Bacon Entrevista: Cristian Scuziato

Livros sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Cristian Scuziato é um escritor de contos de fantasia que, com a influência de animes e mangás, consegue narrar suas histórias de um jeito único e muito cativante. Conversei com ele sobre suas histórias, projetos e influências. A conversa você confere a seguir.

Santhyago: Pra começo de tudo, começa falando quem é o Cristian quando não está escrevendo. Onde mora, idade, o que gosta de fazer… Essas coisas.

Cris Scuziato: Ah cara, eu queria ser misterioso. Mas enfim…

Hueheuehueheuheuheuehe. Já cumpri essa cota de autores misteriosos.

Mas eu sou especial <3 (Tenho autismo) Kkk. Enfim agora partindo pro sério (Ou quase): Eu sou uma pessoa pacata e simples que vive numa lata de sardinha (Vulgo quitinete) e trabalho como escravo para a sociedade capitalista. As coisas que mais gosto de fazer (Fora ler e viver num mundo fictício e imaginário no qual eu invento minhas historias e as transcrevo como se fosse algum tipo de entidade passando um relatório para a minha mente) é ler mangas, ver anime, jogar jogos (Persona) e... O que der na telha de fazer. Tenho 27 anos, mas pareço ter 18. Deve ser algum tipo de mutação.

Deve ser algo relacionado à safra de produção. Vai que a colheita de genes nessa época era boa?

Ou talvez tenha algo haver com o apocalipse, este ano teve dois. Então nunca se sabe :v E sim, eu faço faculdade de História, mas isso é irrelevante.

O quanto isso tudo que lê e assiste influencia na hora de escrever?

Influencia e muito, só que não é exatamente tudo. Mas quando vejo algo que desperta certo estalo na minha cabeça, minha mente começa o jorro de ideias. Então eu pego tudo e vou moldando na forma de um ovo na minha mente, até que ele fique completo e eclode de vez. E quando isso acontece… Uma nova história nasce, cheia de densidade e sentidos ocultos, coisas escondidas na trama…

Demora muito pra isso acontecer?

Isso é meio volúvel, pois precisa da influência externa que as coisas que vejo e sinto geram. Por exemplo, agora estou escrevendo uma nova história, isso tudo porque li uma outra história onde apenas a aparência de um personagem me chamou a atenção e isso fez como que muita coisa começasse a se agrupar na minha mente e então surgiu. Em todo caso… Acontece quando se menos espera.

Entendi. E quando isso acontece, de a história eclodir, ela já surge pronta ou exige uma pesquisa mais profunda depois que as bases foram definidas para que tudo aconteça de uma maneira melhor?

Quando a historia eclode é como uma ave recém nascida. Precisa ser alimentada, cuidada e por fim, precisa ensinar como se voa. Ou seja, precisa se dedicar e pesquisar os detalhes que ela apresenta, definir as melhores rotas a serem seguidas, o que precisar acrescentar, o que precisa alterar, se tudo está seguindo um bom fluxo, se vai surpreender quem for ler cada coisa na trama.

O principal numa boa história. Surpreender o leitor.

Precisa ter uma ordem e significado para mim. Muitas histórias são bem previsíveis e eu tento fugir disso. Muitos acham que algo imprevisível pode ser a morte de um personagem, mas às vezes até isso já é esperado! Então a fórmula para criar uma boa surpresa ainda me é desconhecida kkk. Fiz até um texto de uma das minhas personagens, que é uma escritora falando sobre isso.

É surpresa até pro autor, então.

Exatamente. E o texto é tipo uma reflexão própria. Sempre me pergunto: Como criar algo diferente, alternativo e não repetitivo? Como encontrar um caminho que não leve a mesmice? O que nesse mundo pode ser moldado de forma a não cair naquele mar de repetições constantes? Sempre se afogando naquele rio lamacento de enredos repetidos que te agregam o mesmo que muitas outras tramas. Uma modificação, uma remodelação, mas no fim acaba sendo apenas uma cópia barata de algo que já exista… Remar contra a maré, acender uma chama em um lugar distante e persegui-la mesmo não sabendo se poderá alcançá-la. O que escrevemos são nossos desejos ou apenas agimos com um deus sombrio moldando vidas em nossa mente? E essas vidas se repetem de formas e maneiras iguais… Minha busca por esse caminho falha miseravelmente…

Isso dito por uma escritora que é uma de suas personagens?

