Batman: Earth One (DC Comics)

HQs quarta-feira, 08 de agosto de 2012

 Batman não é um herói.
Ele é apenas um homem. Falível, vulnerável e furioso.
Em uma Gotham City onde amigos e inimigos são indistinguíveis, a jornada de Bruce Wayne para se tornar o Cavaleiro das Trevas esta mais difícil que nunca. Determinado a punir o verdadeiro assassino de seus pais, e os policiais corruptos que tentarem o impedir, Wayne anseia por vingança nessa insana jornada e ninguém, nem mesmo Alfred, poderá impedi-lo.
Geoff Johns e Gary Frank (Superman: Origem secreta) se unem mais uma vez para reescreve a lenda do Batman.

(Traduzido porcamente do Amazon hohoho)

Lá pelo final de 2009, quando a DC anunciou o projeto “Earth One”, a imagem de um “Ultimate DC” não saia da minha cabeça, afinal, estávamos falando de novas origens, cronologias e a tentativa de alcançar um novo público. Por se tratar de uma nova linha, e não a cronologia original, a ideia pareceu bastante promissora, já que eu não via uma “reinvenção” do morcego há bastante tempo e também, dessa maneira, não havia um risco de cagarem a origem do Batman. Ou não?

Antes de falarmos sobre a história do morcego, vamos falar sobre as duas cabeças do projeto. É bom deixar claro que sou um grande fã do trabalho do Geoff Johns. Tudo o que ele já fez de bom para a DC, incluindo as Origens Secretas do Lanterna Verde e do Superman, me deram um animo ao ver seu nome ligado ao projeto Batman: Earth One. Geoff parecia ser o cara perfeito para reescrever o morcego, afinal, ele sabe trabalhar com origens e dar novos rumos as histórias, como já fez com Flash, Aquaman, Lanterna e o escoteiro azul. Gary Frank, que eu lembro muito graças a Origem Secreta, é o parceiro perfeito para Johns. Ambos já haviam trabalho juntos em Superman, e Gary possui um traço que caminha entre o real e o imaginário. O desenhista busca um realismo, mas não tão intenso quanto Alex Ross ou Felipe Massafera, e também mantém o traço comics, porém sem exagerar em músculos e formas. Como a proposta desse projeto era algo mais real, mais “pé no chão”, ele era a escolha certa para ilustrar o novo morcego.

 Os dois putardos já tinham feito um bom trabalho com o azulão.

Mas ok, vamos à história. Tudo começa com uma sequência cinematográfica do morcegão perseguindo um individuo em um telhado de Gotham. Desde já você percebe um Batman mais humano, com um físico mais aceitável e uma expressão menos Dark Knight. Gary manda muito bem com rostos, ele consegue expressar o momento através de caras, bocas e olhares, e nesse o olhar é bastante presente, já que abriram mão das “lentes brancas” e o olhar sério. Outra característica desse Batman é que ele falha (E como falha): Logo nas primeiras páginas, o jovem cavaleiro erra o pulo e cai de um telhado, deixando o seu alvo fugir. Esqueça o cavaleiro das trevas onipresente e onipotente que você conhece, aqui Batman é um cara rico em uma roupa de couro. E só.

 Bat-tombo.

Passada essa falha do morcego, a história volta alguns anos, antes do Batman, antes do assassinato dos Waynes. É hora de descobrirmos que Thomas Wayne continua rico, mas agora ele é candidato a prefeito de Gotham City. Martha Wayne é Marta Arkham-Wayne. Sim, Arkham, igual o asilo, porém aqui não há nenhum manicômio para criminosos insanos, apenas uma velha mansão onde a mãe de Martha matou o seu pai. Alfred, o bondoso mordomo, é um antigo amigo de guerra de Thomas, e diferente da personalidade habitual dos quadrinhos, ele é ranzinza e com cara de poucos amigos. Por fim, Bruce, o pequeno herdeiro Wayne, é uma criança meio arrogante e esnobe, que acaba tendo uma parcela de culpa pela morte de seus pais.

