisa Necessariamente exclui a outra! No mundo de Martin Page, ou você é mal-vestido, nerd, comunista e inteligente, ou é bem-vestido, bem-sucedido, capitalista e Burro. Esqueçam os meio-termos da Realidade.

Lançado no Brasil pela Rocco em 2005, o livro acabou fazendo sucesso a partir de 2007. Bem aclamado pela crítica jornalesca (ou seja: ignore), é de fácil assimilação. A velocidade de leitura ajuda: o livro foi publicado em formato pocket, possui 160 páginas e fontes grandes o suficiente para você enxergar com cinco andares de distância.

Crítica – Fun Home – Uma Tragicomédia em Família

HQs quinta-feira, 10 de janeiro de 2008 – 2 comentários

Vocês devem estar cansados dessa punheta em cima de heróis e zumbis por aqui. Vocês devem até estar pensando “puta, por isso que não gosto de HQ. é só gente mal-comida com cueca por cima da calça e umas recriações horríveis de Madrugada dos Mortos em quadrinhos. que saco!” Mas eu sou bondoso. E por ser bondoso resolvi presenteá-los com a Verdadeira Nona Arte. A maravilhosa encruzilhada entre literatura e simples desenhos. E eu não poderia estar falando de outra coisa além do novo lançamento da Conrad: Fun Home – Uma Tragicomédia em Família.

Fun Home é um quadrinho diferente. Não há ninguém com super-poderes. Não há irrealidades. Nada de fantasias e ficções. A obra foi escrita pela jornalista americana Alison Bechdel com um objetivo bem simples: contar a história de sua infância e sua relação com seu pai. Sim, uma biografia, uma memoir em quadrinhos, narrada ao ritmo do pensamento.

A capa da Criança.

Não há uma ordem cronológica para as diferentes cenas que compõem Fun Home. A narrativa desenrola-se através de pequenos casos contados e recontados á medida que novas informações são adicionadas ao relacionamento pai-filha.

Bruce, o pai da narradora, é um professor de literatura/dono da única agência funerária da cidade viciado em decoração de interiores, passando todo o seu tempo vago mergulhado na remodelização da casa, recuperação dos móveis e recriação do antigo estilo Vitoriano do imóvel. Possui um Gênio singular que parece lançar sua relação com os filhos no Céu e no Inferno, além de tornar o casamento com a mãe de Alison, atriz e dona de casa, uma guerra de gritos. É também o astro central da narrativa, que parece servir como resposta á seguinte pergunta: “Quem era meu Pai? Ele está Morto agora. Ok, eu acho que ele se jogou na frente daquele caminhão, mas a verdade é que ele está Morto agora. Quem era meu pai? Quem Era essa pessoa? E será que eu realmente era tão Diferente dele quanto pensava?”

Ao longo da narrativa, vários pontos ficam claros: não é só o amor á literatura e as tendências homossexuais que unem as duas personagens (sim, mesmo casado, descobrimos que Bruce era conhecido na cidade por xavecar e comer garotinhos malhadinhos. E Alison descobre ser lésbica ao entrar na faculdade).

Publicado no Brasil pela Editora Conrad no final de 2007 e escrito com estilo próprio, Fun Home (uma brincadeira com “Funeral Home”) trabalha intensamente com citações literárias e paralelos com escritores famosos, passando por Fitzgerald, Proust e Virginia Woolf. Além da literatura ter estado sempre presente na vida da autora, em suas própria concepção seus pais e sua vida pareciam mais reais quando considerados em termos “ficcionais”, “literários”. A obra tem tudo para se tornar um divisor de águas na publicação nacional de quadrinhos e vem com força para mostrar, de uma vez por todas, que Isso também é Literatura. E das Melhores.

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