Sim, é uma página avulsa em uma das minhas historias, que serve de introdução ao que se espera da historia que vai ser mostrada. A própria personagem escritora tem seus complexos fundamentais que refletem um pouco do que eu penso sobre a escrita.

Quais autores que te influenciam na maneira que coloca as palavras no papel?

Autores no geral? Ou apenas de livros?

No geral.

O grande senhor da influência foi Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas, o meu livro favorito. Nesse livro ele enche de símbolos e metáforas da vida real e do mundo visto através dos olhos de uma garotinha. Ao ver isso me fez refletir sobre muita coisa e que me deu mais foco na escrita e inspiração para forma como escrevo. Há autores de mangás também, que com sua forma de escrita e arte me influenciaram. Ah sim! Já estava esquecendo de Tolkien, um dos primeiro livros de literatura fantástica que li que ajudou a me influenciar. Acho que a maioria que escreve fantasia leu algum livro dele. George R. R. Martin também é outro que encabeça e a lista… E é claro o divo Neil Gaiman <3. E no momento estou na influência de Kafka. E sobre autores de mangá, devo deixar aqui a admiração por Sui Ishida, autor de Tokyo Ghoul.

O absurdo dos enredos de Kafka já começou a se infiltrar nos seus planejamentos de enredos?

Alguns, principalmente a parte de fábulas para adultos. Por exemplo, algo que citei em minhas histórias, uma metáfora sobre justiça pegar um acusado de assassinato, tratar como o pior lixo por outros acusados de assassinato que julgam o crime dele como sendo o pior. No final das contas todos agem sobre sua justiça. Mas o que exatamente é justiça? Fazer com que um indivíduo seja espancado por outros indivíduos que julgam estarem fazendo o que é certo? Mas isso não seria apenas aumentar o numero de assassinos?

Kafka mesmo no meio de suas doideiras, dava o que pensar. É algo que tem valor até hoje.

É basicamente isso que trato em uma das minhas tramas. Kafka é um ótimo autor. Pena que só foi realmente reconhecido depois de morrer, como aconteceu com muitos.

É triste isso. É como se ele só tivesse valor depois que não tivesse como aproveitar o reconhecimento.

Exatamente. E é o que vai acontecer com muitos autores nos dias de hoje. Muitos só serão reconhecidos depois de mortos.

Considerando que hoje em dia a produção literária é muito maior do que a de 100 anos atrás, isso até que é justificável.

Mas ai é que está, a produção literária dos dias de hoje consiste sempre na mesma trama! Podem ter quinhentos mil autores, mas vão ser poucos os que serão eternizados porque no meio desse caos vai ter os que se destacam, mas por conta do grande números de obras iguais e de editoras mercenárias que não se importam com nada além do lucro esses autores só aparecerão anos mais tarde.

Fala um pouco sobre as histórias que tem publicadas no Wattpad.

Tenho três historia publicas e concluídas no Wattpad e uma outra que estou começando a escrever, vou me focar nas que estão concluídas. São três “contos” por assim dizer, mas são longas narrativas para um conto. Entretanto são curtas demais para se considerar um livro extenso. Em cada uma delas o foco principal é a fantasia, mas as três historias puxam outros focos como o mistério, o horror, a loucura, a tragédia, o romance e as três se entrelaçam uma com a outra: Nomes e personagens citados em uma tornam a aparecer repentinamente em outra fazendo com que uma complete a outra, mas cada uma pode ser lida de forma individual se preferir.

O primeiro conto se chama O Observador. Conta a história de um policial detetive que se depara com um caso peculiar onde uma escultura é feita com um humano e deixada na frente de um museu. Após isso ele começa sua investigação e acaba se deparando com uma organização que lida com casos fora do comum, que é a parte da fantasia na história. O personagem Nicolas entende que existe um mundo desconhecido por ele até então, um mundo onde poucos conseguem ver.

O segundo conto se chama Scolopendromorpha e aborda a história de uma jovem que é acusada injustamente do assassinato da própria mãe. Ela é recriminada por todos, incluído amigos e o próprio namorado. Tudo conspira contra ela, sendo julgada e assim condenada por algo que não cometeu. Na prisão, ela percebe que a vida pode ficar pior quando um grupo de detentas começa práticas cruéis de tortura e mutilação na personagem, cujo nome não tinha citado, mas se chama Morgiana. A vida dela só muda quando descobre que a sua única aliada e companheira de cela é uma pessoa com poderes especiais e que revela que Morgiana é assim como ela.