Durante a apresentação desses personagens, a história vai se desenrolando aos poucos. Thomas havia recebido algumas ameaças de morte, e por isso chamou seu amigo Alfred para cuidar da sua segurança. Porém, no mesmo dia em que Alfred chega à cidade, os Waynes decidem fazer a sua habitual ida ao cinema, e é lá onde a merda acontece. Durante a sessão, a luz é cortada, e Bruce, num ataque de criança mimada, sai correndo bravo porque ele queria assistir o filme de qualquer jeito. No beco, ele passa por um sujeito e dá uma de riquinho pra cima dele. Dois tiros no beco, dois corpos no chão. Bruce Wayne fica órfão, e Alfred, para sua própria surpresa, é nomeado guardião legal do garoto. A partir daí a história gira em torno de Bruce vingar seus pais, já que ele desconfia que o atual prefeito seja o responsável pelo crime. Mas, diferente do Wayne que viaja ao mundo e treina com os melhores professores, o seu mestre agora é Alfred, e sua ideia de se vestir de morcego surge de uma assustadora armadura japonesa que ele avista em um mausoléu, e não necessariamente dos morcegos da mansão.

 Quando você é o cara mais rico da cidade não se deve sair falando pra todo mundo!

Colocada dessa maneira, a história é ótima. Quer dizer, colocada de qualquer jeito ela será ótima. Geoff sabe como escrever, e Gary, além de saber desenhar, dá uma visão muito cinematográfica ao trabalho, é como assistir um filme quadro a quadro. O problema foi a ambição do projeto (Ou quem sabe a minha expectativa). Eu sou muito a favor de readaptações, releituras, novas origens e etc, é sempre bom ver novas histórias, novos olhares, só que nesse projeto tudo se parece superficial e sem objetivo, apenas mudanças passageiras ou sem sentido, só pelo simples fato de ter o poder de alterar a história. Essa HQ me lembrou em algumas partes aquelas velhas realidades alternatiavs dos anos 80 e 90, onde abusavam bastante do fato da história não permanecer na linha de tempo original. Até hoje tenho uma cômica Batman x Lobo onde Bruce Wayne é irmão gêmeo do Coringa, Alfred é o comissário, Gordon é o mordomo, Tim Drake é o Asa Noturna e Dick Grayson é o Robin.

Claro que nesse trabalho Geoff Johns não chega ao absurdo disso, pelo contrário, as mudanças até são boas, mas passam longe de serem bem trabalhadas, e o pior, no final a maioria dos personagens se “renova” e volta a agir conforme o universo original. O nada motivado Jim Gordon, que se demonstra um tópico policial sujo de Gotham, ao final da HQ acaba virando o famoso Gordon que conhecemos, que acredita na justiça e na lei. O frio Alfred no fim se derrete em abraço e preocupação, muito parecido com o mordomo que estamos acostumados a ver. E o vingativo e não muito altruísta Bruce Wayne por fim acaba se tornando o bom e velho morcego. Alem disso já ser ruim por si só, a DC anunciou que vai fazer uma continuação de Earth One, dessa vez com o Charada tentando decifrar quem é o Batman, só que, se baseando no final desse primeiro capítulo, eu não vejo como a história poderá ser diferente das habituais aventuras do morcego, já que tudo parece ter voltado ao normal.

 Arco-íris.

Outro fator estranho é que falta um pouco de Dark Knight na história. É incomum ver e imaginar o Batman sem esse ar de cavaleiro das trevas, mas até ai, essa era uma das propostas da Graphic Novel. O ruim é que, como essa é a maior característica do morcego, é difícil mexer nisso e fazer um bom trabalho. É quase como um Flash sem velocidade ou Lanterna Verde sem anel (Que a DC já fez uma vez em uma realidade alternativa e virou um rapaz com um bastão mágico). Como os personagens acabaram sendo superficiais, às vezes dá a sensação que a história é de um cara qualquer buscando vingança, mas coincidentemente ele se chama Bruce Wayne e mora em Gotham City. Não parece ser uma história do Batman. Mas, fora isso, por incrível que pareça, a história é boa. Geoff Johns sabe amarrar a narrativa e te prender nela. Vale a leitura, mas não espere uma nova visão sobre o morcego ou até mesmo uma reinvenção, é apenas uma história realidade alternativa, quase que um What if….

Batman: Earth One


Batman: Earth One
Lançamento: 2012
Arte: Gary Frank
Roteiro: Geoff Johns
Número de Páginas: 145
Editora: DC Comics

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