Já no meu último conto chamado Cras Numquam Scire, eu abordo o tema do romance e do amor onde dois personagens criados num experimento de laboratório estão fugindo de perseguidores que são assim como eles. Os dois personagens centrais da trama, Rhudy e Laura, possuem uma ligação quase simbiótica de afeto e tentam a todo custo sobreviver a um jogo de vida ou morte entre eles e os outros experimentos, enquanto procuram desesperadamente uma cura para seus corpos que podem entrar em colapso e morrer a qualquer momento. Nesse conto eu procuro explorar a fantasia e ação com muita força, ligadas às emoções e o romance dos personagens. Tiro de foco as tramas estúpidas de intrigas e dúvidas que o casal sempre acaba nutrindo entre si e a conclusão desse conto acaba por unir as três historias em um evento que pode acabar destruindo a realidade.

Três histórias que acabam chamando atenção por causa dos títulos.. Demorou muito pra chegar a eles?

Bastante, exceto d’ O Observador. Essa história eu já tinha como foco esse título. Já as outras eu não sabia qual seria mas assim como um processo natural, o título acabou saltando para a história. E todo título tem seu sentido na trama, nenhum título tem um sentido abstrato ou vago.

Tudo com contexto com o tema explorado na história.

A história, à medida que coloco no papel, vai se moldando e tudo parece se encaixar. Quando comecei a escrever Cras Numquam Scire, que, no início, não tinha nome, parecia que ela ia desandar mas por algum motivo quando o nome surgiu tudo começou a se encaixar e seguir o fluxo. É como se tudo começasse a se unir novamente por conta do título.

E como tem sido a recepção do público para suas histórias?

Poucas pessoas leem. Meu tipo de historia parece não agradar à muitas kkkk. As pessoas gostam de personagens podres de ricos com vidas perfeitas ou de coisas sem muito conteúdo.

Existe uma tendência para conteúdos assim. Mas isso independe do escritor. Se existem histórias assim, é porque eles querem atingir o maior público.

Aí que está. Escrever pra público é apenas escrever o que eles querem e não o que você quer. Escrever um livro igual a todos é apenas se tornar uma cópia do que já existe. Se tudo continuar num fluxo de igualdade o que vai sobrar dessa geração atual?

Provavelmente um autor. Que vai influenciar todos os outros.

Pra ditar a próxima tendência.

Ou algo assim. Quando chega a hora de divulgar, tem dificuldades com isso?

Acho que sim, porque ainda não entendo direito como fazer isso certo, se é que tem uma maneira certa. Divulgo onde der e convido quem eu puder para ler.

É uma vantagem. Quem consegue passar a barreira de capítulos longos é um bom leitor no fim das contas.

Eu ainda procuro o tipo de público que vai ler o que eu escrevo, porque até agora pareço não ter encontrado! A maioria apenas se centra em suas próprias histórias e leem as de outros como apenas caprichos para poder fazer com que leiam a sua.

Trocas de leitura, em outras palavras.

Sim, e a maioria das histórias que vejo é maçante e com enredos iguais à outras mas mesmo assim acabo por sempre ler e entender a história e dar minha opinião sobre os pontos que gostei, já que uma crítica sobre algo estar estranho é sempre pessimamente recebida. Todos sempre acham que suas histórias são perfeitas. Eu sempre acho que minhas histórias estão cheias de problemas e que precisam melhorar. Eu nunca estou satisfeito porque parece que falta algo.

Mas com a facilidade de hoje em dia se produzir conteúdo, é fácil de entender porque a qualidade é difícil de alcançar.

Hoje em dia só pegam o que já existe e mudam o nome dos personagens e o local onde estão. Aí fica simples.

Se todos fosse mais críticos com o próprio trabalho, a qualidade seria melhor do que muito do que se vê hoje em dia.

O meu segundo conto é uma referência pura a uma das minhas obras favoritas, que é Tokyo Ghoul, tem muitos elementos ali que fazem referência, mas a história acaba por ser outra e eu deixo bem claro a refêrencia como uma homenagem e não uma cópia barata.

Essa linha que separa que é difícil de ver hoje em dia. Tudo é mais do mesmo, se for olhar de uma maneira mais crítica. Claro que tem aquelas que se salvam e surpreendem. Quais histórias que já fizeram isso contigo, no Wattpad? Te surpreenderam?

A história deste que faz a entrevista, porque simplesmente eu não sabia o que aconteceria no capítulo à seguir e nem que rumo ia ter. E tem uma de uma garota que parece amar de verdade o que faz, mas vamos por partes. A primeira é Mendigo, deste que faz a entrevista comigo e a segunda se chama Aika: A Canção dos Cinco, da autora Lucia Lemos. A história dela me pegou de jeito por conta da dedicação dela e pelo fato que não sei o que esperar dessa história. Acabei por virar fã heuheuheue.

Considerando a dificuldade de achar conteúdo realmente original e diferente no Wattpad, fico lisonjeado de me ver citado nessa hora.

Eu até cito o seu livro em um dos meus contos, o que combina bem com os personagens simples e com a cena de amizade que existe no momento.

Combinou bem mesmo com a cena. E você disse que tem uma história que está escrevendo. Algum projeto mais além desta em produção?

Eu tenho um livro que escrevo em off, por assim dizer, ou seja, que não vai pro Wattpad. É meu livro principal. Os contos possuem ligação com ele, assim como determinados personagens. É o meu maior projeto e mais ambicioso por assim dizer e o que eu mais desejo que seja publicado.

Considerando a qualidade de seus contos, isso é questão de tempo para acontecer. E Cristian, chegamos ao fim de nossa entrevista…

Ah que pena, agora que estava ficando bom :v

Algum recado que queira deixar para seus leitores? Um conselho para aqueles escritores que precisam de um pequeno empurrão pra deixar suas histórias verem a luz do dia? Nessa hora que ativa o seu lado motivacional. Aquele Augusto Cury dormente volta à vida e vem A mensagem.

Acho que vai sair um demônio dormente, isso sim! Deixa eu pensar aqui que isso é difícil kkk. O que posso deixar é o seguinte, que são as regras que sigo para a escrita ditas pelo divo Neil Gaiman. Elas são muito importantes para mim:

1. Escreva.
2. Escreva uma palavra depois da outra. Encontre a palavra certa, escreva-a.
3. Termine o que você está escrevendo. Faça o que for preciso para terminar, e termine.
4. Coloque o texto de lado. Leia fingindo que você nunca leu antes. Mostre-o a amigos cuja opinião você respeita e que gostem daquele tipo de coisa.
5. Lembre-se: quando as pessoas dizem que algo está errado ou não funciona para elas, estão quase sempre certas. Quando dizem exatamente o que você está fazendo de errado e como corrigir, estão quase sempre erradas.
6. Corrija. Lembre-se que, mais cedo ou mais tarde, antes que o texto fique perfeito, você precisa seguir em frente e começar a escrever a próxima coisa. Perfeição é como perseguir o horizonte. Continue escrevendo.
7. Ria de suas próprias piadas.
8. A principal regra da escrita é que, se escrever com segurança e confiança suficientes, você pode fazer o que quiser. (Essa pode ser uma regra para a vida, assim como para a escrita.) Então, escreva a sua história como ela precisa ser escrita. Escreva-a com honestidade e conte-a da melhor forma que você puder. Eu não sei com certeza se existem outras regras. Pelo menos, não as que importem…

Isso resume muito bem o que eu acredito e sigo, e acredito que se muitos precisam de um empurrão, que leiam essas regras e entendam que precisam fazer com carinho e amor pois um livro pode influenciar muitas pessoas kkkk.

Essas regras são supremas. Nem precisa de mais nada. Se seguir ela, é garantia de conteúdo bom.

Exatamente, minhas historias são o reflexo disso heuheu.

E algum recado pra seus leitores?

Assim… Que continuem lendo e tentem entender o que eu escrevo e que eu adoro vocês <3.

Santhyago: Muito obrigado por responder as minhas perguntas ^^.

Cristian Scuziato: Muito de nada.

Chegamos ao final de mais uma entrevista. Não esqueçam de seguir o perfil do escritor, assim como conferir as suas histórias e descobrir se vocês são o tipo de leitor que ele procura…

Que legal, que bonito, que fofo: As outras entrevistas com a galera do Wattpad tão aqui (Se é que você curte essas paradas).

Leia mais em: , , , ,

Antes de comentar, tenha em mente que...

...os comentários são de responsabilidade de seus autores, e o Bacon Frito não se responsabiliza por nenhum deles. Se fode ae.

confira

quem?

baconfrito